Hoje em dia, será admissível que um doente não seja visto no tempo adequado? Será que estamos perante um estado de sobrevivência na saúde?
O acesso à saúde por todos é um direito fundamental, plasmado na Constituição da República, mas infelizmente, um direito que é fraco para uns, e forte para outros. Somos dos países mais desiguais no acesso aos cuidados de saúde, onde o sistema público de saúde está "doente", e o remédio para a sua cura demora a chegar, e enquanto isso, sofrem os mais frágeis. Foi há uns dias, que tive em conversa com um provedor de uma santa casa da misericórdia e entre os vários problemas, debatíamos a questão das pessoas que tinham de recorrer por exemplo a uma urgência (sobretudo pessoas idosas) e esperavam num hospital público 4/5 horas, quando não era o dia todo, como contou. Estamos a falar de pessoas, algumas que fizeram descontos que ascendiam aos milhares de euros, e não têm um sistema público de saúde digno que lhe devia ser oferecido. Contei-lhe um exemplo que acho que sensibiliza qualquer pessoa. Um dia, num restaurante, um empregado confidenciou que estava há um ano há espera de uma consulta de neurologia, e já tinha desmaiado duas vezes. Perguntei: Não há possibilidade de conseguires consulta mais cedo? Ao qual me respondeu: Não, sou pobre, não tenho dinheiro para ir ao privado a um especialista. Passado poucos dias, e logo no momento em que se tinha encontrado uma solução para consulta mais cedo, soube-se que a pessoa teve de ser internada de urgência e tinha a ver com o problema que tinha na cabeça. Era grave e já não voltou do hospital.
As soluções podem ser variadas, e parece passar essencialmente por ter mais médicos nos hospitais e maior investimento em equipamentos, mas antes disso, deve passar por olharem para o doente como uma pessoa, um ser humano e não permitir que haja listas de espera de consultas de 1 ano, e, num hospital, onde estejam 70 doentes, não permitir que haja algum que esteja ali encostado ou esquecido horas, deve haver uma maior controlo dessas situações, porque podemos mudar, e devemos sair deste estado de sobrevivência na saúde.