Talvez, um dia quando se contar a história de 2016, vamos lembrar que estivemos na presença das mais fracas eleições presidências americanas que há memória, com dois candidatos de popularidade muito baixa e onde se discutiu tudo, menos política. Surpreendeu-me, mais por Hillary Clinton, porque esperava mais. No meio disto, houve a vitória de Donald Trump, e, agora? Para onde vai a América?
Uma noite ao estilo americano, mas desta vez, com o medo de afirmar que o vencedor era Donald Trump. O comportamento, no mínimo e forma elogiada, ridículo do porta-voz de Hillary Clinton pedindo ás pessoas para irem para casa quando às 6 da manha já era visível a vitória de Trump foi o espelho do desastre eleitoral dos democratas. Mas como foi possível este resultado acontecer?
Hillary Clinton é uma grande pessoa, mas, teve e tem o problema de não ter conseguido fazer política para todos os americanos, e tocar nas pessoas, porque a mensagem não passou. Quando estive em África, tive oportunidade de conhecer Hillary Clinton, quando esta veio anunciar a extensa do programa "Millenium Change Account", que consistia no financiamento para o desenvolvimento das zonas mais pobres em Cabo Verde. Aí conheci uma pessoa fantástica, de um trato soberbo, com uma urbanidade contagiante e uma sensibilidade arrepiante, com carisma e com um futuro muito promissor, que cativava quem ouvia e escutava suas palavras. Isto para dizer que a partir dali, passei a admirar a pessoa Hillary Clinton.
Mas, infelizmente, nesta campanha não esteve bem, e fez opções discutíveis, bem como afastou-se do eleitorado, numa estratégia política pouco eficaz. Quem gostou de a ver a dar comícios diariamente rodeada de famosos? Será que isso angariou votos? Eu não gostei. Na minha opinião, fez-la perder e muitos, porque uma coisa, é aparecer uma vez, outra coisa, é aparecer todos os dias. Quem gostou de a ver rodeada das elites, e, insistentemente, aparecendo com o marido a seu lado? Foi um erro, porque a classe que mais vota é a classe média, e essa é uma classe devastada pela crise, e, mesmo que não precisasse de se desligar das elites, devia ter tido outro cuidado nas aparições públicas, e não teve, e isso foi uma das coisas que custou-lhe a eleição. Nunca conseguiu com que fossem transmitidas mensagens políticas fortes, e deixou-se mergulhar nas águas de Donald Trump, onde o discurso deslizava para a demagogia e o populismo cego.Foi demasiado suave na luta política, e mostrou-se demasiado permissiva para uma América que quer alguém decidido e que mostre bem o que quer fazer. E o discurso de continuidade, sem ideias novas, e sobretudo sem a palavra "mudança", foi o seu maior erro, porque nunca prometeu mudança, e a América isso nao lhe perdoou.
Trump teve a sorte de ter do outro lado uma candidata de continuidade e que nao esteve bem, que permitiu que alguém como Trump pudesse ser hoje presidente dos E.U.A. Aqui a estratégia foi oposta da de Hillary, e, desde do início, que a palavra "mudança" estava no seu discurso e foram várias as promessas. Desde de impedir a entrada de muculmanos e expulsar 11 milhões de clandestinos que vivem no país; a construção de muro na fronteira do México para impedir a entrada dos violadores; a ordem para mandar prender Hillary; prometeu acabar com ISIS em um mês; acabar com o Obamacare; etc. Será que vai cumprir o que prometeu? Quanto a Hillary duvido muito, e será demagogia pura e dura, e o discurso de vitória (que foi dos mais fraco a que assisti politicamente) já antevê que isso não vai acontecer e, seria , obviamente, um disparate, porque América ainda é uma democracia e tem órgãos próprios para emitir mandatos ou julgar as pessoas, e jamais seria o Sr. Trump a mandar prender alguém. Sinceramente, acho que não irá cumprir maior parte destas promessas (contaremos pelos dedos o que conseguirá) , até porque, o congresso e o senado não permitirão, e, mesmo que o congresso seja Republicano, não podemos esquecer que é um partido fracturado, e que deixou de apoiar Trump a meio da sua candidatura. Mas por muito demagógico e populista que seja o seu discurso (e em parte, perigoso), não podemos deixar de atribuir um certo mérito político, e não devemos cair no erro como fizeram maior dos órgãos norte-americanos, de ignorar a sua vitória, que foi carimbada pelo povo americano. Trump dirigiou-se e falou muito para a classe média, que representa a maioria, e expressões como "drenar o pântano", caíram muito bem nesta classe, que está descontente com o sistema político e urge por uma mudança, e Trump prometeu ser esse espelho, essa esperança. Esta expressão "drenar o pantano" é curiosa, porque é um alusivo contra o sistema e elites, quando na verdade Trump sempre representou, representa e viveu e vive com essas elites, e, esta é mais uma das suas demagogias, mas que muitas das classes para quem falou, não se apercebem disso, e infelizmente, basta-lhes ouvir bonitas palavras.
A América merecia mais e melhor, e, se necessitamos de pessoas longe dos actuais sistemas (que é uma boa verdade, e também necessitamos a nível europeu), também necessitamos de pessoas longe de sistemas autoritários passados, que assombraram a vida de milhares de pessoas. Mas, quero acreditar, porque a vida assim faz mais sentido, que Trump poderá fazer o mesmo caminho que Ronald Reagen, que também foi pouco amado na campanha para a Casa Branca, e depois tornou-se num dos melhores presidentes de sempre da América, mas espera, ninguém acreditou nesta última parte pois não?