Quem ouviu o discurso de tomada de posse de Trump, talvez não se tenha lembrado de um presidente que tenha repetido tantas vezes a palavra "povo". Usou-a tantas vezes que no final do discurso já nem lugar existia para a mesma. E quando isto acontece, de uma forma tão pouco genuína, sem sentirmos uma forte conexão de discurso, perde e torna o discurso enfadonho e pouco eficaz. Mas quanto à substância, uma das principais ideias que está a ser posta em marcha e que deve ser motivo de reflexão (devido à sua importância) são as mudanças nos acordos comerciais internacionais, essencialmente a renegociação do Tratado Americano de Livre Comércio entre E.U.A, Canadá e México e o abandono do Tratado Transpacífico. Ainda é cedo para dizer muito coisa (porque por exemplo, no que diz respeito ao Tratado Transpacífico, irá obrigá-lo a negociar com cada país), mas faz recuarmos um pouco aos anos 30, em que medidas como estas tiveram um enorme impacto a curto prazo, mas pelo contrário, a longo prazo, foram um falhanço, porque basta ver que em 1994, a ideia do tratado de livre comércio era eliminar as tarifas comerciais entre os países, e essa eliminação beneficiou por exemplo, o aumento das exportações para Canadá e México em mais de 200%. Por outro lado, também é verdade, e não posso discordar, que a entrada da China na organização mundial do comércio não veio beneficiar os E.U.A. e causou alguns problemas, porque a China em diversos casos não respeitou e não respeita as regras do comércio mundial. E algumas coisas que Trump diz sobre a China são verdade, embora, claro, não use a melhor linguagem nem o melhor caminho para um diálogo razoável. A China tem sido alvo de várias denúncias por restrições, por exemplo, às exportações de matérias primas, provocando escassez e aumentos de preços no mercado global e conferindo vantagens à sua indústria. Uma guerra comercial não beneficia ninguém, mas perante atitude e já divulgada reacção chinesa, duvido que Trump consiga evitar, a não ser que aceite ceder, o que não parece (e neste ponto bem) , e na realidade, todos devemos questionar; a China foi ou é um verdadeiro parceiro comercial?
Esta questão não é tão simples nem se cinge a obrigar as empresas americanas que estão na China, por exemplo, a voltarem para os E.U.A., mas é uma importante questão levantada por Trump, que coloca o dedo na ferida, principalmente quanto à China, que tem aproveitado o comércio internacional para fazer uso e abuso, violando as regras que se comprometerem a cumprir perante todos os países.