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sábado, 27 de outubro de 2012

Caso France Telecom



    




    E tudo começou com a privatização da empresa, em 1998.
   Lembrar o caso da France Telecom, investigada e condenada, é lembrar e pôr a nu o terror da dita "restruturação de empresa" que os seus executivos pretenderam levar a cabo. Para quem não sabe, e não acompanhou o caso, esta empresa foi privatizada em 1998, e, em torno desse facto, houveram ordens expressas para "eliminar pessoas", em que um dos gerentes ficou com um grupo (entre vários, que ficaram cada um com os seus grupos) e a estratégia era dar ordens aos trabalhadores, de forma a que eles não conseguissem cumprir, e aumentando de forma significativa o seu volume de trabalho, pressionando-os, isto é, até não aguentarem. Um dos trabalhadores, tinha que fazer traduções noite após noite, foi uma das vítimas nas mãos destes executivos criminosos (foram condenados), e acabou por suicidar-se.
   Em finais de 2010, eram um número de 46 suicídios, de trabalhadores que não conseguiam cumprir as tarefas que lhe eram designadas, algumas, consideradas impossíveis, mesmo para quem abdicasse de almoçar e jantar. Veja-se agora as diferentes declarações. A primeira, de um trabalhador, que se suicidou, tendo antes deixado um bilhete escrito á sua mulher : "Faço isso por causa do meu trabalho. É o único motivo", e, a declaração de Didier Lombard, presidente da empresa, reagindo à morte deste trabalhador : "Isso virou moda". No mínimo, chocante e humilhante.
   Claramente houve assédio moral aos trabalhadores, sendo que assédio moral no local de trabalho acontece quando um trabalhador está sujeito a actos susceptíveis de sacrificar, humilhar, ameaçar ou diminuir a sua auto-estima, originando riscos para sua saúde física e mental, e em casos extremos, a perda do posto de trabalho. Uma das definições clássicas de assédio é a de Hirigoyen: "O assédio moral no trabalho define-se como sendo qualquer comportamento abusivo (gesto, palavra, comportamento, atitude…) que atente, pela sua repetição ou pela sua sistematização, contra a dignidade ou a integridade psíquica ou física de uma pessoa pondo em perigo o seu emprego ou degradando o clima de trabalho".
   A Inspecção Geral do Trabalho acabou por ser chamada e desvendou-se o mistério da privatização, que era aproveitar a debilidade da posição do trabalhador, e, sacrificar a sua posição em torno dos objectivos econômicos da empresa. 
   Mas não acaba tudo aqui. Recentemente, um dos processos de formação da empresa, foi dar um gatinho aos trabalhadores para tomarem conta e sabem qual era a ordem depois de tratarem dele durante um determinado tempo ? A ordem era para matar o gato. Uma das trabalhadoras recusou, não conseguiu matar o animal (refiro-me ao gato), e, em detrimento disso, foi renegada, humilhada, encostada para um canto, pressionando-a abandonar por si a empresa (uma realidade cada vez mais dos dias de hoje), ou seja, foi vítima de assédio moral.
   Nestas situações, o trabalhador tem liberdade para chamar , e é seu dever, a Inspeção geral do Trabalho.
   É verdade, a France Telecom atingiu os seus objectivos, eliminou cerca de 40 mil empregos, desta forma que todos e o mundo teve oportunidade de conhecer, fácil e criminosa.
  As investigações prosseguem, sendo que, já este ano, ex director executivo e dois responsáveis pelos recursos humanos da empresa estão a ser investigados pelo caso dos suicídios na empresa e o ex presidente Dider Lombard enfrenta a barra dos tribunais pelas consequências humanas de um plano de restruturação. O tribunal de Paris condenou-o por assédio moral, em detrimento da vaga de suicídios. Pagou uma fiança de 100 mil euros para permanecer em liberdade, mas quem não respeita a liberdade dos outros, não tem legitimidade para invocar a sua própria liberdade. Como final de uma sentença, o juíz podia ter escrito : "Para o réu, a eliminação de meios humanos justificava os seus fins".