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domingo, 27 de outubro de 2019

sobre Camarate





Quando soube da morte de Freitas do Amaral, uma das primeiras coisas em que pensei foi: perdeu-se um dos maiores opositores à falta de investigação ao caso Camarate. Faltava-me ler um dos últimos livros do mesmo sobre o caso, que já o consegui fazer para poder reforçar a estranha inércia e a rebuscada resolução criminosa (indícios da forte possibilidade de ter havido crime - que foi confirmado pela 10.º comissão de inquérito ao caso). Não deixou tudo o que sabia, mas o que deixou do que sabia sobre o caso é o essencial, que permite a todos perceber porque razão foi, em parte, afastado pela esquerda (que nunca o quis por vir da direita) e pela direita (por ter ido para a esquerda), e porque tentou ser um dos políticos mais silenciados da sociedade portuguesa. Diogo Freitas do Amaral sabia demais sobre o caso Camarate. Nunca afirmou que foi crime, nem nunca afirmou que foi acidente, mas colocou todos os indícios que o aproximava de atentado. Mas nunca percebeu porque o Ministério Público arquivou o processo sem investigar, nem porque razão o mesmo não foi a julgamento. Porque razão não investigaram José Esteve ou Lee Rodrigues (principais suspeitos de colocarem uma bomba no avião)? 
Diogo Freitas do Amaral insistiu nas informações trocadas entre a Scotland yard e as autoridades portuguesas. A polícia inglesa andava atrás de Lee Rodrigues e informou a Portugal da presença deste suspeito nos serviços de manutenção da TWA, no aeroporto de Lisboa no dia 04.12.1980 e de que se tratava de um indivíduo perigoso em armas e explosivos. Ele é detido no dia 11 (pelas autoridades inglesas) e recusa-se sempre a falar de Camarate. José Esteves tinha um passado ligado ao tráfico de armas e chegou a ser interceptado com armas e explosivos pela PJ mas nunca foi investigado. Freitas do Amaral esteve envolvido nesta troca de informações, chegando a receber telegramas do embaixador português em Londres que desapareceram. 
A 10.º comissão de inquérito (2015) referiu e concluiu que a queda do avião deveu-se a um atentado, mas isso não chega. Falta rigoroso inquérito ao desaparecimento de variados documentos e sobre correspondência oficial trocada entre vários organismos, entre eles, por exemplo, os acima referenciados, que envolveu Freitas do Amaral, e, mais grave, os que dizem respeito à exportação de material de guerra para o Irão. Muita coisa ficou por apurar.
Uma investigação que ficou por fazer. Os autores imediatos estão identificados, mas foram protegidos estranhamente por um grupo organizado, que teve um único fim. Os autores mediatos deixaram pontas soltas ao longo do tempo. Basta lembrar do duplo homicídio de José Moreira (dono do avião Cessna que transportou Sá Carneiro e Amaro da Costa) e sua mulher em 1983, a poucos dias de revelar no Parlamento tudo o que sabia sobre o caso, sendo testemunha central. Os autores mediatos (que mandaram praticar o atentado) tornaram-se intocáveis, foram peritos de uma das mais bem sucedidas resoluções criminosas (planeamento do atentado).