Pesquisar neste blogue

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

71 anos de Auschwitz







    Provavelmente, daqui a 20 anos, já não restarão sobreviventes do Holocausto, mas o dia 27 de Janeiro de 1945 jamais pode ser esquecido, porque foi o dia da libertação de Auschwitz pelas tropas Soviéticas, um dia que o tempo não pode apagar. Neste dia devemos procurar dar voz aos sobreviventes, e quando esses já não estiverem entre nós, devemos reproduzir seus testemunhos, que grande parte, deixa em livros. Como é o caso de Aleksander Lacks, de 88 anos, que passou 5 anos no campo de concentração, e o seu testemunho revela o que se não for contado ou escrito, jamais alguém pode acreditar, mas aconteceu, foi real, foi o Nazismo. Aleksander conta-nos o seu testemunho, agora em livro: "Costumo dizer que nunca vi ninguém voltar do céu, mas eu voltei do inferno. Tinha 12 anos quando fui preso, em 1º de maio de 1940. Meu pai (Jacob) era gerente de um frigorífico. Minha cidade, Lodz, foi transformada num gueto. Os alemães fecharam tudo e não se podia sair de lá. Todos os meus parentes foram mortos em campos de extermínio. Quando acabaram com o gueto, eu e meus pais fomos levados para Auschwitz, onde minha mãe pereceu na câmara de gás e depois foi cremada no crematório. Em Auschwitz, eu e meu pai fomos vendidos para trabalho escravo a outro campo, em Gross Rossen (Alemanha). Quando a frente dos aliados chegou perto deste campo, fomos levados para a Marcha da Morte. Tínhamos que andar sem rumo, sempre juntos, sem poder fazer as nossas necessidades, comer ou beber. Era inverno e ficávamos sempre ao relento. A maioria morria congelada. À noite ganhávamos quatro ou cinco batatas cozidas e só. Para beber, tínhamos que apanhar a neve. Saímos 600 prisioneiros do campo e em pouco tempo fomos reduzidos a 50 pessoas. Quem ficava para trás era fuzilado. Quem sentava era fuzilado. Quem encostava no outro porque já não tinha forças era fuzilado. Na Marcha da Morte morreram mais de dois milhões de judeus. Chegamos a pé no campo de Flossenburg. Era também um campo de extermínio e grassava a desinteria. Meu pai apanhou a doença. Por ser muito fraco e doente, foi assassinado à paulada, aos 45 anos de idade. Eu era filho único. Vi o que nenhum ser humano devia assistir ou ver. Quando meu pai morreu o crematório não suportava mais queimar cadáveres, tantos que tinham lá. Meu pai foi queimado numa pira"."

Presidenciais 2016

   

Marcelo Rebelo de Sousa



   Um vitória incontestável, sem margens para dúvidas, de longe, do melhor candidato, de um homem "quase" só, que tem uma oportunidade única para deixar a sua marca no país, e acredito que isso acontecerá. 
   É pura realidade (porque toda a gente viu) que os restantes candidatos foram fracos, visivelmente fracos, e nunca incomodaram Marcelo Rebelo de Sousa. A começar por Maria de Belém, a candidata sectária e que ficou marcada pela defesa clandestina das subvenções políticas. No Domingo, após os resultados eleitorais, ouvimos Vera Jardim a fazer "tiro ao alvo" ao PS, culpando o partido pela derrota, numa demonstração clara de que tudo ia mal  nesta candidatura, desde Maria de Belém aos seus apoiantes. Já hoje, acusam Marcelo de ter beneficiado dos anos em que esteve no comentário político televisivo e que isso foi determinante e decisivo, tentando desviar e aniquilar o seu mérito. Marcelo beneficiou e tinha o carinho do público em detrimento dos seus comentários televisivos, mas não é qualquer um que consegue obter esse carinho, e tentar "colar" a sua vitória apenas a esse fator parece francamente injusto. Ou alguém, por exemplo, acredita, que se amanhã, Marques Mendes decidisse se candidatar a um cargo como este (o que seria pouco realista) iria beneficiar desse carinho como Marcelo? Nem 5% da sua popularidade e carisma terá. Foi apenas um exemplo (talvez não o mais feliz, porque esta é uma pessoa muito pouco querida do público) ,de alguém que também é comentador, mas que, jamais chega perto do carinho que Marcelo tinha, porque na verdade, não chega estar em frente a uma televisão, é preciso algo mais, e Marcelo tinha isso, daí ter sido um caso ímpar no comentário político nacional. Estas críticas só ficam mal aos apoiantes de Maria de Belém, e acabam por destruir mais a imagem de uma candidata, que, se fosse hoje, nem credibilidade já teria para ser uma candidata, tendo apenas de se contentar com a ocupação do lugar de militante do partido socialista.
     Sampaio da Nova foi o candidato apoiado pelo Governo, mas este decidiu fazê-lo de forma clandestina, sem um apoio oficial, o que prejudicou claramente o candidato. Aliás, o fato do PS não ter apoiado nenhum candidato foi um erro de palmatória, que, permitiu a Marcelo ficar mais descansado, e assistir à "guerra" interna socialista, que, desde logo, ficou demonstrado que o PS não iria vencer estas eleições. A eterna espera em torno de António Guterres, talvez tenha sido decisivo para a confusão e não tomada de decisão a favor de um candidato.
   Edgar Silva, o eterno Senhor Padre, começou bem, mas acabou aos berros, sendo já impossível de ouvir, pois o seu discurso era inevitavelmente o mesmo, sem novidade. O PCP ou abre os olhos e tira ilações disto, ou num próximo ato eleitoral, pode ser completamente "engolido" pelo Bloco de Esquerda, e, perder todo o seu poder à esquerda do PS, Infelizmente, o que ficou desta campanha do PCP foram as imagens de um comício em que entregavam "papelinhos" às pessoas à entrada juntamente com um envelope para aí deixarem a sua contribuição para a campanha. 
   Marisa Matias foi, a par de Marcelo, a surpresa destas eleições, onde conseguiu uma votação expressiva, com votos do PS e do PCP. Marisa foi buscar votos tanto a um como a outro, e, se o PCP continuar igual e nada mudar, acredito que num próximo ato eleitoral, este assalto do Bloco ao PCP continue e, aumente consideravelmente, porque o Bloco tem juventude com valor e, que pode conseguir fazer o partido crescer e passar o PCP eleitoralmente.
   Quanto aos restantes candidatos, a surpresa foi Vitorina Silva. A sua campanha e o seu resultado eleitoral vem provar, mais uma vez, que existe um grande espaço político para afirmação à esquerda do PS, e que se uma "brincadeira" obtém um resultado significativo como este, o que dizer de uma campanha mais séria, em que slogans como "devolver a dignidade ao povo" fossem trabalhados mais cedo e com mais impacto social, juntando mais pessoas e mobilizando mais meios. 


quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Nós somos as crianças



Antiga República Jugoslava da Macedónia
(http://www.un.org/apps/news/story.asp?NewsID=53039#.Vp96-NSLTIU
)


   Chega a ser arrepiante assistir à chegada de crianças à Europa com temperaturas abaixo de zero e neve, fisicamente exaustas, angustiadas e assustadas. Um dia, alguém me disse: "não preciso que me digas, basta ver o teu olhar". É o caso aqui, não são precisas palavras, está tudo no olhar desta nossa criança.
  Até quando vamos continuar fingindo? É uma escolha que estamos a fazer. É tempo de nos unirmos, de darmos a mãos e e salvar as nossas próprias vidas.
  Nós somos o mundo, nós somos as crianças.


quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

35 ou 40 horas semanais







  Em 2013, discutíamos o aumento das horas semanais de 35 para 40. Hoje, em 2016, debatemos novamente a sua redução. Mais uma vez, não há um acordo alargado nem reformas com acordo entre principais partidos, sendo este mais um dos efeitos da mudança de Governo, que nem dá tempo a determinados serviços públicos de se adaptarem ou moldarem às novas alterações. 
   Em 2013, justificava-se o aumento com a uniformização dos horários com o sector privado e pela aproximação aos restantes países da União Europeia. Actualmente, o PS já veio mostrar números e dizer que o número de horas trabalhadas ascendia às 39 horas, enquanto a média da União Europeia não ultrapassava as 37 horas. No projeto de Lei n.º 18/XIII/1.º (sobre reposição das 35 horas semanais), diz-se que o Governo anterior criou dois regimes diferentes: sector público e sector privado, pela razão de que os trabalhadores do sector público terem sempre de cumprir as 40 horas semanais, enquanto no privado isso depende das variáveis do código de trabalho. Aqui, só se estiverem a pensar nas convenções colectivas, mas, mesmo assim, acho que é um argumento fraco e que existem outros mais fortes, porque entendo que a ideia do Governo anterior não foi essa.
   Independentemente de haver argumentos aceitáveis de ambos os lados, a prática diz que o regime das 40 horas semanais em nada melhorou, em comparação com o que existia antes. Esta medida, aliada ao aumento da idade da reforma, piorou e muito a qualidade de vida dos trabalhadores e prejudicou o próprio mercado, e, colocou-nos ainda mais longe dos princípios índices de desenvolvimento europeu ao nível do mercado de trabalho. Lembro-me quando estive há algum tempo numa autarquia de trás-os-montes, onde as pessoas tinham de cumprir as 40 horas semanais e diz a engenheira: "Oh Doutor tenho aqui pessoas que já deviam estar reformadas e, e que já estão cansadas e pouco fazem, que a gente vai fazer? Fazem umas coisinhas, mas já não fazem o que faziam antes e como não podemos meter gente, isto é uma bola de neve, que indirectamente, atrasa o desenvolvimento, agrava desemprego e atrasa o país. E se estas com as 35 horas já pouco faziam, com as 40 horas, deixaram mesmo de fazer sequer as pequenas coisinhas, porque sentem-se desmotivadas e algumas não souberam nem sabem adaptar-se à mudança". Quando me falaram em mudança, eu tentei perceber o que ela me quis dizer, e significa à mudança no que toca às novas tecnologias, por exemplo. em que alguns ainda são do tempo em que nada disso existia e tinham uma função específica, que hoje já não existe, e, talvez em vez de moldar pessoas com 55 anos, fosse bom introduzir os jovens, sendo este um dos graves problemas do nosso país. 
    Por vezes, seria bom fazer um estudo sobre estes dois anos, do impacto que teve este aumento, para perceber os benefícios ou prejuízos que trouxeram à função pública. Embora, também aqui, houve quem aplicasse o regime e houve quem não aplicasse. Veja-se o exemplo da Câmara Municipal de Faro, que aplicou o regime das 40 horas semanais, em que os índices de produtividade não aumentaram, tendo aumentado o descontentamento entre os trabalhadores. Por outro lado, por exemplo, a Câmara Municipal de Matosinhos nunca aplicou o regime das 40 horas semanais, o que teve efeitos positivos entre os trabalhadores. 
   Como já referi anteriormente quando houve o debate em torno do aumento, enquanto não nos aproximarmos-nos do modelo anglo-saxónico, continuaremos a ter dos piores índices de produtividade, ao mesmo tempo, que, os salários são cada vez mais baixos. Temos um modelo, com excepção das multinacionais a operar em Portugal, muito "picar o ponto", que pouco privilegia o mérito. Talvez fosse bom pensar porque razão se aumenta a carga horário de trabalho e os índices de produtividade se mantém inalterados ou em alguns casos, até descem. Não é por acaso que hoje os grandes modelos de desenvolvimento apostam e se preocupam cada vez mais com o "trabalhador" (se ele está bem; se está triste o que se passa; se tem conseguido conciliar o trabalho com a vida familiar; etc , etc). E porquê? Porque perceberam que as pessoas são ativo mais importante de uma organização, ou mais simples, se calhar isto já tinham tudo percebido, mas nunca se tomaram medidas ou criaram coisas em torno do trabalhador que permitissem aferir do seu estado emocional, por exemplo, para com isso conseguir que todos remem para mesmo lado.
    Eu sou a favor de menos horas semanais, não apenas na função pública, mas entendo que enquanto não houverem reformas estruturais na administração pública, que permitam mudarmos um sistema quase por completo, não vamos conseguir nos aproximar dos principais índices de desenvolvimento e produtividade da União Europeia. Portugal precisa de mudar, e não permitir que as pessoas se eternizem nos cargos, e na administração pública isso ainda é muito visível. Se uma pessoa tem 55 anos e já não consegue cumprir a sua tarefa no pleno das suas capacidades, porque não colocar outra pessoa no lugar dessa? Porque tem esperar pelos 65 anos? Se uma pessoa terminou o seu trabalho às 17 horas, porque tem de esperar pelas 18 horas? Se uma pessoa esta semana conseguiu com as 35 horas semanais fazer um trabalho excelente, porque tem de perfazer as 40 horas semanais? 



quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Vitorino Silva






   Felizmente, num sentido irónico, e, infelizmente, num sentido mais sério, a campanha para a Presidência da República não precisa de muitas qualificações ou adjectivações, porque ela própria consegue falar por si. 
    Vitorino Silva, o homem dos congressos do PS, diz: "É pela plebe que sou candidato. Em 872 anos da nossa história, a plebe foi sempre figurante. Nunca teve o papel principal. O povo está muito fino, a plebe sabe o que quer e não tenham dúvidas nenhumas de que pode haver taça, pode haver um tomba-gigantes. Há muita gente que pensa que somos uns peixinhos, mas os peixinhos, se estiverem atentos, podem comer os tubarões". Talvez depois de ler esta entrevista dada ao observador, perceba melhor a razão pela qual o PS decidiu dar liberdade de voto nestas eleições, não apoiando nenhum candidato em concreto, devido à dificuldade na escolha. E, há uma ressalva importante a fazer após a leitura, que tem a ver com a seguinte reflexão que nos feita: "Se Cavaco Silva foi presidente porque é que eu não posso ser?". Bem, realmente, se todos reflectissem neste sentido, todos teriam legitimidade para poder avançar para Belém, porque realmente Cavaco Silva permitiu que essa reflexão fosse possível, devido a tudo aquilo que foi o seu mandato presidencial.