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segunda-feira, 20 de julho de 2020

Animais: resistência cultural





Quando ainda vou a certas zonas do país ou mesmo contacto contacto com diversas pessoas é possível perceber que ainda existe um caminho cultural a ser percorrido quanto à aceitação dos animais como seres dotados de sensibilidade e será um processo longo de culturização quanto à mudança geral a nível nacional, tão só imediata quanto ao desaparecimento do animal acorrentado, ainda típico em várias zonas do país e quanto à impossibilidade e proibição do mau-trato. O início do fim dos espectáculos tauromáquicos, do divertimento bárbaro e impróprio de uma nação civilizada são um exemplo da mudança cultural, onde a resistência é forte, com várias forças a tentar impedir o desaparecimento deste tipo de espectáculo do tempo da Idade Média. O que vimos em Santo Tirso é uma mistura de falta de cultura, de formação e apoio de entidades estatais, aliado a um desconhecimento legal gritante que revelou o que já era visível há muito tempo: a mudança legislativa sobre a protecção dos animais (criminalização dos maus- tratos) e a própria mudança cultural que isso acarreta não tem corrido bem. A mudança legislativa trouxe um novo paradigma na própria aplicação do direito, porque a criminalização não protege directamente a vida do animal. Num futuro próximo, tal lei terá de ser alterada, porque, na prática, os animais ainda são tratados como coisas. E permitir ainda os espectáculos tauromáquicos ou o tiro ao pombo são um reflexo disso. Em Santo Tirso, a ser verdade o que foi tornado público, houve responsabilidade criminal, ao não auxiliarem os animais e impedirem o seu auxílio, ainda mais grave. Este desconhecimento e tal descoordenação entre as entidades no terreno são a prova de dificuldade de aplicação prática de uma mudança tão grande como é esta da protecção dos animais. Ter alguém que trabalha para o Estado a informar uma pessoa que não pode ir salvar um animal por ser um local privado é revelador do longo trabalho a ser feito, que tem começar pelo básico, pois o que assistimos não pode ser aceitável. 
É bom saber que são cada vez mais aqueles que reagem com revolta a uma situação destas como a de Santo Tirso e protegem os animais. Para mim, a título pessoal, não podia estar mais próximo de uma luta como é esta dos animais. Já aprendi imenso com tantos e tantos animais. Recentemente, perdi um dos mais especiais: a eterna e imperecível Maggie (uma boxer), que quando eu pensava que já pouco iria surpreender, bem que fiquei completamente rendido aos ensinamentos básicos e genuínos da sua ilimitada e intemporal sensibilidade.
Isto é uma luta que tem e vai ser obrigatoriamente ganha, para podermos respirar e viver num mundo, e em Portugal, num país especialmente melhor. Como dizia o fascinante filósofo Kant: "aquele que fosse cruel com os animais tornar-se-ia também cruel para com os homens".

terça-feira, 14 de julho de 2020

Nacionalizar as pessoas




Por vezes, algures aí num imbondeiro, penso que a vida é melhor se aprendermos com aquilo que ela ensina. Quantos de nós hoje não faria as coisas de modo diferente se voltasse atrás? Era bom que o Estado não voltasse a cometer os mesmos erros da crise anterior, que assolou milhares de pessoas, que ainda hoje estão em dificuldades e serão dizimadas pela actual crise em virtude do Covid-19. As nacionalizações estão a surgir de forma vertiginosa, com pouca informação e transparência para os cidadãos. As pessoas têm o direito de saber mais sobre todo o processo de nacionalização em curso, seja da Tap, seja da Efacec, seja de qualquer outro tipo de empresa que passe a ser controlada pelo Estado. A Efacec já atravessa graves problemas financeiros antes da crise com o caso Luanda Leaks. Depois do Velho Banco (que de novo nunca teve nada, a não ser o nome), devia ser proibido ou impostas condições mais transparentes ao Estado para poder nacionalizar uma empresa. O problema não está na nacionalização, mas sim na anterior venda da participação na Tap a privados ao preço de um carregador dos chineses para mais tarde comprar ao preço de um carregador da Apple. Ainda hoje aguardamos para perceber a razão pela qual o Estado vendeu, por exemplo, os CTT, empresa com lucros garantidos. 
Ao invés, gostava de ver o Estado a nacionalizar pessoas em dificuldades; crianças que têm desistir dos estudos pelo facto de os seus pais não terem dinheiro para continuarem a estudar; de ver o Estado a pagar um lar com mínimo de condições de dignidade social a quem não tenha uma reforma digna ou até quem não tenha reforma e não possa acabar os seus dias com um mínimo de dignidade. A escalada de lares ilegais revelam a fragilidade de um problema social que cresce a olhos vistos sem soluções de futuro. Gostava de ver o Estado a pagar aos proliferados e lesados do sistema financeiro com o dinheiro da queda dos seus impérios, como devia ser exemplo o caso BES. Talvez inverter a ordem das coisas por um período de tempo fosse um sinal dos tempos e uma excelente lufada de ar fresco.  
Antes, em 1976, Adelino Amaro da Costa já denunciava as práticas messiânicas das nacionalizações, e hoje são um apanágio de sucessivas lideranças políticas, sem uma visão nacional. Qualquer aluno do secundário seria capaz de efectuar as seguintes questões: Como era a Tap antes do Covid e como chegou a esta situação (análises e auditorias independentes)? Quais as soluções dos privados para a Tap e as soluções do Estado (ou não existe um plano)? Quanto dinheiro será pago pelos contribuintes se o governo nacionalizar a Tap, e durante quanto tempo e em que condições contratuais? E qual o papel da União Europeia que já autorizou ajuda à Tap pelo Estado mas já exigiu reestruturação da empresa (pouco discutido)? São apenas algumas das questões que exigem resposta. Esteja a Tap em causa, esteja qualquer outra empresa em vias de ficar insolvente, com possibilidade de intervenção do Estado.

segunda-feira, 6 de julho de 2020

Inolvidável Ennio Morricone





Quando tens conhecimento que desaparece um génio e ícone musical como Ennio Morricone, rapidamente percebes que apenas desapareceu o ser humano, mas fica a obra, o extraordinário legado. O mundo hoje acordou um bocado mais triste. Serei sempre um eterno admirador de todo o seu trabalho. Quem nunca se emocionou a ouvir Ennio Morricone? Talvez seja uma "missão" quase impossível. São vários os momentos da minha vida que aproveito sempre para ouvir Ennio Morricone, para reflectir, emocionar e até sonhar navegando ao som das suas simples e notáveis canções. O conteúdo das suas músicas é de um nível musical distinto e será um privilégio continuar a usufruir do seu vasto legado musical.