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quinta-feira, 23 de junho de 2016

Brexit


Margaret Thatcher, líder do Partido Conservador Britânico em 1975



   Será hoje o início do fim da União Europeia? Será possível haver Europa sem o Reino Unido? Será que o risco de perder o partido sobrepôs-se ao risco de sair da U.E.? Será que o referendo foi a utilizado como instrumento de consulta popular excepcional ou como manobra política? Será que o efeito Donald Trump chegou ao Reino Unido?
  O Reino Unido é hoje um país completamente divido, e a estratégia adoptada pelo Partido Conservador talvez tenha sido um acto precipitado, uma espécie de fuga para a frente em detrimento das alegadas e visíveis pressões internas. David Cameron teve decidir: entre risco de perder o partido ou sair da União Europeia, tendo ficado refém e prisioneiro da sua promessa eleitoral. Esta decisão, e seja ela qual for, já terá danos irreversíveis numa Europa cada vez menos fortalecida. Se ganhar mesmo o "não" será um terramoto sem ser possível contabilizar sequer as mortes e os feridos, porque serão milhões de povos que verão suas vidas mudar e poderá ser o início do fim da Europa de Robert Schumann. 
    A crescente xenofobia e discriminação dos povos, em paralelo com o ideia do que esta crise será permanente e sem solução à vista, está criar um efeito Donald Trump no Reino Unido, onde cada vez mais a ideia de fechar as fronteiras e hostilizar os imigrantes é um caminho a seguir, aproveitando esta crise dos refugiados para a estender à imigração europeia, sendo este um mote perfeito para acordar os eurocéticos e mandar embora também todos aqueles que não são seus nacionais. E a recente morte de Jo Cox, uma deputada britânica e defensora da permanência do Reino Unido na Europa, é um sinal desse movimento, que deve ser evitado e "aniquilado" a todo o custo.
   Todos devemos repensar estas formas de utilização dos instrumentos de consulta popular, porque cada vez mais estas são utilizadas como manobras políticas (seja porque foram promessas eleitorais ou porque fazem parte de uma estratégia política) e não como último recurso ou como forma excepcional. E isto é preocupante, porque quando assim é, duvido que os interesses dos povos e das suas comunidades sejam prioridade, mas antes estão subordinados ao interesse político, o que fragiliza e acaba mesmo por desvalorizar a própria democracia directa.
   O melhor é termos o Reino Unido na Europa, e todos nós esperamos que se repita o resultado de 1975, quando o partido trabalhista de Harold Wilson (também fazendo jus a uma promessa eleitoral) realizou um referendo sobre a presença do Reino Unido na CEE, tendo ganho os defensores da permanência. Até Margareth Thatcher, um ícone do partido conservador, foi uma defensora da permanência do Reino Unido, e, mesmo tendo um partido com opiniões opostas, soube sempre manter a posição firme e coerente. Embora hoje a Inglaterra esteja mais dividida, juntamente com o País de Gales, sendo que a Escócia e a Irlanda do Norte são as que se mostram mais estáveis à permanência.