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quarta-feira, 22 de março de 2017

Indignam-se os pobres. Calam-se os ricos.



Jeroen Dijsselbloem, Presidente do Eurogrupo e Ministro Holandês




  O presidente do Eurogrupo e Ministro Holandês Dijsselbloem afirmou que "não se pode gastar o dinheiro em copos e mulheres e depois pedir ajuda", numa referência alusiva aos países do sul. Perante isto houve uma onde de indignação, que se justifica pela posição que o mesmo ocupa e pela indefinição do alcance das suas palavras, mas não oculta parte da verdade da sua afirmação. 
   Depois de ter assistido e acompanhado o escândalo dos "cartões black" em Espanha, percebi que este "sistema" estava alastrado (e ainda está, só que a maioria das pessoas desconhece-o, porque está bem disfarçado) em todos os países do sul da Europa de uma forma implacável. O sistema dos "cartões black" é o sistema que se foi alastrando nos sistemas políticos e principalmente nas instituições financeiras (como também na maioria dos órgãos dos Estados, nacionais e locais), que permite aos titulares desses órgãos o uso de cartões de crédito sem limite. Em Espanha, no início de 2008 (período que deu início uma das piores crises da nossa história), o Governo iniciou um longo e devastador programa de austeridade ao seu povo. Nesse período de início da crise até 2012, ficou provado que Rodrigo Rato, ex gerente FMI e do Bankia, gastou fortunas no uso desses cartões em gastos pessoais, sendo que um dos factos apresentados provou que o arguido gastou em joiás, bolsas Louis Vuitton, festas em boates e viagens mais de dois milhões de euros, sendo que estes gastos também já vinham desde de 2003, mas aumentaram com a crise, a partir de 2008, tendo totalizado um valor de 12 milhões. Ou seja, este Senhor fazia estes gastos, enquanto via as pessoas devastadas com a crise a ir ao seu banco levantar as poucas poupanças que já lhes restavam para fazer face a necessidades básicas do dia-a-dia. E o que aconteceu ao Bankia? Foi nacionalizado. Quem pagou estes gastos em copos, festas, boates e mulheres? Os contribuintes. E depois o que aconteceu? Espanha teve de pedir ajuda. 
   Não definiu o alcance da sua afirmação e das suas palavras, mas se o fizesse, e poupasse a maioria das pessoas, referindo-se sem medos e rodeios apenas a uma elite "política" da qual também faz parte (e onde sabe que isto acontece e é um "costume" : mulheres e copos), talvez as pessoas entendessem melhor a ambiguidade das suas palavras, e reduzissem o seu grau de indignação, ou até, anulassem essa mesma indignação.