A Europa, onde já se duvidava da sua capacidade de surpreender, afinal o inesperado acontece: o Primeiro-Ministro de Itália anuncia a sua intenção de se demitir após aprovação do orçamento. Citando Helena Garrido, que tão bem escreve, directora adjunta do jornal de negócios: "Para todos os que consideram que um governo independente é uma solução para ultrapassar a actual crise, vale a pena reflectir sobre o que se está a passar em Itália".
Acho que tudo isto merece uma reflexão série, num momento em que Itália era o exemplo a seguir, em que apelavam ascenção de tal modelo na Europa, quando discutia-se a crise dos países do sul em que tudo apontava Mario Monti como o unico com capacidade, tudo isto se quebra em minutos, quando do outro lado, estão os políticos, que rejeitam o decreto que "incapacita para o desempenho de cargos públicos quem tenha sido condenado em definitivo pela justiça por crimes onde se tenha provado dolo deliberado, ou seja, intenção de praticar o crime".
Nada disto parece ser transparente nem claro, porque, a decisão de Berlusconi de voltar a concorrer a um quinto mandato, no mínimo, parece insólita, mas pensada e delineada hà meses, de quem sabe jogar com as peças do seu puzzle político como poucos, e, aproveitando a decadência do seu partido (última sondagem aponta 15,2% de intenções de voto para o PDL, o partido do centro-direita), prepara-se para instrumentalizar as classes mais oprimidas no seu país (desempregados, por exemplo), e com o slogan antigo na política, de que tudo está pior desde que ele deixou o poder, ou seja, neste caso, hà 1 ano.
É necessário pensar em modelos consensuais, e não impostos, porque, o que se está a passar em Itália é muito grave para uma Europa que está no seu pior momento desde que Schumann a pensou, e, o problema de um governo independente é que precisa de apoio político no seu parlamento para cumprir reformas e aprovar decretos. Duvido que a causa única de tal decisão tenha sido aprovação de tal decreto como foi comunicado, mas antes parece-me que tenha sido a falta de apoio político do PDL, que, decidiu apoiar Berlusconi, nas eleições já em março de 2013, numa estranha jogada partidária, quando o país está à beira do abismo e, se já o seu futuro era incerto, agora o amanhã será uma incógnita.
Isto tudo acontece num país à beira de ser excluído dos mercados financeiros e tudo o que menos precisava era de uma crise política.