Pesquisar neste blogue

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Boa Decisão

  
Pedro Santana Lopes




   Santana Lopes tomou a decisão de desistir da candidatura a Belém. Penso que foi uma decisão acertada, de quem está a fazer um grande trabalho na Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (sem dúvida a pessoa certa no lugar certo), e, que, embora tenha valor, não seria o candidato com mais hipóteses de vencer. Parece unânime que aquele que terá mais hipóteses de vencer e que estará melhor posicionado é Marcelo Rebelo de Sousa.


domingo, 30 de agosto de 2015

Cortina de Ferro Húngara e Búlgara

  


Hungria



  É esta a Hungria que queremos inserida na União Europeia, que tanto nos custou a construir? Onde está o respeito pelos valores de uma Europa ainda "normativa"? Como é possível a Europa suportar as medidas que o Governo Húngaro está tomar, como por exemplo, a construção de um muro que divide o país da Sérvia? Será a crise migratória actual a gota que faltava na divisão europeia?
   Em tempos, a história lembra-nos que, também outrora foi construído um muro na Alemanha, o Muro de Berlim, que dividiu o país, a Alemanha Ocidental da Oriental, com a finalidade também de evitar e parar o fluxo de refugiados, onde havia ordens para matar a quem tentasse escapar. Foram 28 anos dramáticos, onde perderam-se milhares de vidas humanas. Hoje, também para parar o fluxo de refugiados, sendo que aqui a sua "chegada" ao país, a Hungria ignora a Europa e toma medidas inadmissíveis, como esta ao construir o muro, e prepara-se para tomar ainda mais medidas como responder com "gás lacrimogéneo" perante a invasão dos migrantes. Mas infelizmente, esta ideia não é apenas Húngara e também foi seguida pela Bulgária que construiu um muro na fronteira com a Turquia, para também impedir a entrada de imigrantes.
   É preocupante o renascimento de ideias já aplicadas no passado, com efeitos devastadores, que não resolveram o problema e que ficou provado que não foram uma boa solução, e hoje nem sequer deviam ser discutidas, quanto mais aplicadas e seguidas por determinados países, aqui os de leste.
   Este é o caminho mais fácil, porque ao impedir e matar os refugiados que tentem entrar num país pode diminuir ou atenuar o problema, mas não o resolve, e mesmo para quem acredita que poderá resolver, será sempre de uma forma que esta Europa já não aceita e deve mostrar isso a quem tenta ressuscitar estas ideias trágicas do passado. Mas felizmente, e por outro lado, já vimos que os principais países da Europa já reagiram com duras críticas a estas medidas, como o caso da Alemanha e da França, o que é um bom sinal.


sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Eleições Legislativas







  Hoje, António Costa admitiu descer as taxas moderadoras na saúde. Imediatamente assistimos a algumas reacções de "deita abaixo" puro, remetendo para o tradicional governo anterior ou posterior. Não sei se a ideia de António Costa é eleitoral ou não, mas que este tema terá que ser tratado por quem chegar ao Governo, disso acho que não há muitas dúvidas, até porque a diferença de qualidade entre o público e privado na saúde é cada vez maior, e o preço elevado das taxas moderadoras leva as pessoas a pensar antes de escolher ir ao público, a não ser nos casos em que não exista mesmo alternativa. 
   Em vez de assistirmos aos tradicionais ataques partidários já sem criatividade e brilho (ataques a governos anteriores e atuais), à escolha dos putativos candidatos à presidência da república (que terá interesse logo após as legislativas) , talvez fosse bom entrarmos num cenário de discussão de ideias para as eleições legislativas, de temas importantes para o país (que é o que interessa aos portugueses) e tentar perceber e debater como vamos criar mais emprego; combater desemprego e pobreza; dar resposta ao envelhecimento da nossa população; pagar a dívida; baixar défice; reformas que temos de fazer nas diversas áreas; aumentar poder de compra das famílias; aumentar competitividade das empresas; crescermos economicamente; etc.

sábado, 22 de agosto de 2015

Tauromaquia

 






   Em 1836, as touradas foram proibidas em Portugal, durante o reinado de Dona Maria II, por serem consideradas um divertimento bárbaro e impróprio das nações civilizadas, que seria unicamente para habituar os homens ao crime e à ferocidade. Como é que hoje, em 2015, ainda é permitido este espectáculo/tradição em mais de 100 municípios nacionais? Será que faz parte do património cultural português?
   As touradas dividem opiniões e dividem gerações. Por um lado, há quem sustente tal espectáculo pela tradição, pelo costume das terras, ignorando por completo o animal em si mesmo, antes instrumentalizando-o para o espectáculo. Por outro lado, e cada vez mais, são aqueles que defendem que deviam ser abolidas as touradas, pelo sofrimento e maus tratos causados ao animal.
  Em 2011, a Federação Portuguesa das Associações Taurinas apresentou na Assembleia da República, na Comissão de Educação Ciência e Cultura, um documento onde apresentava a importância das touradas no nosso país. No início do documento sustentam a posição de ser a favor das corridas de toiros com o argumento de que ao destruírem a Tauromaquia, destroem um símbolo da superioridade da humanidade sobre a animalidade. No documento, defendem que não é tortura, dizendo que "torturar é fazer sofrer um ser que não se pode defender, com o proposito de tirar um benefício sem qualquer risco. As corridas de toiros dão um duelo, um combate onde o toiro deve lutar e mostrar a sua natureza e o homem só pode aceitar participar nesse combate se aceitar pôr a sua vida em risco, não sendo comparável com a verdadeira tortura, como a que sofre, por exemplo, o prisioneiro político". Também negam que pode ser considerado uma bárbarie porque isso "pressupõe algo sem regras, sem educação, rude. Ora, a Corrida de Toiros é um ritual, perfeitamente regulado, onde cada gesto, cada passo, cada atitude tem um significado preciso e valorado. Nada tem, por isso,de bárbaro nem se compara com as verdadeiras barbaridades, como o assassínio ou mutilação indiscriminada de homens, mulheres e crianças que ainda hoje acontecem". É afirmado que a "Corrida de Toiros é,também, de uma riqueza estética inestimável, pois o toureiro cria beleza através de uma dança com a morte, transformando a natureza bruta, a linha recta, o movimento incontrolável, em curvas poéticas e temporizadas. E, a todas as outras artes, o toureio acrescenta esta dimensão única da verdade, da autenticidade, da realidade. Na Corrida de Toiros, a vida é sublimada porque, precisamente, ela pode aí ser tirada". Defendem que "a Corrida de Toiros é, antes de mais e sobretudo, uma Festa. A nossa época, mais do que qualquer outra, precisa de festas. A nossa modernidade faz-nos cada vez mais individualistas, fechados sobre nós próprios, no trabalho ou em casa. Vivemos assoberbados por esta necessidade de cumprir obrigações, de respeitar códigos e regras, sobrando-nos muito pouco tempo para estarmos com a família, e menos ainda para nos inserirmos na comunidade – muitos já só o fazem através de redes sociais. E é na festa que muitos dos membros da comunidade têm essa hipótese de interagirem entre si, de se reencontrarem, porque a festa se faz na rua, em público, em conjunto".
   Na minha opinião, a manutenção deste espectáculo e tradição em volta do culto do toiro faz-me regredir na evolução dos tempos, aos tempos negros da humanidade, em que homens e animais se confrontavam numa arena para gáudio de milhares de espectadores e não poder aceitar uma tradição que nasceu e cresceu nesses tempos onde também era permitido esquartejar pessoas, e, onde queimavam-se pessoas em volta de rituais e tradições, onde o povo assistia e gostava do que via. Os argumentos utilizados pelos protoiro são discutíveis e pouco sustentáveis. Um dos primeiros argumentos é a demonstração da superioridade humana sobre a natureza animal,defendendo que não é tortura, porque é um duelo. Esta posição é pouco sustentável, porque, hoje em dia, em primeiro, já não existe essa ideia de superioridade humana sobre a natureza animal como existiu em tempos arcaicos da nossa história e, depois, os espectáculos acontecem em praças de toiros onde o toiro é completamente dominado e não tem sequer hipótese de se defender, sendo cercado e limitado. A prova disso é ver o famoso espectáculo de Pamplona onde soltam os toiros e estes chegam mesmo a ferir e matar pessoas, o que raramente acontece numa praça de toiros, pois aqui ele está cercado e limitado nos seus movimentos, levando com bandarilhas, que lhe ferem e causam dor. Os protorios afirmam também que a corrida de toiros é de uma estética inestimável porque toureiro cria riqueza através da dança com a morte. Isto é uma defesa filosófica, que pouco tem de discussão, pois pode ter sempre defesa, porque apoia-se na abstração ou subjetividade. Mas quando a defesa de tal espectáculo se sustenta na riqueza da morte de um animal é algo preocupante e que deve ser censurada. Também chegam afirmar que é uma "festa", com a qual ninguém discorda, mas dizer que o povo necessita deste tipo de festas para interagir entre si é exagerado, porque são muitos aqueles que são contra as touradas e cada vez menos os que são a favor. E já foi mais uma prática popular do que é hoje, porque já foi o tempo em que as corridas de toiros pertenciam à plebe, sendo hoje festas também da nobreza, onde o espetáculo é mais arrojado (feito em praças com requinte) , deixando de ser um exclusivo popular, como ainda muitos tencionam fazer valer. Defender as touradas é defender os maus tratos a animais, e, pactuar com um espectáculo que é arcaico e nos faz remontar aos tempos mais negros da história da humanidade, onde a morte na arena é aplaudida e incentivada pela plateia que assiste. Hoje, embora no código civil ainda sejam consideradas coisas, já existe mais respeito pelos animais e o respeito pelo seu sofrimento começa a fazer parte de uma forma de pensar de muitas gentes.




sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Lesados BES

 





   Como é possível não haver, sequer, uma palavra para estas gentes? Será que a degradação da imagem do banco, com estas sucessivas manifestações e ataques plenamente justificados ao banco não são suficientes para o estudo de uma solução? 
   Serão processos que irão durar anos a resolver nos tribunais, mas independentemente da medida de resolução do Banco de Portugal tomada no dia 3 de Agosto de 2014 estar ou não de acordo com a jurisprudência do Tribunal de Justiça da União Europeia (onde existem sentenças contrárias ao procedimento adoptado pelo Bdp na resolução deste caso BES), acho que já devia ter havido uma palavra para estas gentes, a bem de Portugal e da imagem do Novo Banco. E, haver entre os lesados, pessoas emigrantes (como já foi provado), que não sabiam ler nem escrever, algumas agora que passam mal, sem quase dinheiro para comer, quando tinham, por exemplo, 500 mil euros no banco de poupanças, e não fazer-se nada ou não haver uma palavra chega a ser muito mau para quem assiste, aqui os portugueses, familiares, amigos e advogados das vítimas. 
   Acho que aqui o próprio Estado, uma vez que também emprestou dinheiro ao Novo Banco (juntamente com os restantes bancos), devia ter uma palavra para estas pessoas, porque a falta de solução para esta questão só vai atrasar o problema, e, para além de jamais fazer os lesados desistir, só piora a imagem do Novo Banco, que vive de ter ou não clientes, e, à medida que o tempo passa, os clientes são cada vez menos, e esta postura de todos os envolvidos, principalmente o Bdp, não favorece a credibilidade e confiança no banco.
   Depois de mais um dia que passou, quem quer ser cliente do Novo Banco? Poucos ou duvido que alguns, e amanhã, ainda serão menos, porque ainda pouco ou nada foi esclarecido, apenas há a certeza de que muitas pessoas foram roubadas e enganadas pelo BES, sendo que há casos em que nada foi dito nem dada ordem de compra de papel comercial e o dinheiro foi retirado sem consentimento do titular da conta (caso que vi em mãos), foi furtado, o que é crime e, aqui os tribunais terão de aplicar as leis. Restava era que os envolvidos esclarecessem melhor esta questão, e não ter de se esperar pelas decisões judiciais, pois, em alguns casos, terão de ser quase que obrigatoriamente demolidoras, censurando determinados comportamentos do Banco e seus agentes, que por serem tão evidentes, não poderão ter outro desfecho.


sábado, 8 de agosto de 2015

Desorientação Socialista






   A recente polémica dos cartazes, em que foram colocadas pessoas nas fotografias que nem sequer deram autorização (sendo que uma delas já tornou público que vai apresentar queixa junto das autoridades) demonstra um amadorismo político, que, é pouco compreensível do maior partido da oposição. 
    Recentemente, todos assistimos ao "esbulho" socialista em torno das listas para deputados à A.R, em que os deputados atiraram-se literalmente uns aos outros em jogo de palavras pouco bonito de ver, onde em causa estavam 4.000 a 5.000 euros por mês, e, para quem vive da política e dela serve-se, como maioria, foi quase uma espécie de vale tudo, onde pouco de positivo se viu e ficou demonstrado e a nu que mais espectáculos destes podiam surgir, derivado da qualidade dos seus protagonistas. 
   António Costa foi desde cedo completamente engolido pelo aparelho partidário do PS, onde antes de se candidatar, tinha ligações que jamais podia romper ou pensar cortar, o que lhe dificultou a vida e foi um erro ter deixado a "clientela" apoderar-se da sua liderança. Este caso do "esbulho" foi um caso típico em que perdeu completamente o controlo do partido. Mas se alguns entendem que aí não foi suficiente, com esta história dos cartazes não há dúvidas que perdeu esse controlo, a não ser que entendam que foi António Costa quem esteve por detrás da construção destes cartazes, o que não acredito, ou acho pouco plausível, porque nos partidos sempre existiram pessoas para aconselhar a liderança. Como é possível num partido como o partido socialista se cometer um erro desta magnitude, ao usar pessoas sem autorização das mesmas? Como é possível, no meio de centenas ou milhares de pessoas assalariadas no partido e com funções específicas, cometerem o erro de colocar cartazes que remontavam a 2011, altura em que era o PS que estava no Governo? 
   Mas a falta de reacção e o silêncio perante tal erro ainda pode ser mais demonstrativo de que este PS não está bem, e já não é de hoje. Um erro desta magnitude, no mínimo, tinha que ter uma resposta imediata e clara, porque estamos a falar de pessoas, e, se nem quando falamos de pessoas, dos portugueses, o partido dá explicações ou esclarece, jamais pode sequer pensar em governar nestas condições. Aliás, é difícil de entender esta forma de fazer política do "silêncio" ou do "no momento oportuno falarei", quando existe um dever de resposta, porque estamos a falar de cargos de natureza temporária, que indirectamente (alguns mesmos directamente) pertencem ao povo, e estes representam-no. 
    António Costa deixou-se encruzilhar no discurso político instalado de "arremesso", de debate pouco inteligente ou quase mesmo "vazio" que afasta os portugueses, quando devia impor qualidade no discurso, porque tinha qualidade e perfil para isso, mas nada disso aconteceu, e, chegamos mesmo a vê-lo nos discursos de "arremesso" a dizer mal deste ou daquele, quando o PS necessitava era de clarificar suas políticas e debater temas importantes para o país, mas todos nos lembramos de questões "chave" onde o PS (já com António Costa ao leme) meteu o "rabinho entre as pernas" e deixou-se estar calado. 
     António Costa certamente não perdeu as qualidades que tinha antes de ir para presidente do partido socialista, mas foi engolido completamente pelo aparelho partidário e, aliado a isso, tem demonstrado uma completa falta de liderança política (essencial para governar um país), num partido, onde a cada dia que passa, cada "tombo" é maior que o anterior, e assim continuando, pode ser que chegue o dia em que caia mesmo de um precipício e já não se consiga levantar, porque na política, o tempo não pára e os erros pagam-se caros. 

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Cemitério para animais




   Formidável. Nunca tinha visto e visitado um cemitério para animais. Mostra o carinho e a amabilidade pelas gentes que trata bem os animais. Foi tão bom ver as declarações nas campas dos seus donos, porque mostram e revelam o amor que existe pelos melhores amigos do homem, como diz uma expressão antiga. 
   Nesta campa, onde o "dog", que viveu de 1950 a 1954, para além da declaração deliciosa do seu dono, há uma frase interessante e ao mesmo tempo refletiva: "Quanto mais conheço as gentes, mais gosto dos animais". Quem gosta, trata e ama animais sabe bem o que significa esta frase e tenho a certeza que identifica-se com ela, seja parcialmente ou totalmente. Porque não esta ideia não ser espalhada e replicada pelo país?  Acho que teria sucesso, porque cada vez mais as pessoas tratam melhor os animais e perceberam que ali existe alguém que temos que respeitar e amar, como uma pessoa.


quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Médicos de Família

 








   Incentivos para médicos de família que aceitem ficar com mais doentes? Um médico de família ficar com 2500 utentes, quando o limite de 1900 utentes atribuído em 2012 já tinha sido aceite em regime excepcional? 
   A primeira coisa que me vem à cabeça é "disparate". Aliás até custa acreditar, porque sem dúvida que Paulo Macedo é um dos bons ministros do Governo e uma pessoa competente, que aqui, infelizmente, e perante o que se sabe, teve uma medida infeliz.
   Em primeiro lugar, incentivar os médicos de família atuais a aumentar as suas listas de 1900 para 2500 utentes, recebendo mais €741 euros brutos, quando no país temos médicos jovens a necessitar de encontrar a sua vaga de emprego (e se não existissem, crie-se mais vagas nas universidades de medicina), parece-me um erro. Aliás, esta ideia de sobrecarga de horários, juntamente com a ideia das horas extraordinárias e até da "acumulação" de funções representa bem uma forma de governar que foi característica de uma/umas certas gerações no nosso país, e que parece não ser abandona e ter resistências intemporais.
   Em segundo lugar, acho que quem trabalhou nesta medida, esqueceu-se do papel do médico de família e da sua limitação de funções, que tem acentuado e baixado significativamente a sua eficácia médica, ou seja, a fraca qualidade de muitos médicos de família. Hoje, e à medida que a medicina foi evoluindo, o papel do médico de família diminuiu, e, infelizmente, muitos serviços não souberam adaptar-se a essa mudança, talvez pelo, de sempre, problema principal: dinheiro. O ponto de partida deve ser sempre o paciente, e se queremos uma abordagem centrada na pessoa e orientada para o indivíduo, aumentar o números de utentes não irá melhorar o serviço, pelo contrário, irá piorar. Hoje, já se pensou porque razão muitas das pessoas que têm médico de família, não recorre a este quando tem um problema de saúde (existe muita gente que não o faz) ? E se tiver um problema, já se pensou se existem mecanismos práticos de os próprios clínicos saberem orientar o paciente aquando da sua própria limitação clínica ? Já se pensou porque muita gente só recorre ao médico de família para aspectos passar receitas ou outros aspectos de formalidade médica? Já se pensou porque razão numa consulta de medicina familiar cada vez há menos comunicação com o doente? Já se pensou porque razão há cada vez menos interacção entre o médico e o paciente? Já se pensou porque razão a opinião do clínico já não é vista como sacrossanta? A medicina familiar acompanhou e adaptou-se a essa mudança de opinião? O papel do médico de família é um papel importante na comunidade, mas só será eficaz se for avaliado e adaptar-se à mudança e evolução com qualidade e orientado para o paciente. Haverá poucas dúvidas de que, se a qualidade continuar a cair e o papel do médico de família não mudar, principalmente na adaptação a esta nova autonomia do paciente no seu processo de decisão clínica e tomada de decisões, as pessoas cada vez mais continuarão a instrumentalizar o seu médico de família, e, nos casos em que tiverem possibilidade, deixarão mesmo de recorrer a este.
   Em terceiro lugar, a questão do próprio incentivo em si e de uma espécie de gratificação por ter mais consultas ao final do dia, quando isso em nada significa qualidade, é um retrocesso. Aliás, imaginem uma pessoa que está a passar mal, vai ao médico e o médico precisou de estar ali com ela 2 horas, será justo não premiar este médico, quando ele esteve a fazer seu trabalho e teve ajudar o doente ? E vai-se premiar outro porque deu consultas a um ritmo épico, umas 50/60 por dia, mas não conseguiu ser competente e cumprir com os objectivos da medicina familiar, nem com o seu papel enquanto médico de família. Não me ocorre outra palavra a não ser "disparate".
    Por vezes há medidas que mais valiam nem sair do papel, e esta é uma delas, que, para sermos justos, nem ao papel devia ter chegado.




terça-feira, 4 de agosto de 2015

Tribunal de Penafiel

  





   Foi no tribunal judicial de Penafiel que assisti a algo de que, apenas teoricamente tinha conhecimento. Já tinha assistido num ou outro tribunal a coisas de pequena dimensão problemática ao nível das condições de trabalho, mas aqui foi deveras constrangedor, porque não havia mesmo condições de trabalho. A meritissima magistrada do Ministério Público, que diga-se que fez um esforço louvável, em audiência prévia de tentativa de conciliação com os arguidos e advogados num processo crime, nem um local conseguiu para o efeito, tendo mesmo de colocar todos os presentes numa pequeníssima sala, colocando lado a lado os arguidos, que ainda se lembravam e bem da "pancadaria" que houve, sendo que, inevitavelmente, existiu falhas de memória, como é normal nestas situações. Aliás, houve mesmo um "surto" de amnésia na sala. Mas o que é de realçar é que, enfiados todos numa sala, com um calor tórrido, não havia ar condicionado e as janelas abertas apenas aumentavam o calor já sentido na sala. Para além disso, todos ficaram de pé e ao assinar os documentos (porque não houve desistência da queixa criminal da nossa parte), quase que não chegava o papel, porque até esse era contabilizado.  
   Bem, se, por um lado, há coisas que vão bem no país e num bom caminho, há outras que não vão num bom caminho e precisam de mudar de rota, porque por aqui vão dar a uma estrada sem saída, e depois talvez se tenha de voltar para trás ou construir de novo, destruindo o que de mal foi feito. Era bom que algo fosse feito para melhor, como tanto reivindicou a magistrada na audiência, pela justiça, pelos seus agentes e pelos cidadãos.