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sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Cultura de Derrota


    Há uns dias, estando com um prezado e estimado amigo, dizia-me, referindo-se aos jogos olímpicos, mais concretamente à participação portuguesa: "oh, mas tens que perceber que eles treinam em condições muito complicadas e contrárias às dos demais países, e só o facto de estarem lá já é muito bom para nós", ao que em resposta eu dizia: " Esse discurso tem algo de racional, mas muito repetitivo, e, hoje ao ligarmos uma televisão, a resposta a uma derrota já tem cassete, e é de conformação, e, um atleta fala para os portugueses como se estivesse a falar para ignorantes, por vezes". Dizia-lhe, pasmado, que, estando assistindo a uma final de canoagem de Portugal, em que estavam 8 atletas a competir, e, tendo Portugal ficado em 6º lugar, diz o comentador :" Excelente, um resultado fantástico para esta dupla, em êxtase, quase abrir uma garrafa de champanhe". Acrescentava, que numa manhã, início dos jogos olímpicos, visualizava as seguintes letras de rodapé de uma televisão: " PORTUGAL ALCANÇA RESULTADO HISTÓRICO NO REMO", pensando que teríamos obtido uma medalha, mas era apenas o 5º lugar.
   Não é um discurso de bota abaixo, porque não faz o meu género, apenas acho que existe uma cultura de derrota pura instalada, e, mal conseguimos um resultado significativo, mesmo que não seja entre os medalhados, aproveitamos logo para instruir as pessoas sobre esse resultado, aparecer em público a reivindicar, como se essas pessoas, que são os portugueses, não soubessem do valor de quem compete e de quem os representa, que sabem e respeitam, como eu o faço. Mas, acho que o mais ridículo e os administradores desta cultura de derrota, em parte, são os jornalistas e os comentadores que estão a cobrir os jogos olímpicos, que, alimentam esta cultura.
   Não aceito esta cultura de derrota, e, aí distancio-me de quem pensa dessa forma, porque se olharmos para a nossa história, somos um país que merece respeito em qualquer parte do mundo, e, esse respeito da história ninguém nos retira, e, orgulho-me de ser português e ter sangue desta gente, e, quando digo isto, acho que devemos tentar estar entre os melhores e lutar sempre para isso, como ainda aconteceu à pouco com o Fernando e Emanuel Silva, que conseguiram estar lá, e, se não conseguirmos, sermos realistas e não sermos uns meros "vencedores da derrota".