Pedrógão Grande |
Profundamente chocado. Eu ainda não acredito, e talvez demore acreditar que tenham morrido 61 pessoas num incêndio aqui tão perto de nós, tão perto dos nossos corações. Sem comunicações, isolados no tempo e no mundo, centenas de habitantes desta vila que poucos conheciam até ao momento da tragédia não puderam sequer pegar num telefone e ligar a um familiar ou amigo. Ver pessoas que perderam as suas vidas carbonizados ao tentarem fugir numa via de circulação é doloroso e reduz drasticamente qualquer apelo humano que possa ser feito, perante tal brutal perda.
Uma tragédia que fez do silêncio a sua principal arma, retirando o pouco que já havia para tirar a gentes que são o rosto de um país isolado, cercado por floresta abandonada, que poucos querem saber, onde as portas estão sempre abertas, e a voz é pouco ouvida, sendo que desta vez foi mesmo calada, da pior forma, sem dignidade.
Um combate desigual, onde de um lado, dizem que existe muito apoio e nada mais seria possível fazer, e do outro ouvimos as vozes roucas dos poucos que sobreviveram, queixando-se da falta de ajuda e de apoio, dizendo que ninguém lhes foi socorrer, ficando entregues uns aos outros, desorientados e acreditando no milagre da sobrevivência.
Resta o sentimento, estarmos todos juntos a pensar nas vítimas desta triste tragédia.