Partilhando e vivendo no seio de uma ideologia e religião distinta, respeito o Islamismo (Sunitas e Xiitas), da mesma forma que respeito o Hinduísmo, o Budismo, Judaísmo, e todas as outras existentes no mundo.
Vivemos tempos de incerteza, uma incerteza invulgar. Esperávamos que denominada "Primavera Árabe" terminasse com a opressão dos povos, que tanto sofreram nas suas ditaduras, que fosse um virar de página, eu mesmo escrevi e acreditava nessa mudança (mesmo com algumas reservas ligadas ao grupos religiosos). As reservas foram activadas. Tunísia, Marrocos e Egipto são exemplos da liderança Islamista, havendo alguns ligados ao anterior regime. Preocupou-me quando ouvi falar em mudanças radicais de instituições, sem qualquer fundamento, a não ser o religioso. Fez-me lembrar a famosa discussão na religião católica em torno do uso do preservativo, e tive-a numa acção de prevenção em África em 2009, onde alguns não abdicavam das suas posições por razoes históricas, esquecendo-se que o mundo mudou, e temos que fazer a adaptação, e o uso do preservativo deve ser aceite sem reservas. Aqui quer-se mudar porque a religião visualiza as coisas de forma diferente, apenas e tão só.
Youssef al-Qaradawi, um clérigo controverso de 86 anos considerado por muitos árabes como um guia espiritual para suas revoluções, detentor de um programa famoso na Al Jazeera, escreveu: "Os movimentos islâmicos e a da’wa (pregação) islâmica foram combatidos, reprimidos, não tinham sorte, não tinham lugar (...) Agora que os tiranos foram removidos (...) nada impede os islamitas de ocuparem seu lugar de direito no coração da sociedade.". Acresce que, sendo contra o turismo, ele ridiculariza a sugestão de que um país como a Tunísia, que depende do turismo, possa impor um código de vestuário islâmico aos turistas, afirmando: “Tudo o que basta é que os visitantes tenham consideração e não exagerem as coisas, e isso é dito para eles apenas como um conselho”.
Quando estive no Centro de Imigrantes Ilegais no Porto, através do Gas'Africa (Grupo Acção Social), encontrei um Senhor Árabe, seguidor do Islão, orava 5 vezes por dia, ajoelhado no tapete, voltado para Meca. Defendia a posição inferior da mulher, e aceitava a poligamia. Impressiona, porque pensar na mulher dessa forma, para mim, e provavelmente para a maioria dos ocidentais, considera-se um crime. Defendo que só pode ser chamado e considerado homem aquele que aprendeu a respeitar as mulheres.
No Islamismo, não é possível separar o espiritual do temporal, o jurídico do moral, a comunidade politica da comunidade religiosa, os direitos do homem da lei divina. Não há uma preocupação directa com a necessidade social e não consegue-se dividir a religião da liberdade de cada um, quando esse poder se torna absoluto, como acontece com os Estados onde se está a convolar, a emergir. O direito de governar não tem sentido senão for feito de acordo com a vontade dos crentes. Percebo e não prevejo problemas na adoração por um único Deus (Ala - monoteísmo), mas tenho alguma dificuldade em perceber que a maioria dos moderados islamistas aceitem (muitos, de forma oculta e envergonhada) o radicalismo islamista, e, não condenem actos de forma veemente e severa.
Veja-se o caso actual em Franca, em Toulouse, que acabou abatido a tiro. Dizia-se que pertencia ao grupo Al-Quaeda. Repare-se no poder destes grupos denominados radicais, a emergir, altamente perigosos para a comunidade internacional, e que, não acabam imediatamente condenados pela sua religião, pela dificuldade de separação da liberdade das pessoas, o direito a dignidade humana, com a liberdade religiosa .