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sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Ucrânia: o triângulo

 





   A história começa e terminará explicada numa figura geométrica como um triângulo onde se inclui: Rússia, União Europeia e a Ucrânia. Para serem tomadas medidas sobre o que se está a passar na Ucrânia já foi necessário contabilizar mais de 100 mortos até ao momento, e, isto demonstra o fraco poder e a limitação da União Europeia perante, por exemplo, uma potência como a Rússia, e surge a questão: será que a União Europeia não estará a pagar o preço de ser apenas uma potência civil?
   Foi no final de 2013 que a Rússia desbloqueou 11 mil milhões de euros com o compromisso de que o gás russo passaria a custar à Ucrânia menos de um terço do que custava, e, isto depois de se saber as condições que o FMI impôs a Kiev em troca de um empréstimo. Mas a Rússia não se ficou por aqui, investindo e comprando a grande maioria dos títulos de Governo Ucraniano, sabendo da pressão de Bruxelas em negociar com a Ucrânia a adesão à União Europeia. A finalidade da Rússia em troca é apenas uma: ter a Ucrânia na sua esfera de influência. 
   Neste momento a Ucrânia coloca-se num triângulo, onde precisa da União Europeia para as suas relações e trocas comerciais e precisa da Rússia por causa do gás e da electricidade, onde jamais a União Europeia consegue entrar em competição nos preços, sendo uma das suas grandes debilidades o facto de não conseguir ter uma política forte energética que possibilite sequer sentar-se à mesa para negociar. Esta sua debilidade (que se junta a outras como a própria debilidade de não ser uma potência militar) limita-a no poder de decisão e atrasa soluções, onde , mais uma vez, agiu tarde, e de forma incompleta, porque não se pode ficar assistir à morte de civis e não ter reacção uma imediata.
   

sábado, 15 de fevereiro de 2014

António Capucho

   







   Será que, alguém inscrito num partido político, deve poder encabeçar outra candidatura, seja ela independente ou não, adversária do seu partido, numa mesma eleição?
   Nestas eleições autárquicas que ocorreram em 2013, pode dizer-se que houveram coisas e fenómenos que surpreenderam, como, por exemplo, os que ocorreram nas cidades do Porto e de Matosinhos. Em Matosinhos, o Guilherme Pinto, desfiliu-se do partido socialista e candidatou-se como independente. E isto porquê? Obviamente que, se fizesse a candidatura contra o partido socialista ou até houvesse duas, este sairia a perder e se apoiasse (filiado no partido socialista ) outra seria provavelmente expulso. Não foi por acaso que, António Costa, na Quadratura do Círculo esta semana disse que gostaria que Guilherme Pinto voltasse ao partido socialista, porque este não afrontou ninguém, porque já estava desfiliado e livre nas suas opções e escolhas. 
   Na verdade, até houve quem achasse que o que fez António Capucho não foi correcto e violou os estatutos do partido, mas que devia ter havido uma espécie de "amnistia" (Pacheco Pereira), o que é contraproducente, porque se assim fosse haveria sempre quem viesse reclamar o mesmo tratamento e talvez nunca se chegasse a soluções iguais, mas desiguais. A questão das escolhas (muitas com as quais discordo também completamente) tem a ver com outras questões e não podem justificar outros actos como muita gente publicamente tem defendido, porque senão também deixaria de ser uma organização ou um partido e eu, por exemplo, porque não fui escolhido pelo meu partido para ser candidato na autarquia x, vou integrar outra lista e mostrar ao meu partido que conseguimos vencer, tem lógica e é admissível? É admissível se eu me desfiliar, e 90% dos casos é o que fazem e foi o que fizeram nas eleições autárquicas de 2013 e sabendo que António Capucho é uma pessoa inteligente não consigo perceber porque não seguiu essa via, podendo mais tarde certamente voltar, talvez com outras pessoas ao leme. Mas, não me parece admissível estar filiado num partido e ser adversário desse mesmo partido numa eleição. Tentando perceber o que fez António Capucho, este candidatou-se à Assembleia Municipal de Sintra noutro lista, diferente do seu partido e contra o seu próprio partido. Se assim foi, e até agora (mesmo depois do mesmo ter falado publicamente) nada foi acrescentado, seria difícil António Capucho não perceber que isso seria uma possibilidade forte, ou então porque razão outros se desfiliaram dos seus partidos para concorrerem às eleições autárquicas?
     Acho que não é por se ser fundador que se tem mais legitimidade que x ou y, isto respeitando António Capucho, e, atacar e dizer mal do partido só fica mal depois muito do que foi se dever ao partido, e, infelizmente a gratidão é esquecida de forma célere, basta já não precisarem, e, isso é que está mal também na política. Aqui, a expulsão era quase inevitável.


Caso do Meco

 






    Tudo isto é  normal ou foi apenas o "Meco"?
   Começar por perceber o significado da "praxe" é fundamental para qualquer tipo de discussão, seja-se defensor, contra ou neutro. O último debate que vi sobre este assunto foi o "prós e contras" e desculpando a linguagem: "foi de bradar aos ceús" (ver em baixo). Neste debate, os defensores preocuparam-se em defender mais as suas claques em vez de discutir o verdadeiro fundo da questão: "existem ou não as praxes violentas"? O que se pretende com este debate? Qual o verdadeiro significado e sentido da praxe? O que o Meco tem a ver com isto?
   Relativamente ao "Meco", o que sabemos? Pouco ou nada. Em termos de prova, só temos a testemunhal e essa é fraca, porque na verdade o único que pode dizer algo só o fará nas instâncias para o efeito e até ao momento não o fez na praça pública (que é o "dux"). Numa fase incial, dizia-se que houvera quem os visse com o pés amarrados, e a autopsia veio dizer que não. Na questão dos pertences, tudo foi muito esquisito e  ninguém descobriu quem foi à casa e levou de lá as coisas dos jovens. As mensagens trocadas nos dias antes da tragédia e no dia nada dizem sobre o que se passou. Nunca se soube quantas pessoas exactas estiveram lá naquela noite e como estiveram e a fazerem o quê, ou seja, sempre estavam em ritual de "praxe"? Sem perceber o que se passou com dados mais objectivos e mais fortes, o julgamento popular favorece quem não fala e quem tem se remete ao silêncio.
    No que concerne à "praxe", se alguém vos disser: "Tens andar de mão dada com um gajo pela faculdade durante a tarde toda ou dar de comer a outra pessoa de joelhos" (para o caloiro). Isto para muita gente, e mais actualmente, até é uma alegria, mas na verdade, ou se entra no espírito (modo "praxe") e se aceita estas coisas e outras, ou não se concorda e tem se liberdade para nem sequer colocar a hipótese de integrar tais práticas. Recentemente, há prova de práticas de praxes violentas, condenáveis essas e isso acho que todos concordamos, mas não será que as faculdades aqui têm a sua responsabilidade? Onde estão as faculdades? Porque estas fogem quando têm responsabilidade? Porque razão estas têm interesse em fugir destas questões? As praxes violentas existem e não vale a pena esconder esse fenómeno (e o mais grave é que não existe só no ensino superior: existindo também no ensino secundário), e se existem, porque não se tenta descobrir os seus infractores e punir? Mas para isso tem haver um consenso entre as associações académicas e universidades e até o próprio governo. As declarações na praça pública sem fundamento concreto sobre o que se passou no Meco e o ataque feroz às "praxes" não resolve o problema, apenas o agrava e excluí mais uma vez o diálogo. E o que mais choca é olhar em cima para as fotos destes 6 magníficos jovens e constatar que até ao momento nada foi discutido, e que situações destas podem voltar acontecer, porque os principais responsáveis (governo e faculdades principalmente) não se sentam e discutem o problema.
   Pena é que, quando existe um problema, erguem-se as bandeiras, abana-se a cabeça mas não se diz a solução. Se queremos uma sociedade com mais espaço para o diálogo, deve-se promover esse diálogo, e não condenar logo, porque aniquila-se logo aí qualquer possibilidade de diálogo. Se for provado que os jovens que morreram no "Meco" estavam em rituais de "praxe" e houve homicídio por negligencia, todos estamos aqui para condenar. Mas se nada se apurar em matéria criminal, talvez já esteja enterrada a possibilidade de diálogo sobre este tema e formas de o resolver e solucionar.