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terça-feira, 14 de julho de 2020

Nacionalizar as pessoas




Por vezes, algures aí num imbondeiro, penso que a vida é melhor se aprendermos com aquilo que ela ensina. Quantos de nós hoje não faria as coisas de modo diferente se voltasse atrás? Era bom que o Estado não voltasse a cometer os mesmos erros da crise anterior, que assolou milhares de pessoas, que ainda hoje estão em dificuldades e serão dizimadas pela actual crise em virtude do Covid-19. As nacionalizações estão a surgir de forma vertiginosa, com pouca informação e transparência para os cidadãos. As pessoas têm o direito de saber mais sobre todo o processo de nacionalização em curso, seja da Tap, seja da Efacec, seja de qualquer outro tipo de empresa que passe a ser controlada pelo Estado. A Efacec já atravessa graves problemas financeiros antes da crise com o caso Luanda Leaks. Depois do Velho Banco (que de novo nunca teve nada, a não ser o nome), devia ser proibido ou impostas condições mais transparentes ao Estado para poder nacionalizar uma empresa. O problema não está na nacionalização, mas sim na anterior venda da participação na Tap a privados ao preço de um carregador dos chineses para mais tarde comprar ao preço de um carregador da Apple. Ainda hoje aguardamos para perceber a razão pela qual o Estado vendeu, por exemplo, os CTT, empresa com lucros garantidos. 
Ao invés, gostava de ver o Estado a nacionalizar pessoas em dificuldades; crianças que têm desistir dos estudos pelo facto de os seus pais não terem dinheiro para continuarem a estudar; de ver o Estado a pagar um lar com mínimo de condições de dignidade social a quem não tenha uma reforma digna ou até quem não tenha reforma e não possa acabar os seus dias com um mínimo de dignidade. A escalada de lares ilegais revelam a fragilidade de um problema social que cresce a olhos vistos sem soluções de futuro. Gostava de ver o Estado a pagar aos proliferados e lesados do sistema financeiro com o dinheiro da queda dos seus impérios, como devia ser exemplo o caso BES. Talvez inverter a ordem das coisas por um período de tempo fosse um sinal dos tempos e uma excelente lufada de ar fresco.  
Antes, em 1976, Adelino Amaro da Costa já denunciava as práticas messiânicas das nacionalizações, e hoje são um apanágio de sucessivas lideranças políticas, sem uma visão nacional. Qualquer aluno do secundário seria capaz de efectuar as seguintes questões: Como era a Tap antes do Covid e como chegou a esta situação (análises e auditorias independentes)? Quais as soluções dos privados para a Tap e as soluções do Estado (ou não existe um plano)? Quanto dinheiro será pago pelos contribuintes se o governo nacionalizar a Tap, e durante quanto tempo e em que condições contratuais? E qual o papel da União Europeia que já autorizou ajuda à Tap pelo Estado mas já exigiu reestruturação da empresa (pouco discutido)? São apenas algumas das questões que exigem resposta. Esteja a Tap em causa, esteja qualquer outra empresa em vias de ficar insolvente, com possibilidade de intervenção do Estado.