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terça-feira, 24 de maio de 2016

Contra Relógio Venezuelano


Nicolás Maduro, Presidente da Venezuela



   Hoje, ao ler alguns testemunhos da situação na Venezuela fiquei chocado e impressionado com a gravidade da sua situação político e social, essencialmente com o caos social em que vive a população, onde há pessoas inclusive a passar fome, e que esperam horas em filas para comprar farinha de milho, sendo que algumas mães, por exemplo, já não comem para deixarem comida aos seus filhos. As camadas mais idosas da população, por exemplo, já não conseguem comprar medicamentos nem comida, sendo que alguns cenários relatados são mesmo chocantes. Até a malária já mata na Venezuela, quando havia desaparecido do país. É relatado que os pacientes com cancro já nem à quimioterapia conseguem ter acesso. A criminalidade aumentou a olhos vistos, sendo relatados casos de saque diários.
    Em contraste, o seu Presidente Maduro faz dois comícios por dia, depois de ter decretado o "Estado de excepção" com o argumento de ter que defender o povo do golpe em curso promovido por forças externas. Será que a taxa de inflaçao de mais de 180%, que colocou mais de 70% da população na miséria é culpa de forcas externas? O problema é que o povo já está acordar na Venezuela e cada vez menos acreditam no "chavismo", e quando vemos os bairros onde Chavéz era idolatrado a saírem à rua com cartazes a pedirem o golpe, e que haja mudança, é um sinal que está por um fio este regime. E, se o uso da força continuar a ser a principal arma de arremesso do Governo de Maduro, as coisas vão piorar e teme-se mesmo uma Revolução. Maduro utiliza o argumento mais fácil e mais à mão de qualquer ditadura: a violência sobre seus opositores ou manifestantes. 
   A Venezuela é uma verdadeira bomba contra relógio, prestes a explodir a qualquer momento.

Amiga "Linda", a sem-abrigo que nos deixou

   




   Vivia longe dos holofotes da realidade, viva isolada numa vida que poucos entendiam, vivia desprezada por aqueles que um dia tanto ajudou, vivia uma mágoa dentro de si que ofuscava qualquer memória, vivia um dia-a-dia diferente, vivia na ansiedade de poder um dia ter um acordar diferente, vivia na angústia e no medo de não saber o que a esperava, vivia na fronteira das ajudas, viva ali sentada num banco de uma paragem de autocarros, mas tinha sempre um sorriso quando me via, e mesmo quando eu estava com pressa, gritava ou chegava mesmo até a correr para vir ao meu encontro.
   Hoje, quando me ligaram e soube do seu falecimento, fiquei profundamente triste. Ainda não sei qual a razão, o que se passou, mas sei que podia ter sido diferente. A "Linda" era uma sem abrigo que vivia na paragem em frente ao McDonald`s do Hospital São João, ali passava seus dias, na ânsia de que algo mudasse, de que a vida lhe proporcionasse uns dias melhores, apenas isso. Ultimamente tínhamos falado muito, e estava tudo encaminhado para poder ter lugar no albergue o mais rápido possível. A última vez que estive com ela, fui com ela pagar-lhe uma sopa, dei-lhe um dinheiro para ir comer qualquer coisa, e, ela expressava-me que esperava por um lugar no albergue. Lembro-me que no fim, quando já íamos embora, ela disse-me: "fui abandonada por toda a gente", num tom triste e de sofrimento, mas onde ainda havia lugar para o tradicional e tão bom sorriso de agradecimento, camuflado por uma alegria ensombrada por uma vida onde fora condenada e encostada, uma vida que a colocou desligada e frágil perante todos, e à vista de todos, como uma forma de humilhação pública, numa paragem de autocarros. 
   Quando paro para pensar, penso e aprendi cedo que aquilo que toca aos outros, em parte também nos deve tocar a nós, porque afinal fazemos todos parte do mesmo, de um mundo perecível, que mais cedo ou mais tarde desaparece, pelo menos à vista de cada um. 
   Sei sempre que podia ter sido feito mais, mas, sei que parei, fui ao encontro, estive ao seu lado muitas vezes e fiz algo para mudar a vida desta nossa amiga, e, fico profundamente triste por não ter sido suficiente.
   Até sempre amiga "Linda".


segunda-feira, 16 de maio de 2016

Ditos Contratos de Associação


Pomba Branca - símbolo da liberdade



   É pena quando se dá lugar à demagogia, em detrimento da sabedoria. O debate em torno dos contratos de associação tem dado a ideia de que é preciso poupar, por isso se uma escola pública está lotada e ao lado existe um colégio privado a receber alunos e com contrato de associação, a ideia é acabar com esse financiamento e colocar esses alunos na escola pública. É bonito ver as coisas de um prisma assim tão objectivo e "radicalizado", mas estão longe da realidade, que é o interesse do aluno. Em primeiro lugar, é verdade que estes contratos de associação surgiram na década de 80 numa altura em que haviam zonas do país com faltas de estabelecimentos de ensino, mas não podemos hoje justificar o fim dos contratos de associação com este argumento original (existências nessas zonas de escolas públicas), porque seria ignorar todo o bom trabalho feito por determinados estabelecimentos privados e o desenvolvimento que estes tiveram bem como a sua importância na educação dos alunos. Sim, porque a discussão continua a ignorar o superior interesse do aluno. Em segundo lugar, numa matéria tão sensível como a Educação, sendo um pilar da sociedade (através do qual qualquer pessoa pode ascender na vida), custa-me ver argumentos de "poupança", principalmente ignorando o aluno, quando por outro lado, se toma medidas despesistas algo discutíveis como a oferta de manuais escolares para todos os alunos do primeiro ciclo do público e privado. Nao estou a insurgir-me contra esta medida de oferta dos manuais escolares, mas acho que tem haver equilíbrio nas medidas, e, se entrarmos num discurso demagógico e popular nesta área, corremos o risco de regredir, o que seria evitável. Em terceiro, se há escolas que merecem deixar de receber o financiamento do Estado? Ninguém tem dúvidas, mas de certeza que também existem boas escolas, onde se pratica um bom ensino há anos, e , de um momento para o outro, encerrar este financiamento não parece ser uma medida sensata, porque irá afectar alunos (que devem ser os últimos a ser prejudicados) e todos os docentes. Todos sabemos que existem colégios que nem deviam sequer estar de portas abertas, mas também não existem escolas públicas? Isto para dizer que devemos premiar e deixar em funcionamento as boas escolas, onde se pratica um bom ensino, e naquelas onde não se pratica, tentar perceber a razão, que muitas vezes está no corpo docente, ou na direcção, ou até mesmo na falta de investimento. As que tiverem fechar, fazê-lo, mas ai podemos estender o debate muito mais além, passando inclusive pelas universidades, onde algumas estão abertas com um ensino péssimo e de fraca qualidade, mas aí o Estado financia e não levanta problemas. Se o interesse fosse o aluno, a discussão centrava-se em torno de o aluno poder escolher (ter essa liberdade) o local onde quer estudar, e o Estado permitir que o aluno tenha essa escolha, e não coloca-lo onde o Estado quer e decida, porque isso será sempre demagógico, e jamais defenderá em Portugal o interesse do aluno.
    Posto isto, concordo com o fecho de escolas privadas onde já exista uma escola pública, se essa escola privada não praticar um ensino de qualidade (avaliado de uma forma rigorosa, com diversos parâmetros e ter em conta), caso contrário, estaremos a destruir e a contribuir para o regredir da Educação. 
   Nao temos em Portugal um ensino público de qualidade, mas quem quiser defender isso, também existe essa liberdade, mas que nunca devemos esquecer que "todas as crianças devem ter direito, independentemente do rendimento familiar, a usufruir do apoio do Estado, quer seja no ensino público, quer seja no ensino privado" (in Declaração Universal dos Direitos das Crianças - 20 de Novembro de 1959), e perceber e interiorizar que essa liberdade é fundamental para a boa qualidade do ensino, independentemente das ideologias ou pensamentos monitorizados.



sábado, 7 de maio de 2016

Presidente da República: agora existes!


Marcelo em visita de Estado a Moçambique : 03 de Maio de 2016




   Se, há até há pouco tempo, não existia um Presidente de República, agora ele existe, tem nome e é igual a si próprio, sem maquilhagem. Ainda bem, é tão bom podermos ter alguém, a nossa figura mais alto do Estado que seja igual ao que era antes de ser eleito , e, seja próximo das pessoas, daqueles que lhe deram o voto e o colocaram na Presidência. Ainda, agora, quando "dançou" em Moçambique em visita de Estado, deixou muita gente estupefacta e soaram algumas críticas, mas isto devia ser um exemplo, porque quando se é igual a si próprio deve merecer aplauso e Marcelo não mudou, continua a ser aquela pessoa simples que vê nas pessoas a sua grande admiração, e não deixa de quebrar o protocolo para visitar ou dar um gesto de carinho ou até mesmo confortar esta ou aquela pessoa, e isso é de louvar e é tão bom termos alguém assim, termos um Presidente. Ainda bem que agora existes, que agora Portugal tem um Presidente da República.