A pergunta é simples: porque é que amanhã a maioria dos portugueses tem que estar em prisão domiciliária e os militantes do PCP podem estar num congresso com 600 pessoas? Se a lei permite, o bom senso pune. Mas a lei também permite a suspensão do direito de reunião e participação política, nos termos do artigo 19.º da CRP. Numa situação excepcional como esta, permitir um congresso com este número de pessoas é qualquer coisa de extraordinário, que reflecte bem a impunidade, o descaramento ilimitado e o egoísmo político patente, porque não existe nenhum congresso que seja mais importante que a vida e saúde das pessoas. Em causa não está ser o PCP, mas sim um congresso que está a ser realizado com 600 pessoas, quando todo o resto do país está restrito, com medidas severas e sacrifícios. É perceptível que António Costa não quis ter uma alternativa política, visto ter necessitado do PCP para aprovação do orçamento de Estado para 2021, porque nem sequer teve coragem de dizer que era um mau sinal a realização do congresso. As coligações políticas têm estas consequências, de limitar os partidos nas suas decisões e condicionar os seus pensamentos em detrimento da conservação dos cargos, ou seja, António Costa jamais poderia criticar o PCP, nem que fosse numa ideia e linha de bom senso, porque perderia o seu maior aliado. Mas este momento exigia, no mínimo (não havendo suspensão do direito de reunião e participação política), uma palavra de censura quanto à realização deste congresso. E se, no final do congresso, desse aglomerado de 600 pessoas houver infectados com Covid-19, quantos são os responsáveis políticos a dar a cara? Provavelmente poucos ou nenhum. Na política os números ainda são manobrados pelos humanos e por isso talvez teremos uma "fake news". Esta decisão não protege a saúde dos próprios congressistas do PCP, nem dos restantes portugueses, que posteriormente entrarão em contacto com os mesmos. Isto terá um custo político. Esperemos que não tenha um custo humano.