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domingo, 22 de dezembro de 2019

Canção de Embalar de Auschwitz






Cada vez que leio mais sobre Auschwitz mais incrédulo fico com as atrocidades de todos aqueles que faziam parte do regime. Custa acreditar. Concluída a leitura de "Canção de embalar de Auschwitz", fica a ideia de que, mesmo no escuro e na imensidão da incerteza sobre um futuro inexistente, é possível oferecer resistência à falta de humanidade do outro. Helene Hannemann, enfermeira e ariana alemã, que teve 5 filhos com um cigano, foi enviada em 1943 para Auschwitz com a família. Uma distinta e admirável mulher que conseguiu criar esperança no pior sítio do mundo, ou seja, criar uma creche no meio do terror e da morte anunciada, e nunca deixou de lutar pelo direito das crianças: das suas e dos outros. Mas as atrocidades de Mengele (médico e oficial do regime nazi em Auschwitz) são algo impossível de deixar indiferente qualquer comum dos mortais (duvido da sanidade mental) . A descrição de algumas das suas experiências são inacreditáveis, a própria forma como abria pessoas e as cozia em carne viva incomoda os olhos de um leitor normal. Faz doer a alma pensar no sofrimento provocado de livre arbítrio. Helene quando o regime começou a perder poder viu as crianças da creche ficaram sem comida, começaram a escassear os recursos e fez tudo o que podia e não podia para inverter a situação. E perante isso, propuseram que ficasse livre, mas sem filhos e marido, por serem ciganos. A mesma nunca abdicou sua luta: não os abandonarei. Morreram todos nas câmaras de gás. Incrível o que esta mulher fez para humanizar ou evidenciar (por mínima que fosse) a possibilidade de existência de humanidade em pessoas do regime nazi, em prol de um bem comum e superior: as crianças.


quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Reino Unido: lugar inóspito?





Uma vitória inquestionável, mas previsível do Partido Conservador Britânico. Uma Europa, nomeadamente Bruxelas, que não soube e ainda não sabe lidar com os novos ventos partidários, porque habituaram-se aos comodismos da política caseira, sem olhar pela janela: uma janela aberta que permitiu semear o aparecimento de discursos heróicos, inspirados em fanatismos. Mas, um dos maiores contributos para a inexistência de discurso de oposição no Reino Unido chama-se Jeremy Corbyn, líder do partido trabalhista. Eu também (sendo contra o Brexit) não quereria Jeremy Corbyn se votasse no Reino Unido. Nem no parlamento. Como é possível ninguém ter conseguido vislumbrar o vazio de oposição ao longo destes anos e a falta de carisma perante um Boris carismático e com discurso ideológico, sem deixar cair principal bandeira: saída da União Europeia. Nisso tem mérito e ignorar a vitória eleitoral seria o pior. Boris venceu porque as pessoas votaram nele. E sejamos sinceros: já toda a gente estava farta desta indecisão política. Enquanto seu principal adversário nem sim nem sopas. Só que, os britânicos estão a navegar em águas europeias ainda, pensando que os problemas existentes se resolvem com a casa mais vazia. Os britânicos acreditam que os sucessivos e permanentes ataques terroristas, por exemplo, são criados pela imigração, e Boris soube capitalizar isso (uma nota: mas resolve-se o problema actual da imigração como? Aceitam-se os médicos, os advogados, as dentistas, os engenheiros, os enfermeiros, ou seja, as pessoas que auferem bons salários e que na óptica nacionalista, criarão bom ambiente e riqueza para o país, e manda-se embora as empregadas de limpeza, os ciganos, os empregados, os lixeiros, etc? O meu livro actual de horário nobre é "Canção de Embalar de Auschwitz", de Mário Escobar. Por vezes, parece que estou algures em 1938, pelo menos em discurso. Mas depois adormeço e tudo não passa de sonho. Quero acreditar nisso).
A única certeza: a 31 de Janeiro o Reino Unido sairá da União Europeia. 

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Ódio a Greta Thunberg


Greta Thunberg


É impossível ficar indiferente a Greta Thunberg, seja pela negativa (no que ouvimos dos outros), seja pela positiva (no que ouvimos dela). Bem, acho que inqualificável ou censurável não chega para qualificar e adjectivar algumas declarações públicas proferidas acerca de Greta pelos principais líderes mundiais. Bolsonaro qualificou Gretha de "pirralha". Porque? Porque Gretha alertou, e bem, para a luta dos povos indígenas e demonstrou preocupação com o assassínio de líderes nativos no Brasil. Também Donald Trump gozou com Greta, entre outros tantos. Estas críticas são feitas a uma adolescente de 16 anos, que luta contra alterações climáticas, que é um dos maiores desafios actuais da humanidade: só. O destilar de ódio a que todos assistimos perante uma adolescente de 16 anos faz pensar como vai este mundo e os valores morais (em pleno declínio) que conseguimos alcançar ao fim de tantos anos de luta, muitos aqui já não estão. 

quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

Regime do Maior Acompanhado



Resultado de imagem para DEFICIENTE MAIS AUTONOMIA




Já passou algum tempo que entrou em vigor a lei do Regime do Maior Acompanhado, e parece que ainda existe muita falta de informação, o que é pena, porque estamos perante uma reforma civilizacional e um dos maiores avanços legislativos em Portugal. Hoje, é possível dizer que uma pessoa deficiente é igual a qualquer outra, e quantos eram os casos de familiares a pedir ao tribunal para declarar a pessoa incapaz de reger o seu património para que pudessem receber em nome delas, por exemplo, pensões e afins de natureza patrimonial. O mais perturbador é ouvir alguém de um serviço público (que tinha o dever de conhecer a lei) aconselhar uma pessoa idosa a falar com um familiar, porque terá de ser este a reger seu património, e que ela não poderá decidir nem poderá fazer nada. Isto é pouco aceitável, mas, pelos vistos, a falta de conhecimento estende-se a pessoas que têm obrigação e o dever de conhecer as alterações legislativas, sob pena de estarem aconselhar alguém erradamente, numa matéria de risco e tão sensível como esta. A lei mudou e ainda bem. Hoje, uma pessoa que se encontre impossibilitada de exercer, plena e conscientemente, os seus direitos ou cumprir seus deveres, pode requerer junto do tribunal as medidas de acompanhamento necessárias, sendo analisado caso a caso. E pode indicar quem cuidará de si se um dia precisar, o que é uma mudança radical e permite evitar situações claras de abuso por parte de familiares. Qualquer pessoa, mesmo que não tenha nenhuma doença, problema comportamental ou deficiência, pode, prevenindo uma eventual situação de acompanhamento, fazer uma espécie de declaração de vontade, que será um mandato, em qualquer cartório notarial. Há uma autonomia destas pessoas que não existia antes, daí ser grave ouvir pessoas aconselhar outras sob o regime antigo dos interditos e inabilitados. 

sábado, 30 de novembro de 2019

Extraordinário Gran Vikas





Gran Vikas é simplesmente das pessoas mais extraordinárias que existe. Desde que conheci o seu trabalho, há bastantes anos, que foi impossível não deixar de acompanhar, e, o que o mundo precisa é de pessoas que entendam as suas comunidades e procurem responder às suas necessidades, estando junto delas, ouvindo-as e envolvendo as mesmas nos processos de construção da comunidade. É incrível todo o trabalho que tem feito pela sua pobre comunidade na Índia. Impossível esquecer quando os governantes para resolver o problema das mortes em idade precoce na comunidade colocaram sanitas na comunidade e os habitantes foram beber água, porque não sabiam para o que serviam. O que para uns é simples, para outros é complexo, e vice-versa. Cada vez mais o mundo actua assim: longe das pessoas, do contacto, da proximidade. Talvez esta seja uma das razões para não resolvermos os grandes problemas da humanidade. Mas se houverem mais Gran Vikas, mais próximos estaremos da solução. Todo o seu fantástico trabalho pode ser acompanhado em https://www.gramvikas.org/.





terça-feira, 19 de novembro de 2019

Xenofobia a Jorge Jesus





São 23:00 horas, joga o Flamengo, e parece ser cada vez uma hora sagrada. Há uns tempos, quem diria que estaria diante da televisão a ver jogos do Flamengo de madrugada ou no dia a seguir, assistindo ao resumo do jogo? Tem um nome: Jorge Jesus. Ou melhor: estar num quarto de hotel, ligar para a recepção a pedir para mudar para o canal X, onde joga o Flamengo, e perceber que afinal são vários aqueles que já anteciparam o pedido. Mas será que existe o reconhecimento justo de todos os brasileiros pelo seu extraordinário trabalho ou este reconhecimento é apenas aparente (consumido pela xenofobia)?
Bem, não tinha ideia que o Brasil fosse um país tão xenofobo ou tivesse (melhor dizendo) ainda cinzas de comportamentos xenófobos, e isso é deplurável, em todos os sentidos. No último jogo do Flamengo, um jornalista chegou mesmo a tentar criticar Jorge Jesus, com questões complexas, claramente numa tentativa de rebaixar Jorge Jesus, só por não ter estudos e não ser brasileiro. Treinadores como Renato Gaúcho (Grémio), Vanderlei Luxemburgo (Vasco da Gama) ou Alberto Valentim Neto (Botafogo) deviam estar envergonhados pela forma como criticaram e rebaixaram Jorge Jesus, colega de profissão. A imprensa brasileira e alguns treinadores brasileiros que têm vindo desde do início a criticar Jorge Jesus deviam aprender que ser estrangeiro não é ser inimigo. Esse tempo pertence ao passado. O Brasil é um país magnífico, e é pena que, ainda tenhamos assistir a manifestações e comportamentos xenófobos, principalmente perante portugueses, como tem acontecido perante Jorge Jesus.
Jorge Jesus tem feito um trabalho maravilhoso. É impossível ficar indiferente ao trabalho que tem feito no Brasil. Para quem gosta de futebol, ver o flamengo jogar é um prazer. E o respeito tem ser transversal a todo o Brasil, porque a competência está lá, e quando a elevação acontece por mérito, merece o respeito de todos, sem distinção. Independentemente de tudo, Jorge Jesus saberá sempre que Portugal estará sempre a seu lado e no Brasil, cada vez serão mais aqueles que o apoiam, mesmo que ainda existam pequenos Bolsonaros entrincheirados, preparados para a qualquer momento, atacar o inimigo: o estrangeiro.



terça-feira, 12 de novembro de 2019

Magai Matiop Ngong





Aos 15 anos, Magai Matiop Ngong, no Sudão do Sul foi condenado à morte, e encontra-se aguardar a execução no corredor da morte. Chocante. O crime foi acidental. Magai disparou para o chão em detrimento de uma discussão entre um primo e um vizinho, e a bala fez ricochete e feriu mortalmente o seu primo. Em 2017, o juiz condenou-a à morte por enforcamento. Não teve direito a advogado. Só com a intervenção das Nações Unidas foi possível ter contacto com um advogado. Segundo o direito internacional e ao abrigo das leis do Sudão do Sul (por incrível que possa parecer) ninguém pode ser condenado à morte se tiver menos de 18 anos.
Não se executam crianças. Continuamos a falhar a nível internacional, a todos os níveis. Pensar, em pleno século XXI, que existem países que condenam crianças à pena de morte é perturbador. E constatar o não acesso aos seus direitos mais básicos, como ter direito a um advogado, é silenciar a dignidade humana. Que tremenda injustiça.

Espanha: PSOE e Podemos?





No fim, quem decide são as pessoas. Os eleitores espanhóis deram, mais uma vez, uma lição aos políticos: entendam.se. Parece terem chegado ao fim as maiorias absolutas no sul da europa e uma nova era de pactos e coligações exige dos políticos entendimentos patriotas. Em abril, ficou tudo bloqueado e não houve entendimentos para uma maioria parlamentar. Agora, depois de atacaram-se mutuamente, o PSOE e Podemos vão finalmente chegar a um acordo (mesmo assim, são 155 deputados contra os 176, ou seja, necessitam ainda de mais apoios) ? Isto que revela que as divergências políticas existem até ao limite da sobrevivência política. Mas acreditar neste acordo para quem conhece minimamente os dois partidos é como acreditar num num elefante andar de mota.

quinta-feira, 31 de outubro de 2019

John Bercow


John Bercow


Ainda não saiu e já deixa saudades. Faz parte de uma casta de políticos puros, que fazem sempre falta na política. O Parlamento Britânico vai silenciar-se por momentos com o desaparecimento da mítica presença e carismática voz de ordem de John Bercow. Engraçada e curiosa a forma como termina a sua carreira política deixando muitos na incerteza política sobre as suas convicções actuais. Li na imprensa britânica que até há quem o coloque mais perto do partido trabalhista. Bem, um político de direita não pode ter ideias de esquerda ou aprovar ideias de esquerda (se forem boas como John Bercow chegou a apoiar) que é logo retirado das suas origens e colocado no lado oposto. 

domingo, 27 de outubro de 2019

sobre Camarate





Quando soube da morte de Freitas do Amaral, uma das primeiras coisas em que pensei foi: perdeu-se um dos maiores opositores à falta de investigação ao caso Camarate. Faltava-me ler um dos últimos livros do mesmo sobre o caso, que já o consegui fazer para poder reforçar a estranha inércia e a rebuscada resolução criminosa (indícios da forte possibilidade de ter havido crime - que foi confirmado pela 10.º comissão de inquérito ao caso). Não deixou tudo o que sabia, mas o que deixou do que sabia sobre o caso é o essencial, que permite a todos perceber porque razão foi, em parte, afastado pela esquerda (que nunca o quis por vir da direita) e pela direita (por ter ido para a esquerda), e porque tentou ser um dos políticos mais silenciados da sociedade portuguesa. Diogo Freitas do Amaral sabia demais sobre o caso Camarate. Nunca afirmou que foi crime, nem nunca afirmou que foi acidente, mas colocou todos os indícios que o aproximava de atentado. Mas nunca percebeu porque o Ministério Público arquivou o processo sem investigar, nem porque razão o mesmo não foi a julgamento. Porque razão não investigaram José Esteve ou Lee Rodrigues (principais suspeitos de colocarem uma bomba no avião)? 
Diogo Freitas do Amaral insistiu nas informações trocadas entre a Scotland yard e as autoridades portuguesas. A polícia inglesa andava atrás de Lee Rodrigues e informou a Portugal da presença deste suspeito nos serviços de manutenção da TWA, no aeroporto de Lisboa no dia 04.12.1980 e de que se tratava de um indivíduo perigoso em armas e explosivos. Ele é detido no dia 11 (pelas autoridades inglesas) e recusa-se sempre a falar de Camarate. José Esteves tinha um passado ligado ao tráfico de armas e chegou a ser interceptado com armas e explosivos pela PJ mas nunca foi investigado. Freitas do Amaral esteve envolvido nesta troca de informações, chegando a receber telegramas do embaixador português em Londres que desapareceram. 
A 10.º comissão de inquérito (2015) referiu e concluiu que a queda do avião deveu-se a um atentado, mas isso não chega. Falta rigoroso inquérito ao desaparecimento de variados documentos e sobre correspondência oficial trocada entre vários organismos, entre eles, por exemplo, os acima referenciados, que envolveu Freitas do Amaral, e, mais grave, os que dizem respeito à exportação de material de guerra para o Irão. Muita coisa ficou por apurar.
Uma investigação que ficou por fazer. Os autores imediatos estão identificados, mas foram protegidos estranhamente por um grupo organizado, que teve um único fim. Os autores mediatos deixaram pontas soltas ao longo do tempo. Basta lembrar do duplo homicídio de José Moreira (dono do avião Cessna que transportou Sá Carneiro e Amaro da Costa) e sua mulher em 1983, a poucos dias de revelar no Parlamento tudo o que sabia sobre o caso, sendo testemunha central. Os autores mediatos (que mandaram praticar o atentado) tornaram-se intocáveis, foram peritos de uma das mais bem sucedidas resoluções criminosas (planeamento do atentado).




quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Labirinto das promessas políticas





Hoje, todos na União Europeia, não apenas os britânicos, pagam o preço da promessa eleitoral de David Cameron (referendo sobre saída União Europeia realizado em 2016). Mas, parece que a palavra "promessa" já não tem a força de 2016, quando houve o referendo. As sucessivas promessas de saída com acordo de Theresa May e agora as promessas de Boris Johnson de saída com ou sem acordo parecem poderem não passar de promessas, porque os prazos terminam e iniciam-se outros, nem chegam a ser renovados. O último avanço foi aprovação pelo parlamento britânico do princípio de acordo de Boris com Bruxelas, mas o avanço é esse mesmo: um princípio de acordo. Era previsível tal dificuldade, porque o mais importante não são esses princípios de acordo (que já deviam existir há muito), mas sim dar corpo, em termos substanciais, à saída propriamente dita, ou seja, o Reino Unido está preparado, para amanhã, sair da União Europeia? Ninguém acredita, excepto Boris Johnson.

quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Hillary Clinton





Sem dúvida, uma das piores coisas que aconteceu à América: não ter eleito Hillary Clinton. Seguramente, muitos, se fosse actualmente, depois da previsível inacção e falta de capacidade de Trump, mudariam a sua opinião e elegeriam Hillary Clinton (que um dia, daqui a muitos anos, talvez se saiba quem realmente foi o real vencedor das polémicas eleições de 2016). Uma enorme mulher, que tive o privilégio de conhecer, e que, não teve oportunidade de mostrar o grande contributo que poderia ter dado à América, porque deturparam a sua imagem e enganaram os americanos, ao passarem a imagem de uma pessoa que não era a de Hillary Clinton. Gostava e espero que se recandidate em 2020 para bem da América e do Mundo. Um mundo com Hillary Clinton na presidência dos E.U.A. será um mundo melhor. 

segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Curdos Sírios


Combatentes Curdas Sírias


Hà pouco tempo atrás, quase diariamente ouvíamos falar do Daesh, e, se, isso deixou de acontecer (pelo menos ficou suspenso), deve-se em grande parte aos curdos sírios, às unidades de protecção do povo. Basta lembrar a tão badalada conquista de Raqqa pelos curdos, que era um bastião do Daesh. Os E.U.A. apoiavam os curdos sírios na luta contra o Deash, mas recuaram nesse apoio, e decidiram retirar as suas tropas da Síria. Trump, demonstrando mais uma vez que não está preparado (e talvez nunca tenha estado) para ser Presidente dos E.U.A., justifica-se da impressionante e medíocre forma perante tal retirada: "Nós gastamos um volume absurdo de dinheiro ajudando os curdos, em termos de munição, armas, dinheiro, salários, eles atuaram sim ao lado dos Estados Unidos contra o Estado Islâmico, mas os curdos "estão lutando por sua terra". E, para falar a verdade, eles nem "nos ajudaram na Segunda Guerra Mundial, não nos ajudaram na Normandia, por exemplo". Perante o sucedido, a Turquia não esperou nem um minuto e pôs em marcha o tão desejado e planeado massacre contra os curdos sírios. Os E.U.A., nas mãos do inexperiente e medíocre presidente, tomaram esta decisão sem calcular as consequências, esquecendo que a Turquia dificilmente cumprirá uma possível promessa feita (que até ao momento ninguém sabe), como contrapartida. Este conflito entre Turquia e curdos tem décadas,e, a prisão de Abdullah Ocalan (líder do PKK preso desde 1999, que defendia criação de um estado independente curdo na Síria) não ficou esquecida e será mais uma chama para um conflito, que, dependendo da posição Russa, poderá ter dimensões terríveis. 
Cada vez mais tenho a ideia que Trump não representa a América, porque isto não é nada, isto é uma traição aos curdos sírios que dificilmente um país como os E.U.A. levava a cabo. O congresso americano não deve ter medo. A França, Reino Unido e Alemanha não podem não agir perante isto, e devem manter o apoio aos curdos, como assim foi decidido pela coligação internacional

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Oi Cavaco Silva?





Cavaco Silva, à imagem dos seus aliados políticos, veio a público criticar Rui Rio e indicar o nome de Maria Luís Albuquerque para a sucessão no PSD. Bem, Cavaco Silva deixou-nos com uma das piores imagens políticas dos últimos anos, depois de ter conseguido alguns feitos, que não chegaram para manter patamares mínimos de credibilidade política. Agora, triste não foi o resultado eleitoral, porque esse já aconteceu no passado e o mesmo não teceu tais comentários. Triste é ver alguém que foi líder do PSD a intervir, mais uma vez, com objectivos pessoais, deixando os interesses nacionais para segundo plano, e mais grave, indicar pessoas que jamais poderão ser melhores que o actual líder. Ou alguém acha (sem ser na brincadeira) que Maria Luís Albuquerque é melhor candidata a primeira-ministro do que Rui Rio? Há pessoas que não percebem que o seu tempo político terminou e que as suas intervenções são meras insignificâncias tuteladas por um tempo que já não as qualifica sequer, mas rejeita automaticamente.

terça-feira, 8 de outubro de 2019

Legislativas 2019





Viragem? Poucos dúvidas restam. Quando os votos no pequenos partidos, acrescentando os nulos e os brancos contabilizam 15%, significa que poderá ser o início de uma viragem do sistema político português. Esse número em 2002 era de 3%, e foi sempre subindo. As questões são variadas, os medos são muitos, mas uma coisa é inegável: todos lá chegaram com os votos dos portugueses, embora uns com mais liberdade de escolha e de expressão, e outros com menos liberdade de escolha e expressão. Uns com mais tempo de antena, e outros com menos. Uns com mais simpatia mediática, e outros com menos. Uns com mais ideias, outros com menos. Mas, será que depois do naufrágio à direita (sobretudo no CDS), a esquerda conseguirá a união tão desejada ou, ao invés, teremos uma retracção do Bloco e jogo estratégico do PCP perante o PS, instrumentalizando-o mas jamais sentando-se a seu lado como foi apanágio estes anos?
Quanto à esquerda, os resultados não foram surpresa, com excepção do Livre e do PAN. O PS venceu, como era esperado. A geringonça, na sua globalidade correu bem, e isso seria muito difícil de destronar. Aumentou o número de deputados, mas não conseguiu o suficiente para poder formar maioria com o PAN ou o Livre, como era sua intenção. Assim, precisará sempre do Bloco ou do PCP, ou, no limite, do PSD. 
O Bloco manteve-se. Continua a cativar o seu eleitorado em torno de uma figura carismática: Catarina Martins. E caso assim continue, dificilmente perde o seu eleitorado, a não ser quando a líder sair, um bocado à imagem do que aconteceu com Paulo Portas, no CDS. 
O PCP, à esquerda, foi aquele que teve o pior resultado, perdendo vários deputados, e revelando, mais uma vez, que a sucessão terá de ser debatida no seio dos seus, caso contrário, poderá voltar a ter mais insucessos. Não por culpa de Jerónimo de Sousa, porque foi e é um líder com carisma, mas pelo desgaste da sua imagem e de todos os que o rodeiam. A política, como dizia Ronald Reagen deve ser encarada como um cargo temporário, e não como uma carreira para a vida toda. E aí Portugal é um mau exemplo, onde tem imensas pessoas que viveram e vivem exclusivamente da política.
O PAN foi um dos vencedores da noite. Há muita gente que lida mal com o surgimento e o crescimento deste partido, mas ele foi e é bom para o sistema democrático. Ajudou a sensibilizar o país para questões pouco debatidas e mais importante - com pouco interesse em ser discutidas pelos partidos de regime - e isso tem o seu mérito. Não podemos confundir as coisas, embora existam coisas utópicas e que necessitam de trabalho, acho que a sensibilização para determinadas questões é positivo, sem radicalismos. Por exemplo, refiro-me à medida de acabar com a carne na cantina da Universidade de Coimbra. Tem haver porporcionalidade e adequação das medidas, e acima de tudo, estudo.
O Livre também foi um dos vencedores, porque conseguiu eleger um deputado. Tem ideias similares aos partidos que já existem, como o aumento do salário mínimo nacional, e centra-se muito nas questões ambientais.
No que diz respeito à direita, houve um naufrágio. No PSD, Rui Rio é uma pessoa de valor, que fez um bom trabalho no Porto e fez o trabalho possível neste momento no PSD. Teve e tem sempre lutar contra aqueles que, dentro do seu próprio partido, o querem ver dali para fora. Isso custa, porque o PSD é um ninho de gatos, onde todos têm as unhas afiadas para atirarem-se uns aos outros. O PSD, se tivesse ficado com outro líder da equipa de Passos Coelho, teria um resultado pior que o actual. Rui Rio mexeu com muitos interesses instalados, com lugares garantidos, com nomeações já pré-seleccionadas, com cadeiras destinadas, com promessas e dádivas já acordadas, e isso tem um preço, num partido completamente dividido como o PSD. Mesmo assim, não conseguiu impedir tudo, nomeadamente na escolha dos candidatos, que estes fossem em lugares elegíveis, porque a máquina acaba sempre por funcionar. Mas fez o que podia.
O CDS foi o grande derrotado da noite. Assunção Cristas esteve bem ao sair, mas esteve mal ao não perceber que isto que aconteceu era previsível, e um grande político é aquele que consegue perceber as coisas antes delas acontecerem, e ela não foi capaz. O CDS há muito que detinha um discurso inflamado, de ataque vazio à esquerda, em certos momentos, sem qualquer tipo de nexo e parece que não conseguiam vislumbrar a realidade à sua volta. Por exemplo, lembrar nas eleições europeias, o discurso de Assunção Cristas e o seu candidato, sempre no ataque, no aproveitamento político, sem tomar posição sobre temas importantes do país, revelava que as coisas já não estavam bem. E a colagem ao PSD, sempre deixando no ar possíveis acordos e candidaturas conjuntas, demonstrou e foi sinónimo de fraqueza e esgotamento político. 
O Iniciativa Liberal foi outro dos vencedores, ao eleger um deputado. Um partido que pretende ganhar o espaço do CDS, mas que duvido que apenas assim seja, pois a crescer, levará também muitos sociais democratas.
O CHEGA foi outros dos vencedores, ao eleger um deputado. Aqui há um certo medo, mas parece exagerado, porque estará sozinho. Mas, se analisarmos no seu conjunto, acho que, independentemente de, como a maioria, não me rever nas suas políticas (algumas completamente descontextualizadas da realidade e do século XXI), há coisas positivas que poderá trazer, como por exemplo, a denúncia dos vícios típicos de um sistema político tradicional sem mudanças há 40 anos, e se hoje chegam à Assembleia da República, é também pela fraca linhagem política dos partidos tradicionais, incapazes de convencer os portugueses.
A Aliança foi um dos derrotados, porque não conseguiu eleger o seu líder Santana Lopes. Acho que faltou ideias novas e transformadoras ao partido, e, acima de tudo, faltou um distanciamento do PSD nessas mesmas ideias, que não passaram para os portugueses. Santana Lopes merecia mais, e, em comparação com alguns que entraram, é injusto, porque a sua imagem política não condiz com a pessoa que é. Basta ver o que fez pelos sítios por onde passou. É de enaltecer a sua coragem, e é pena que não tenha sido eleito. Depois disto, fica difícil.





quinta-feira, 3 de outubro de 2019

Diogo Freitas do Amaral, legado de um democrata-cristão





Dificilmente existiria CDS se não existisse Diogo Freitas do Amaral. E o CDS jamais poderá negar essa evidência, e não será um minuto de silêncio a homenagem justa, porque um fundador merece mais, e mais que não seja, o respeito pela história. Hoje, se ainda existem muitas pessoas pessoas que votam CDS é graças a estes, que num determinado tempo, souberam fazer política com elevação e determinação. É ao Adelino Amaro da Costa, que foi figura ímpar na democracia, e principalmente no CDS. É graças ao Lucas Pires. É graças ao João Morais Leitão. É graças ao Adriano Moreira, entre outros. É graças a muitos autarcas, entre eles por exemplo o de Esposende, o Engenheiro Losa Faria. Sim aqueles fiéis que votam sempre no partido é graças a estes políticos referenciados, que lutavam por convicções e valores, o que foi esvanecendo com o tempo. Basta olhar para o CDS actual, que não tem a capacidade de chegar às pessoas, não existe ligação com o eleitorado, esses eleitores que estão a desaparecer, acompanhados pelo desaparecimento das suas figuras históricas. E essa falta de capacidade de chegar até às pessoas ilustra bem a pouca ligação à história, e talvez isso resulte na provável pobre homenagem a alguém que merecia uma grande homenagem, pelo que fez e ajudou a fazer.
Será recordado como um independente, mais um dos poucos que restam e restavam e tanta falta faz a uma democracia. Um dia perguntei a António Lobo Xavier se tinha pago o preço pela sua opinião independente e o mesmo referiu que nunca sentiu isso. Mas, nunca tendo perguntado o mesmo a Freitas do Amaral, acho e tenho a ideia que este pagou esse preço, infelizmente. 
Era um dos que restava (depois da ida de Sá Carneiro, Cunhal e Mário Soares), um pai da democracia portuguesa, que perdera o último que liderou o projecto político após revolução dos cravos, aliado ao inegável e inestimável contributo académico que deixou na área do Direito, onde foi um distinto, que poderia ter tido outro percurso, não tivesse pago o preço da sua independência.
Fica o legado de um puro democrata-cristão.


quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Ataque injustificado aos Juízes






Em Portugal, existem 4 órgaos de soberania, sendo um deles os Tribunais. Os restantes são o Presidente da República, a Assembleia da República e o Governo. Destes todos, até agora, só ouvimos falar e discutir os tribunais, mais especificamente, o salários dos juízes, como se estes fossem culpados de algo. Ultimamente, tem existido e alastrado um discurso perigoso sobre os salários dos juízes, que já não é de hoje. O último a falar foi o PSD, comparando inclusive um estagiário juiz a um professor com muitos anos de carreira. 
Bem, não podia ter sido dado pior exemplo (e surpreende até de quem proferiu tal afirmação), porque não se compara um juiz a um professor. São profissões distintas e carreiras distintas, e, muito menos se compara um estagiário juiz a um professor com anos de carreira. Primeiro, um juiz estagiário é comparado a juiz de anos de carreira e não a um professor, e, mesmo que assim quisessem comparar, nunca devia ser para cortar no juiz estagiário mas sim em subir o professor de anos de carreira. Mas é a mentalidade. Em segundo, um juiz pode e deve ganhar mais que um primeiro ministro, e todos (desde dos estagiários aos de topo) deviam ganhar mais que qualquer político em exercício de funções (talvez aqui aceitasse a excepção dos que estivessem a exercer funções governativas - destes ganharem tanto como certos juízes mas nunca à contrario). Em terceiro, o grau de responsabilidade de um juiz é de tal forma elevado, que pode colocar em risco a democracia de um país, se não forem acautelados os seus interesses de uma forma séria e justa, e jamais um juiz pode ganhar menos do que os salários actuais. Seria um perigo para a democracia. Talvez aqueles (que são políticos na maioria) que criticam os salários dos juízes, devessem olhar antes para, por exemplo, os salários dos assessores políticos, os salários dos chefes de gabinetes e os salários dos demais cargos políticos inventados pelos mesmos, que na maioria dos casos são um exagero e completamente desproporcionais às funções exercidas e seus graus de responsabilidade. Quantos assessores políticos estão, por exemplo, por essas casas políticas do país a ganhar 2.500 euros líquidos sem saber ler e escrever? Que auferem tal vencimento tendo como responsabilidades um conjunto de "não responsabilidades" ou um vazio intelectual? E perante isso, estão preocupados com os salários dos juízes?
Por vezes, parece uma brincadeira ou uma ilusão de pura fantasia que se ouviu algures num imbondeiro.



quarta-feira, 11 de setembro de 2019

11 de Setembro de 2001





Passaram 18 anos sobre o terrível e tenebroso 11 de Setembro. A maldade não teve limites. Talvez o tempo faça apagar da memória de muitos, mas será impossível apagar da memória daqueles que recordam, que têm memória e que um dia viram na televisão uns aviões a embater nas famosas torres gémeas, nos E.U.A. O mundo deixou de ser o mesmo. Há uns 5 anos atrás, ainda era notícia e recordavam-se os atentados terroristas de 11 de Setembro, essencialmente por respeito a todas as suas vítimas. Mas, mesmo que assim não fosse, faz parte da história. Houveram milhares de mortos em detrimento desse atentado e posteriormente, quando os E.U.A. invadiram o Iraque e Afeganistão. Ainda recentemente assisti a uma conferência de Marcus Luttrell (ex. SEAL), o único sobrevivente da operação Red Wings, que ocorreu durante a guerra no Afeganistão em 2005, onde houveram 16 baixas, onde pedia que não se esqueça todos aqueles que lutaram pelo país contra o terrorismo. Não é bom olvidar o 11 de Setembro de 2001, porque ele estará para sempre nas nossas memórias e porque foram milhares aqueles que perderam as suas vidas ali e além - na luta contra este terrorismo.


quinta-feira, 5 de setembro de 2019

Ficção Britânica





Há uns tempos, li: "O Brexit está a destruir a democracia Britânica". O modelo parlamentar britânico foi, em tempos, uma referência das democracias modernas. Actualmente, posto em causa, voltou a respirar um pouco de alívio, mas apenas isso: um suspiro. O simbolismo da Magna Carta é, mais que ontem, tão vivo como necessário, para avocar a si a importância da limitação de poder e do respeito pela lei. No passado, eram os "barões" a exigir ao rei aceitar o documento "artigo dos barões", onde imponham limites ao poder real, mais tarde a conhecida Magna Carta. Hoje, a própria vitalidade democrática britânica, automaticamente limita o poder governativo?. Boris Johnson achava que poderia alcançar o poder absoluto através da manipulação política, mas esqueceu-se de controlar, primeiramente, o seu próprio partido. A passagem de Philllip Lee para a bancada dos democratas liberais pode ser apenas a primeira janela abrir-se de um quarto em pantanas, onde o mesmo tece duras críticas : "Está a pôr a vida das pessoas em risco de forma desnecessária e está a tentar obter um Brexit prejudicial sem princípios". Pena é que o líder do partido trabalhista, Corbyn tenha demonstrado não ser o líder que o partido trabalhista necessita, não tendo convencido ninguém e pouca esperança os cidadãos britânicos têm em si, e isso tem contribuindo para a fraca oposição, que já poderia ter feito muito mais e ter outras vitórias. Veja-se que numa das reuniões entre os líderes da oposição, uma das soluções possíveis seria a formação de um parlamento alternativo, o que é completamente descabido. Mas, não parece que Boris Johnson vá abdicar de continuar a fazer uso de todos os expedientes legais e dilatórios para não debater o Brexit, e tentar uma saída da União Europeia sem acordo. O grande problema será sempre o referendo de 2016, que foi decisão dos britânicos, ao invés, seria possível revogar tal lei e evitar a saída. Será sempre o jogo do rato e do gato, em que mesmo que, de um lado legislem para obrigar o governo a estender o prazo, por exemplo, do outro lado o governo poderá sempre travar posteriormente as obrigações perante a U.E. O cenário de eleições antecipadas é perigoso, e pode reforçar ainda mais Boris Johnson, que jogará com a vontade popular expressa no referendo e o travão parlamentar. 
Esperemos que, acima de tudo, ninguém cale as vozes em democracia, porque isso significa calar e silenciar o Reino Unido. 

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Exposição ou abandono de crianças





Bem, talvez seja coincidência minha ou não, mas tenho ficado parvo com a quantidade de pais ou familiares que colocam em perigo a vida de crianças, deixando-as dentro dos carros, por vezes, em bermas das estradas ou até em parques de estacionamentos, onde facilmente podem ser raptadas. Talvez por desconhecimento legal, antes ético e moral, o façam sem qualquer consciência do perigo e da situação indefesa em que colocam tais crianças. Deviam saber que quando têm crianças têm o dever de vigiar as mesmas e não expor estas a situações de perigo, como são aquelas em que deixam crianças sozinhas dentro dos carros. É um crime de exposição e abandono punido com pena de prisão até 5 anos, mas é primeiramente um crime moral, porque de acordo com as regras de boa conduta, ninguém deve deixar as crianças dentro dos carros, sem estarem acompanhadas, ou seja, sozinhas.
Quero acreditar que seja coincidência, mas já são demais os casos que visualizo tal disparate moral e criminal.


terça-feira, 20 de agosto de 2019

Alexandre Soares dos Santos, um exemplo.





Foi uma personalidade ímpar, não por ser um dos homens mais ricos (que aí existem muitos), mas por tudo o que foi e construiu, e por aquilo também que lutou para que fosse diferente para melhor, mas que não conseguiu. Hoje, todos choram a sua morte, inclusive aqueles que não o podiam ver (o mundo está assim), mas o que importa é o legado da pessoa, e aí distinguiu-se e nunca deixou de dizer aquilo que pensava. Não foi por acaso que apenas em 2017, depois de tudo o que fez pelo país, é que recebeu a condecoração das mãos de Marcelo Rebelo de Sousa. É irónico quando temos um país cheio de condecorados - alguns que já chegaram afirmar que nem sabem como receberam a medalha - os melhores não o serem a tempo. Bastou-me estar na presença deste senhor uma vez para perceber que estava perante alguém com uma capacidade e talento empresarial forte e diferenciador, e com um carácter individual de eleição, que soube aliar o compromisso empresarial à responsabilidade social de um forma sublime, com distinção. Acompanho algumas das suas obras sociais, desde da Fundação Francisco Manuel dos Santos, passando pelo projecto Semear ao Arco Maior, no Porto, dirigida tão bem pelo professor Joaquim Azevedo da Universidade Católica, onde ajudam a retirar crianças da rua e a conseguir com que estas prossigam os estudos com êxito, com algumas semelhanças com o projecto "Porto de Futuro" em que estive envolvido em 2008, que ajuda também crianças sinalizadas a estudar e não abandonar a escola. A sua intervenção cívica era limitada aqueles que o ouviam (eu era um deles), simplesmente porque dizia o que pensava, e são muito poucos aqueles que dizem o que pensam em Portugal. Um dos temas que o preocupava ultimamente era o distanciamento das populações (pessoas) face aos problemas do país, sendo sem dúvida algo que merece uma reflexão profunda na sociedade.
Foi um servidor da comunidade, e isso para além de ser papel de qualquer cristão, é também papel de alguém com grande carácter.

quarta-feira, 7 de agosto de 2019

E.U.A. - Pena de Morte!






Jamais será um tema consensual. Donald Trump fez regressar a pena de morte a nível federal (já sendo uma prática de vários estados, como por exemplo, no famoso estado do Texas), depois de um hiato temporal de 16 anos. E já existem execuções marcadas para Dezembro. O que pensar sobre isto?
À primeira vista, numa análise informal, rejeitamos qualquer aplicação de pena capital. Um dos argumentos de defesa de quem rejeita tal pena capital é impedir o regresso da lei de talião (olho por olho, dente por dente), de modo a evitar as condenações com base na vingança, e não na recuperação do indivíduo. Mas aqui é que está o cerne da questão: há ou não uma aposta dos estados nessa recuperação do indivíduo (prevenção especial), de forma a evitar a prática de mais crimes no futuro e com objectivo de reintegrá-lo na sociedade, a chamada ressocialização? Os estudos efectuados na maioria dos países tendem a reagir negativamente, demonstrando que ainda são poucos os avanços nesse aspecto, e que, a ressocialização anda como o caracol, devagar e devagarinho. Em Portugal, são cada vez mais os presos a estudarem e trabalharem nas prisões, mas ainda estamos longe de serem a maioria. E quando chegamos à parte da liberdade condicional do recluso, aqui os números são muito negativos, e levam a que muitos juízes (quando pedidos são efectuados pelo recluso) nem sequer pensem duas vezes na sua rejeição. Mas é sempre difícil comparar a aplicação de pena de morte entre países, devido aos níveis de criminalidade e a muitos outros factores, alguns mesmo vergonhosos, como o caso das Filipinas ou Coreia do Norte, onde a mesma é instrumentalizada pelo poder político.
Hoje, cerca de 170 dos 193 países que integram a ONU já aboliram a pena de morte, não esquecendo que a China continua a ser o país onde há mais aplicação da pena de morte, mas como o Governo não divulga os dados, não existem dados oficiais. Ao lado da China, estão países como o Irão, Paquistão, Iraque, Arábia Saudita, E.U.A, Filipinas, Bielorrússia, Gana, Japão, Malásia, Afeganistão, Egipto, Tailândia, Taiwan, Vietname, Sudão, Sudão do Sul, Botsuana, Somália, Singapura, Coreia do Norte.
Não podemos esquecer que em determinados países esta pena capital atinge os mais pobres e apenas determinadas etnias. Noura Hussein, uma jovem sudanesa, foi condenada à morte, em maio de 2018, por ter matado o homem com quem foi forçada a casar quando este tentou violá-la. Após uma onde de indignação generalizada a nível global, a sentença foi alterada e passou para 5 anos de prisão.  Noura Hussein disse: “Fiquei em absoluto choque, quando o juiz me disse que tinha sido condenada à morte. Não fiz nada para merecer morrer. Não podia acreditar no nível de injustiça, especialmente para as mulheres. Nunca imaginei ser executada antes desse momento. A primeira coisa que me veio à cabeça foi ‘Como é que as pessoas se sentem quando são executadas? O que fazem?’. O meu caso foi especialmente difícil porque, na altura da condenação, a minha família renegou-me. Estava sozinha, a lidar com o choque.” Também convém lembrar o caso recente do brasileiro Rodrigo Gularte condenado à morte na Indonésia por tráfico de droga (factos praticados em 2004, quando tentou entrar no país com cocaína dentro de 8 pranchas de surf). Cheguei acompanhar este caso através da cena internacional, e chocou a forma como as autoridades indonésias trataram o Rodrigo. O governo brasileiro tentou de tudo, mas a Indonésia não cedeu e foi executado (por fuzilamento) em 2015. Nem o pedido de transferência para o hospital psiquiátrico foi aceite no decorrer do seu processo, alegando que os especialistas estavam comprados pela defesa. Este processo teve acontecimentos irreais, de um verdadeiro país de quinto mundo.
Há cerca de 5 anos atrás, estive com um juiz norte-americano que já tinha aplicado três ou quatro penas de morte. Falamos sobre o assunto, disse que era tendencialmente contra na maioria dos países, porque entendia que era um instrumento político em muitos países. O mesmo disse o que faria no seguinte caso: " um homem vai a um apartamento onde decorre uma festa de 18 anos de uma rapariga, e esfaqueia 3 raparigas. Depois disso desloca-se para fora do apartamento e tendo visto as 3 jovens ensanguentadas a pedir socorro no meio da estrada, vai buscar o carro e atropela as mesmas, passando várias vezes por cima dos seus corpos, certificando que estariam mortas". Depois disto, disse não me chocava a pena de morte ao caso concreto, mas a prisão perpetua sem possibilidade de qualquer tipo de liberdade, ou seja, apodrecer na prisão (se for a trabalhar para o país melhor), seria uma pena com outro alcance, não podendo afirmar que seria mais ou menos justa.
Infelizmente, na maioria dos países onde existe pena de morte, são constantes as violações dos direitos humanos, a corrupção é uma epidemia e a pena é instrumentalizada pelo poder político. Ou seja, mesmo que no limite, e olhando para todo o panorama judicial de um determinado país, se entendesse que a pena de morte poderia ser aplicada a casos extremos, que envolvesse, por exemplo mortes com um grau de violência substancialmente elevado, isso não seria possível aplicar num país que não tivesse uma democracia estável, que assegure direitos aos cidadãos, que é o caso da maioria dos países onde é praticada a pena de morte.






domingo, 16 de junho de 2019

Sobre 10.06.19





Hoje, o discurso de João Miguel Tavares ainda faz correr tinta. Foi um bom discurso, talvez um pouco mais arrojado que os normais e enfadonhos discursos do tradicional 10 de Junho. Mas não passou disso. E devia servir de exemplo para a democracia, de alguém que ali vai e profere um discurso. Algumas das reacções (até além fronteiras) são apocalípticas, e revelam que ainda estamos longe de aceitarmos bem qualquer tipo de discurso.

domingo, 26 de maio de 2019

Eleições Europeias: Abstenção 70%.




O que dizer das Eleições Europeias em Portugal? Amanhã já ninguém se lembra. Foi talvez das eleições mais pobres intelectualmente a que assisti. A abstenção de 70% representa bem que os políticos continuam a viver isolados das pessoas, sem conseguir cativar os seus concidadãos. Só a Bulgária ou a Eslovénia conseguem ter níveis semelhantes. Como é possível haver campanha para as eleições europeias sem se debaterem temas europeus? Foi possível em Portugal. Uma campanha miserável, que no limite pode ser considerada como uma falta de respeito para com os portugueses.
Em 1975, após anos de ditadura, a abstenção era de aproximadamente 7%. Hoje é de 70%. A diferença está nas pessoas, nos políticos. 

sábado, 18 de maio de 2019

Nasrin Sotoudeh

Nasrin Sotoudeh


Nasrin Sotoudeh, detida em Junho de 2018, foi recentemente condenada a 38 anos de prisão e 148 chicotadas no Irão por defender as mulheres e ter protestado contra as leis que obrigam o uso do véu em público. O Parlamento Europeu já tinha atribuído o prémio Shakarov a Nasrin pela sua luta em defesa dos direitos humanos, mas infelizmente isso não chega nem chegou. Cheguei acompanhar o seu trabalho junto das minorias, e o que esta advogada tem feito no seu país em defesa das mulheres e das minorias é algo fantástico e merece o apoio de todos, principalmente neste momento em que foi condenada, num acto egoísta e de pura intenção de silenciar uma das vozes mais activas e mais eficazes na luta dos direitos das mulheres, que tanta falta faz no Irão.
Nasrin esteve muito tempo sem conseguir exercer advocacia, mas quando conseguiu, foi defender jovens condenados à morte, em mais um gesto assinalável. Ontem, lutava pela liberdade dos outros. Hoje, em detrimento disso, luta pela sua própria liberdade, e em sofrimento. 
Quem puder assinar a petição "Liberdade para Nasrin Sotoudeh" deve fazê-lo (https://www.amnistia.pt/peticao/liberdade-para-nasrin-sotoudeh/), porque Nasrin Sotoudeh é a voz das mulheres no Irão, e, a sua luta jamais deve acabar. 

Ultraje José Berardo





Depois de assistir à inquirição parlamentar do Sr. Comendador Berardo, só pensei: "como é que não houve nenhum deputado que impedisse com voto de protesto a continuidade desta audição"? Mas, há que assumir que este senhor foi sincero na parte em que disse que não é parvo e que quem lhe atribuíu crédito é que não o deveria ter feito. Verdade. Só que temos que distinguir o comportamento indigno prestado nesta comissão e insultuoso a todos os cidadãos portugueses das afirmações proferidas sobre a C.G.D., que em alguns pontos, foram muito graves. Uma das suas melhores afirmações: "Os bancos é que vieram oferecer dinheiro para comprar acções". Gostava de ver esses documentos que o mesmo afirma possuir onde os bancos propõem esse investimento, que, a ser verdade, é de uma gravidade inqualificável. Porque é que a C.G.D nunca pediu garantias? É curioso.  É que no meio de todos os comportamento indignos, há coisas que foram ditas muito graves e que que têm ser analisadas, porque, no que respeita ao bancos, tudo se diz, mas nada se apura. Porque será? 
A investigação da revista Sábado do período semanal de 9 a 15 de Maio de 2019 explica em parte onde andam os milhões concedidos pela C.G.D. e de tantos outros bancos, e, porque perante tudo isso, poucas ou nenhumas são as acusações e condenações.



domingo, 5 de maio de 2019

Hoje, os professores. E amanhã?


BE, PCP, CDS E PSD 


Depois da anunciada reposição da contagem integral do tempo de serviço congelado aos professores (proposta conjunta com votos PSD, CDS, BE E PCP), o Ministro da Defesa já veio a público defender a possibilidade da reposição do tempo de serviço aos militares. 
Quem assiste de fora a tudo isto, quase fica sem palavras, não pelo assunto em si, mas pela forma como este foi, é e continua a ser tratado por todos os intervenientes políticos. Tudo começa com uma votação na especialidade, em que BE e PCP se aliam ao CDS e PSD para à sucapa ver se conseguiam agradar a uma parte do seu eleitorado. Revelaram que nem para moletas servem. E que só enganam quem quer ser enganado. O PSD e o CDS (ao votar desta forma) revelaram incoerência o que defenderam no passado, e, mais grave, juntaram-se ao BE e PCP, que eles sempre criticaram quando defendiam essa contagem de reposição do tempo integral dos professores. 
No meio disto, António Costa conseguiu também contribuir para as fracas prestações, ameaçando com a demissão caso a proposta seja aprovada em votação final global. Esta dramatização em nada favorece o clima instalado, apenas aumenta a incerteza, e, se for jogada política, alguém acabará por recuar, e aí serão tiradas ilações.
Cada vez mais é um problema de qualidade política o que enfrentamos. Um país que já teve nomes como Adelino Amaro da Costa, Sá Carneiro ou Álvaro Cunhal, entre tantos outros que engrandeceram a política portuguesa.

segunda-feira, 29 de abril de 2019

Eleições em Espanha


Santiago Abascal - Líder VOX


As eleições legislativas em Espanha foram, mais uma vez, um aviso à Europa. Foram as eleições legislativas mais participadas da história da democracia de Espanha, que é de louvar. Não houve surpresas na eleição de Pedro Sánchez, que era uma eleição aguardada, que obrigará a uma coligação com os partidos de esquerda. A grande surpresa da noite foi o VOX (partido de extrema direita como a Espanha designa - que tenho as minhas dúvidas em qualificar como tal) ter conseguido eleger 24 deputados para o parlamento. Entrou no eleitorado do PP, que perdeu metade dos deputados. E a pergunta surge: porquê? Porque os políticos actuais não encontram soluções para os problemas actuais, e, o discurso de afastamento e próximo de radicalismo é a lufada de ar fresco para muitas classes sociais. A Europa continua sem conseguir resolver os seus problemas (que são mais políticos que financeiros), como por exemplo, a crise dos migrantes, e isso gera que discursos anti-imigração entrem em qualquer eleitorado sem necessidade de qualquer base de sustentação, a não ser a falta de acção de uma Europa perdida no meio de um imbondeiro. 

terça-feira, 23 de abril de 2019

Perseguição aos Cristãos





Os recentes ataques no Sri Lanka colocam a nu um problema sério: a perseguição aos cristãos. Embora a escolha do local tenha também sido relacionada com o facto de lá viverem milhares de pessoas da etnia Tamil. A questão: é o fim do Daesh? Porquê o Cristianismo? Porquê o dia de Páscoa? Todos recordam o fim da Al-Qaeda (uma espécie de resistência extremista à invasão norte-americana do Iraque)? Foi o fim da Al-Qaeda que deu início ao Daesh no ano 2007, com maior parte seus membros a transitarem para este novo grupo terrorista. E agora, com o anunciado fim do Daesh, o que virá a seguir? E o que aconteceu aos membros do Daesh que deixaram a Síria? Se nada for feito a nível internacional para identificar e perceber o destino dos membros do Estado do Califado Islâmico (Daesh), os problemas não irão desaparecer e ataques como estes do Sri Lanka podem voltar a acontecer. 
Mas, nada foi por acaso, nem foi uma simples retaliação (como a comunicação social anunciou) dos atentados na Nova Zelândia às mesquitas. Os cristãos sempre foram o alvo e são a religião mais perseguida actualmente. Na Síria os cristãos foram brutalmente perseguidos e mortos por este grupo, sem qualquer piedade. Os massacres foram constantes, e estas perseguições aos cristãos é pouco aceitável, e a falta de acção dos governos e da própria ONU em situações de emergência gerou um "costume" que tem de ter um fim. Que seja a bem.



segunda-feira, 8 de abril de 2019

Importância das palavras de Marcelo


Marcelo Rebelo de Sousa


Num momento em que quase toda a gente já falou sobre o nepotismo, salvam-se as palavras do Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa. Tirando Marcelo (que foi incisivo e pragmático), houve um pouco de tudo, no ataque público político, que pouco ou nada ajudou a melhorar o vazio legal. Até Cavaco Silva veio falar, quando estava tão bem calado. Decide intervir quase sempre quando não deve, e mesmo quando o faz, pouca coisa acrescenta ao debate público. Qualquer intervenção sua é crispada, soa a ataque e a acerto de contas com questões passadas. 
Todos negaram a possibilidade de uma solução legal, justificando que se trata de uma questão ética. Mas se houvesse ética, não havia este excesso de relações familiares nos sucessivos governos. Já todos os portugueses perceberam que não vai lá com uma melhor "ética política", nem com auto-regulação e códigos de conduta, mas sim com um diploma legal. A solução aplicada em França é razoável e equilibrada, e trouxe mais transparência à sociedade política francesa. É curioso ter sido apenas Marcelo o único a defender tal solução. É curioso, só isso. Daí a importância de termos Marcelo Rebelo de Sousa. O anterior já tinha metido os pés pelas mãos (como o fez agora numa intervenção completamente desnecessária) e jamais defendia tal solução. 

segunda-feira, 1 de abril de 2019

Acesso ao poder por via social






Cada vez mais Portugal é uma país onde as oligarquias proliferam e estão em pleno desenvolvimento, afectando de forma severa e permanente o acesso ao poder de todos aqueles que não sejam oligarcas, que não pertençam a grupos de poder, os designados grupos privilegiados, que estão directamente relacionados com o poder económico, político e social. O contexto, desde a crise de 2008, favoreceu o desenvolvimento e o nascimento de variados oligarcas, sem qualquer exigência ou rigor na sua selecção. Havia um dirigente político que falava constantemente no "elevador social" e na sua importância em democracia. As recentes ligações familiares governativas são um exemplo para perceber a criação destes circuitos fechados. A banalização e a normalidade com que os próprios protagonistas lidam com tais situações é preocupante. As oligarquias políticas já são um "costume" no nosso país, em que os políticos trabalham em detrimento de certos interesses e grupos, excluindo outros. E assumem-se, privilegiando os seus em detrimento dos demais. Só que, o problema escondido no meio de todos estes pequenos grupos políticos e económicos, é o problema social, das oligarquias sociais, que tendem a colocar os seus em lugares de reconhecimento público ou com acesso ao poder central ou local. As oligarquias sociais (pessoas pertencentes a famílias com grande poder económico - apenas económico) estão a suceder-se e a reservar e avocar para si mesmo o acesso ao poder. Existem sinais na sociedade dessa implementação e desse crescimento, nomeadamente através do uso do poder público, e da finalidade na sua instrumentalização para atingir objectivos e interesses pessoais. As oligarquias políticas estão a estreitar essas ligações com as oligarquias sociais, e, se há muito anos atrás, o filho do carpinteiro e o filho da operária fabril em Portugal (sem ferir susceptibilidade, apenas exemplos) poderiam ter uma estrada para aceder um dia ao poder, isso está aos poucos a esvanecer-se, e, afecta todo o sistema democrático, que vai apodrecendo alimentando-se destes barris quase vazios de tudo e cheios de quase nada. 

Retrato dos Tempos

Maus-Tratos

   Quando pensamos que a mentalidade deslizou e racionalizou-se, afinal ainda não chegou a todos. A denúncia é o que dispomos, ainda que longe da eficácia pretendida, merece o aplauso e deve ser o nosso modo de agir perante situações de maus-tratos a animais. Mais uma caso para: defesanimal@psp.pt

quarta-feira, 27 de março de 2019

Nepotismo sem reservas







Recentemente, no Irão, o genro do presidente foi afastado do Governo após acusações de nepotismo (favorecimento de uma pessoa em função do seu parentesco). O caso teve um impacto fortíssimo nas redes sociais, com uma campanha iniciada em 2017 #bons genes, numa referência às declarações proferidas por um filho de um político reformador, que tinha atribuído o seu sucesso nos negócios e na política aos bons genes que teria recebido dos seus pais. 
Em França, o parlamento francês aprovou a proibição de contratação de familiares de deputados e ministros, interditando os empregos para a "família próxima", com pena de prisão até 3 anos e multa de 45 mil euros para quem não cumprir. Se contratar outra pessoa de um circular familiar mais afastado, há uma obrigação de declaração, nomeadamente no caso de emprego cruzado: empregar um colaborador que seja familiar de outro ministro ou outro eleito. 
Um exemplo fora da Europa e outro cá dentro da Europa. O nepotismo sempre existiu e existe em Portugal. E nos dias de hoje, atingiu elevada mediatização devido ao seu descaramento sem reservas por parte dos seus intervenientes. O nepotismo dentro das nossas fronteiras explica, em parte, a dificuldade de evoluirmos em diversos sectores, e, realizarmos as necessárias reformas. A utilização abusiva de diversos titulares de orgãos do Estado para colocar pessoas por favor familiar e não profissional é uma epidemia que talvez apenas possa mudar com medidas como, por exemplo, a implementada em França (ir mais além, estendendo a toda administração pública, com excepções comprovadas de mérito profissional). Na França, proibiram (e bem) a contratação de familiares de deputados e ministros, mas deviam ir mais além, porque o problema estende-se a toda administração pública. Se esta medida fosse implementada em Portugal, teríamos uma limpeza governamental e muitos deputados teriam de abandonar a Assembleia da República, porque são imensas as ligações familiares entre políticos no nosso país, e estende-se a todos os partidos. E os picos desta epidemia estão não apenas no poder central, mas também local, onde se enquadram, por exemplo as autarquias locais e diversas instituições públicas. As autarquias locais (merece outra reflexão à parte) praticam o nepotismo em todo o seu poder estendido e implementado, ou seja, maioria colocam as pessoas por favor (não por mérito profissional), e estendem esses favores a todas as ligações estabelecidas no município, promovendo essas pessoas, em detrimento da promoção do interesse próprio das populações (que deveria ser ter os melhores pelo mérito profissional e não os piores por razões de parentesco). Estas práticas de nepotismo acabam já de forma natural por afastar as pessoas mais capacitadas para estes órgãos, promovendo a estagnação da sociedade, ao invés da sua evolução. 
Não pensei que o Xiismo fosse ter de ser um exemplo para Portugal, mas ainda não vi em Portugal nenhuma medida contra o nepotismo como a tomada no Irão em 2018. Começar por combater o nepotismo seria olhar para a França e seguir o seu exemplo. Mas, com a quantidade de políticos no ativo colocados e empregues por razões de parentesco (nomeadamente deputados e membros de governo - que são aqueles que directamente podem mudar algo), e pelos interesses instalados e cruzados implementados, duvido - actualmente - da vontade em proibir ou combater tais práticas e da sua eficácia.

terça-feira, 26 de março de 2019

Ennio Morricone


Ennio Morricone

Aos 90 anos, é uma força viva entre nós. Despede-se do palco com a "60 Years of Music World Tour", e estará em Lisboa no dia 06 de Maio. No ano passado, estava a tentar ver locais onde iria actuar fora de Portugal para poder assistir ao seu concerto, e, surpreendentemente, vem a Portugal. Caso para dizer: simplesmente fantástico :)



Educação: formar pela incompetência!





Não quero acreditar no que li, nem sequer em tal hipótese: "alunos do ensino profissional vão poder ingressar no ensino superior sem exames nacionais"? A ideia é que quem termine o ensino secundário através do curso profissional tenha uma forma de acesso diferente, definida pela instituição. E pretendem que entre em vigor já no próximo ano lectivo. Este Ministro da Ciência e Tecnologia foi o mesmo pretendeu atribuir mestrados a todos aqueles que eram anteriores ao regime de Bolonha. Esta medida (e desculpem o populismo) é uma vergonha, mas o mais grave na medida está no facto de ser a instituição a definir os critérios para o aluno entrar no ensino superior (já que não terá os exames nacionais). Portugal aprende ou aprendeu algo com o passado? Nada. Tivemos casos gravíssimos de universidades que atribuíram licenciaturas a pessoas sem estas terem efectuado as cadeiras suficientes ao abrigo de critérios implementados pelas próprias, e este Ministro quer atribuir às instituições que vão ministrar os cursos profissionais que sejam estas a definir os critérios, numa porta aberta para um regresso ao passado. Esta ideia de facilitar o acesso ao ensino superior pela via da incompetência e pela falta de estudo é, infelizmente uma prática que acontece ao longo dos anos (com algumas interrupções - mudanças de governos), e, só desprestigia o país. 
Quando vemos que o país tem muita gente formada em universidades (algumas feitas à medida) pouco ou nada prestigiadas (sem exigência e rigor), já com regimes suficientes (com várias opções) excepcionais para quem pretende estudar mais tarde, ou até ingressar no ano zero (para depois ter acesso logo ao primeiro ano sem fazer, por exemplo, exames nacionais), agora os objectivos passam por arranjar ainda mais formas e alternativas ao modelo normal de acesso ao ensino superior. 
Em Portugal, não se resolvem problemas, adensam-se os mesmos. Há pouco, um vencedor do prémio Nobel afirmava: "como é possível um país como Portugal com tão poucos licenciados não os conseguir colocar no mercado de trabalho? Alguma coisa de grave se passa". Isto é que deveria ser alvo de reflexão, mas dá mais trabalho. Há muito que este é um dos maiores problemas do país: a economia não acompanha as pessoas que se formam e os sucessivos governos pouco ou nada têm feito relativamente a isso. Os debates juntos das universidades são fundamentais e a procura de soluções em conjunto com empresas e todos intervenientes no processo de selecção dos licenciados é crucial para inverter rumo das coisas. 
Somos o país das psicólogas a trabalhar em caixas de supermercados; das licenciadas em acção social a trabalhar nas limpezas; etc, e continuamos a querer formar pessoas em catadupa sem olhar para o principal problema: a sua colocação no mercado de trabalho. Existem universidades que estão ao nível do lixo no mercado de trabalho, e gostaria de saber se continuar a permitir aumentar o número de licenciados nessas faculdades vai ser benéfico para o país. 
Esta medida é igual às novas oportunidades, com uma diferença: aqui está a porta aberta para o ensino superior sem qualquer exigência e rigor. Esta medida é um perigo e um péssimo sinal à sociedade.
Se não fosse verdade, diria que seria uma brincadeira uma medida desta pobreza intelectual.


segunda-feira, 18 de março de 2019

Fim do Sérgio do Fojo


Sérgio do Fojo



Foi com surpresa que todos aqueles que, por proximidade, por natalidade, ou por qualquer outra razão de ligação ao local, ficaram ao saber da morte do Sérgio do Fojo. Foram muitas as vezes que surgia aquela questão : "são 3 da manhã, onde é que vamos agora beber um copo?". E aí lá surgia aquela voz no meio da multidão: "Vamos ao Fojo". E era impossível não ser bem recebido pelo amigo Sérgio e toda a sua simpatia e hospitalidade. Se há coisa que merece ser lembrada deste senhor é isso mesmo: a cortesia no trato e a palavra sempre amiga num bom ou mau momento. Ficam as saudades e os bons momentos passados no bar do Fojo, com este amigo.