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quinta-feira, 27 de março de 2014

Estágio em troca de iogurtes

   








   Era quarta-feira penso, e não resisti. Abri o facebook, e, deparo com uma conversa de gente da minha geração a discutir o estágio não remunerado de pessoas que trabalhavam numa empresa X, onde esta lhes dava iogurtes como forma de recompensa pelo que faziam, pelo seu trabalho.
   Nasci já lá vão alguns anos, num tempo onde já havia liberdade. Mas nunca reneguei a história, pelo contrário, sempre lhe tive muito respeito. Esse respeito vem de tudo o que ela me ensinou e ainda hoje me ensina quando ao final da noite ligo a luz do meu candeeiro e vou foliando os benditos livros que ela me proporciona. A história conta-nos que houve tempos em que existiam os chamados "plebeus", e quem eram estes? Eram pessoas que, durante o tempo da monarquia não eram considerados cidadãos e faziam o trabalho que ninguém queria fazer. Pessoas que se esfolavam a trabalhar e ele trabalho não era reconhecido nem respeitado. Ou se quisermos navegar na história, lembremos o tempo do trabalho escravo e de todas as pessoas que lutaram por um lugar de dignidade na sociedade, por um lugar de respeito.
   Quando saí da faculdade, deparei-me com várias propostas de trabalho não remunerado. Lembro e partilho uma delas aqui. Liga-me e dizem que fui seleccionado e segunda já podia começar a trabalhar. Como ainda não sabia as condições económicas, perguntei quanto ia ganhar, ao qual me responderam que não ia ganhar. Ou seja, ia pagar deslocações, almoços e não ia receber nada. Pensei eu: "pagar para ir trabalhar?". Disse à Senhora que não obrigado. Ela ficou furiosa e disse que parecia impossível, depois de tudo isto, eu dizer que não, porque se tratava de um escritório de referência. Eu disse-lhe que agradecia imensamente mas não. Diga-me uma coisa: Quem criou esta moda de não pagar pelo trabalho? Mais, ter de pagar para ir trabalhar?
   Bem, o culpado disto tudo, são as pessoas e mais os jovens que aceitam estar nestas condições, e perguntam: São muitos? Infelizmente são, e tenho várias provas disso, desde de colegas das universidades a pessoas que têm os pais como empregadores e não têm noção daquilo que estão a fazer, ou se têm, é muito grave. Nesta questão, tenho e sempre tive uma posição de princípio: nunca mas nunca trabalharei de graça. Querem o meu trabalho, terão de pagar. Tinha 15 anos quando trabalhei num bar, e, lembro-me ainda hoje de uma rapariga que trabalhava de graça. Eramos 8 e uma delas trabalhava de graça. Certo dia, estávamos numa reunião e precisava.se de alguém para lavar os bares. Diz o patrão: "Chamem aquela, a X que ela limpa isso" em tom de gozo. Uma pessoa que trabalha sem receber está mais que provado que dificilmente é respeitada. E, mesmo que assim fosse, uma empresa só contrata alguém se esta acrescentar valor ou, se assim não for, por força maior: cunha.
    É triste e foi por isso que decidi aqui escrever, ver jovens inocentes e sem saberem o que estão a fazer, defenderem estágios não remunerados, esquecendo que isso será uma forma de a sociedade volta a poder cair na teia perigosa que um dia a história escreveu.