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sábado, 26 de outubro de 2013

Cortes

 





     Onde estão esses "patifes" ? Quem são esses "patifes"? Afinal existem "patifes" ?
   Criou-se a ideia que na função pública só existem "patifes" e que são todos uma "cambada de malandros" e merecem ser cortados por todos os lados, sem olhar a quem e sem dó nem piedade. Foi ainda há poucos dias que uma pessoa amiga me dizia: "acho muito bem, por exemplo, aumentarem o horário para 40 horas, porque eles não são diferentes e nunca trabalharam", o que não pude obviamente concordar com tal disparate, mesmo gostando dela. 
   Primeiramente, peço desculpa, mas digo, porque é verdade: existem pessoas fantásticas a trabalhar na função pública. E no privado não existe? Sim existe, mas aí é consensual, e infelizmente quando o discurso se torna obsuleto ou tendencioso, sem conteúdo substancial valorativo na argumentação, tudo cai por água abaixo. Eu sempre achei e continuo achar que a função púlica precisa de uma verdadeira reforma, mas a sério. Quem não acha? Mas a reforma passa pelo aumento do horário de trabalho e pela redução de salários? Não me convencem e deixam-me a pensar que estão a piorar e agravar a situação, e adiar aquilo que um dia será inevitável: reforma do Estado. Já escrevi que não concordo com as 40 horas semanais, acho de uma forma simpática, uma medida infeliz e desconexa da realidade. E porquê cortar em pessoas que ganham acima de 600 euros, ou seja, 700, 800, 900 euros? Mesmo que seja progressivo, e que vá aumentando à medida que vá sendo maior o salário, é lamentável assistir a tais cortes num país que já por si vende salários miseráveis. Custa-me menos, mesmo que seja imoral (argumentação usada pelas pessoas reformadas que sempre descontaram) que cortem a quem já não esteja no activo, com reformas acima de 2000 euros, por exemplo, do que cortem a quem esteja no activo e receba 700 euros.
   Em segundo, espero que as pessoas consigam perceber que dividir o país em privado e público será uma consequência reflectida a longo prazo, que não deixará o país avançar, uma vez que, hoje ataca-se o público e amanhã haverá represálias contra o privado, por quem vier a seguir governar, ou até de outras formas. Neste momento, quando o país mais precisava de equilíbrio e adequação nos cortes, assistimos a cortes cegos em salários baixos e que atingem o mínimo de dignidade social.
    Em terceiro, dou o meu exemplo, onde no privado, sinto e é notório que existe um sentimento contra a função pública, que são todos uns "malandrecos". Mas aprendi que basta haver um trabalhador honesto e sério para merecer o meu respeito e adequação no discurso. Podem ser poucos ou menos que no privado, não interessa, o facto de existirem pessoas sérias (que existem) na função pública devem merecer o nosso respeito de todos e não a divisão. 
   Por último, ultrapassada a questão do respeito, existe a questão da reforma, onde encaixa muita vezes o discurso dos "malandros" (aqueles que vagueiam pelas autarquias como acessores sem ninguém lhes conhecer a face, apenas os terem visto nos comícios), porque, por exemplo, quando criaram-se empresas municipais, chega o momento de questionar: são necessárias ? Quais os recursos necessários? Onde está a fiscalização? Quais as consequências ao nível de responsabilização dos gestores e presidentes de câmara que acumulam funções? Até onde deve ir o livre arbítrio na nomeação autárquica? Como poder controlar os orçamentos, mesmo havendo descentralização e autonomia económica? Como deve ser feita avaliação interna? 
   Tudo pode ser feito, mas há uma coisa que deve existir: um olhar atento, porque amanhã pode ser tarde ao acordar e ver que tantos cortes acabaram por rasgar e estragar, em vez de remendar. Afinal não existem "patifes", existem pessoas, seja no privado seja no público, e, em ambos, existem bons e maus profissionais.