O Deputado Michael Seufert, do CDS, opinando sobre a classe jovem, propõe uma medida sem pés nem cabeça, da qual fico surpreendido por o conhecer e respeitar, mas a qual critico e discordo totalmente.
Primeiramente, defende: "Entre estar desempregado sem apoio ou com um apoio fraco e ir trabalhar e poder fazer a diferença, acho que era preferível trabalhar". Acho este comentário recheado de um forte desconhecimento da realidade do país e da classe jovem, e começo achar que quem profere uma declaração destas não pode estar no caminho correcto, nem estar a perceber as necessidades da classe, apenas tenciona agravá-las. Conheço pessoas, de diversas áreas, que se deixam de receber no final do mês, entram em situação de incumprimento financeiro e em situação de emergência social, pondo em risco seu sustento e habitação. Continua achar que entre um desempregado com apoio fraco e um que pode ir trabalhar e fazer a diferença, sem apoio, é preferível ir trabalhar ? Acha que fazer a diferença num mês é possível (porque havia uma estimada amiga, que lhe dizia, que ao fim do mês o Senhorio espera a renda mensal) ? Não está a ter um pensamento de divisão de classes, ao pensar desta forma ? Acho que é preciso mostrar o outro lado.
Conheço pessoas que não precisam de 500 euros ao final do mês, e essas não importam-se de 2 ou 3 anos para trabalhar e fazer a diferença e até pagar para ir trabalhar, como está acontecer, mas aquelas que precisam de 500 euros para pagar as contas ao final do mês, resta-lhes um mês para fazer a diferença ambicionada, e, nesse tempo, é impossível fazer a diferença que refere, apenas é possível fazer a diferença negativa nas contas, e, perceber que embarcando numa proposta como esta, completamente desproporcional, desnecessária e inadequada, seria desproteger ainda mais uma classe, e, aumentar o desemprego e a precariedade. Impressiona-me ouvir declarações destas, quando o Deputado Michael Seufert, sabe tão bem como eu, que, há de um lado e do outro problemas, e não se pode procurar a solução apenas pensando num lado, porque o equilíbrio aqui é fundamental, e, flexibilizar de forma abrupta e sem fiscalização, vai ser perigoso. A exploração da flexibilização e do emprego precário existe, e só não vê o cego, porque infelizmente não pode ver. O Estado deve fiscalizar mais, ou, vai perder o controlo desta flexibilização. Agora também existe pessoas que custam dinheiro aos empregadores, mas essas, neste momento, com a lei laboral aprovada, inclusive pelo PS (ainda existe ? ), não têm uma zona de conforto blindada, e, a qualquer momento, podem ser despedidas, de uma forma mais fácil e competitiva.
Em segundo, uma das formas de justificar a flexibilização da lei laboral é tornando público seu exemplo pessoal, não se importando de ficar fora da segurança social : "É provável que a reforma que vou ter quando chegar aos 60 ou 65 anos, se é que vou ter, seja insignificante ". Mais uma vez, não é feliz na explicação e, com uma reforma assegurada da Assembleia da República com apenas 29 anos, um salário elevado de Deputado, uma condição de vida estável, compara-se aos restantes jovens e oferece o seu exemplo para justificar uma questão demasiado complexa e que exige uma análise rigorosa e cuidada.
Em último, e, completando a infeliz entrevista que deu, defende um dos elementos mais fracos deste governo, senão for mesmo o mais fraco, o secretário de Estado da Juventude, Alexandre Mestre, defendendo que :"as pessoas têm sair da sua zona de conforto. A nossa geração é do Erasmus e da migração". Infelizmente, já não chegava as declarações infelizes e obscenas do Secretário da Juventude, e, para aumentar o impacto de infelicidade da declaração, o Deputado "Micha veio subscrever e acrescentar, falando por uma geração, que não se revê nas suas palavras, e, com agravante, de ser mais um representante nacional, a convidar as pessoas abandonarem o seu país. Como em outrora se disse, e, foi afirmado por outras pessoas em igual linha de pensamento, quem ensina deve ser o primeiro a dar o exemplo, logo, quem defende a emigração, como defendeu o Secretário Alexandre Mestre deve dar o exemplo e emigrar.
Termino, esperando que o Governo, quando puder, demita o Secretário de Estado da Juventude, Alexandre Mestre, e, que o Deputado "Micha" volte atrás e pense duas vezes na medida, que a ser possível, teria de ser à sociedade na generalidade, nunca a uma classe, porque para além de estar a fazer uma divisão de classes, dentro da divisão formulada no seu pensamento (classe jovem, adulta, idosa), está a dividir a classe jovem (pobres e ricos), ao fazer esta proposta, que considero, mais uma vez, desadequada e desproporcional da realidade, e jamais, exequível e aplicável a uma classe.