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sexta-feira, 6 de junho de 2014

Índia : Epidemia Cultural




Cidade de Katra, Índia



   Se, por um lado, na maioria dos países do mundo, a mulher pode vaguear democraticamente, ainda há países, como é o caso da Índia, onde não hà respeito pela mulher, sendo um "costume" a violência exercida sobre as mulheres. Isto acontece em pleno século XXI, ou não queremos ver?
   Em 2012, na Índia, todo o mundo assistiu à violação sexual e ao assassinato de uma jovem num autocarro em Nova Déli, tendo o Governo do país decidido castigar os infractores e até houve apelos para a "pena de morte" aos infractores. Mas será esta a forma de encarar e resolver o problema? Já se percebeu a magnitude do problema?
   Recentemente, passado dois anos, assistimos a mais um crime "assombroso" contra as mulheres, que foram violadas e depois enforcadas num árvore, meninas de 14 e 16 anos. Estas adolescentes pertenciam ao nível social mais baixo do sistemas de castas. O sistema de casta é um sistema hereditário ou social de estratificação, com base em classificações tais como raça; cultura, ocupação profissional. Na Índia, o povo chega mesmo a identificar-se por "membros da casta x" ou "membros da casta y". Neste caso destas duas adolescentes, importa reter o dado curioso de que a polícia, depois de contactada, ignorou e só com muita pressão dos populares, e passado muitas horas, tentou procurar as jovens, estando a ser investigado envolvimentos de pessoas ligadas à própria polícia. O que nos revela esta omissão da polícia? Não será o problema maior do que pensa o próprio Governo Indiano? Ou será que a finalidade é manter tudo como está em termos substanciais, a apenas mudar algo em termos formais para sensibilizar a comunidade internacional que nem toda a gente agiu como a polícia?
   Hà uns tempos, escrevi sobre a Índia e Grand Vikas. Grand Vikas foi alguém que mudou a vida das pessoas na Índia, porque fez uma coisa muito simples: preocupou-se com seus problemas e o principal era saneamento básico. Na altura o Governo Indiano chegou a colocar sanitas para as populações e estas iam às mesmas beber água, porquê? Porque o problema é cultural. Era preciso ensinar as pessoas a mudar hábitos e isso não se faz do dia para a noite, com afastamento, mas sim com proximidade. Grand Vikas aproximou-se das pessoas e com elas resolveu os problemas. A Índia é um país com costumes enraizados, com uma cultura dividida em estratos sociais, onde a cultura é ensinada e imposta num ambiente onde a mulher não é para ser respeitada, mas sim usada, e veja-se o comentário de um indiano de 8 anos numa aldeia na Índia: "Todos os homens batem nas mulheres e eu um dia vou fazer o mesmo". E veja-se o problema é alastrado a toda a população, estamos perante uma epidemia cultural, onde até os polícias (que deviam ser um dos agentes da mudança) estão completamente "envenenados" por esta epidemia e participam nela, o que torna tudo mais grave, porque demonstra que está tudo "minado" e a forma de dar a volta terá de ser um "choque cultural", e para isso não chegam as leis, é preciso mudar costumes, práticas de anos e iniciar um diferente processo cultural, onde haja espaço para a mulher, porque caso isso não aconteça, o problema vai continuar, e, as sucessivas leis não vão resolver o problema, vão apenas suspender alguns casos, num país onde uma mulher é violada a cada 28 minutos.
    O Primeiro-Ministro da Índia, Narendra Modri, tomou posse este mês que passou de Maio, na Índia, onde o seu partido BJP, ganhou com maioria absoluta, e, deixou a seguinte mensagem: "Juntos escreveremos um futuro glorioso para a Índia. Sonhemos juntos com uma Índia forte, desenvolvida e inclusiva, que trabalhe activamente com a comunidade internacional para apoiar a aspiração de um mundo em paz e desenvolvido". A violência sobre as mulheres não foi tema sequer, nem antes nem depois das eleições. Porquê? Talvez ainda não sejam estes os agentes da mudança. E a comunidade internacional? Depois do Presidente dos Camarões, Paul Biya, ter se dirigido à comunidade internacional, acusando-a de "impotente", ficou dito.