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quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Acordo Frágil








   Foi apresentada esta terça-feira uma moção de rejeição do programa do Governo pelo PS na Assembleia da República e foi aprovada com maioria. O designado "acordo" afinal traduziu-se numa posição conjunta assinada separadamente entre o PS e o PCP, Bloco de Esquerda e os Verdes. Tive oportunidade de poder rever o debate, as intervenções e as sucessivas justificações para apresentar tal moção de rejeição. Sinceramente, como anteriormente já disse, continuo a duvidar da presença do PCP nesta "posição conjunta", não pela sua ideologia (que no limite até podia ser adormecida em algumas questões para viabilizar um acordo), mas sim pelas palavras de Jerónimo de Sousa ainda em Julho deste ano atacando o PS, dizendo que " PS e PSD são farinha do mesmo saco". Ainda não ouvi nenhum desmentido ou mudança de opinião por parte do PCP sobre tais declarações, que são importantes e revelam muito da forma de combate do PCP. E isso vai acabar por ser um problema para o PS, porque o PCP jamais vai abdicar do seu eleitorado, que é um eleitorado de combate, onde a sua ideologia está longe, em diversos pontos, da do PS. E se é verdade que a ideologia não deve ser razão para afastar soluções governativas, como disse António Costa, com alguma razão, também é verdade, e deveria-o ter dito, que a ideologia pode ser determinante no afastamento de efetivação de medidas ou reformas de longo prazo e quebra de acordo. Sendo que ele sabe e defendo-o que o país precisa de medidas e reformas a longo prazo.
   Se esta moção é constitucionalmente legítima, duvida-se da sua legitimidade política, não por ser o PS apresentar, mas porque vai contra uma vontade popular que elegeu um determinado governo, e, o mais importante, é que cria uma excepção política, que, a partir de hoje, pode ser reivindicada e sustentada por qualquer partido representativo, seja ele extremista ou não. Mas, na minha opinião, o mais grave não é apresentar uma moção de rejeição de um programa de Governo, mas sim não ter um verdadeiro programa de Governo alternativo e sustentável. O PS não assinou um acordo na verdade, assinou sim uma espécie de "compromisso temporário", com várias condições que a qualquer momento podem suspender ou mesmo cancelar o tal "documento" de posição conjunta. E estas condições, vindas legitimamente das outras partes, podem ser um pau de dois bicos para o PS e para o próprio país, porque isto vai implicar que seja negociada medida a medida, e que dificilmente possam ser feitas reformas ou tomadas medidas com impacto na sociedade, porque mesmo que haja pensamentos similares em alguns setores, a forma de aplicação ou a efetivação de aplicar reformas nesses e tomar medidas é divergente. Na Assembleia da República, viu-se um fraco debate, onde mais uma vez, pouco foi dito ou quase nada aos portugueses, e mesmo na apresentação de alternativas, tudo se sustenta em slogans do tipo: "aumento do salário mínimo; repôr pensões; repôr salários; etc", sem na verdade, saber se isso é possível, a forma como vai ser feito e onde se vai buscar receita para poder ter tal aumento de despesa, ou seja, sem explicar as coisas de forma clara e transparente. Do parte das bancadas do Governo, destaca-se o discurso de Pedro Passos Coelho, que esteve bem acima de todos os outros, pois, mesmo que não se concorde, entrar na peixeirada política, não leva a lado nenhum e só torna demagógico o debate e deixa uma imagem má e pouco favorável. Aliás, neste ponto quem pode perder é tão só e apenas o PS. Aqui tanto PSD como CDS só têm de assistir ao que se vai passar e ter uma atitude probe e não mostrar que estão agarrados ao poder, porque mesmo que não se diga, algumas intervenções mostraram isso, ao contrário de Pedro Passos Coelho, que conseguiu mostrar a razão pela qual foi primeiro ministro de Portugal.
 O mais incrível e impressionante neste cenário todo político é que o país passou por um período de crise que já não se via desde 1929, o pior depois do 25 de Abril de 1974, e com tantas pessoas a passar dificuldades no nosso país, o PS, o seu líder António Costa não conseguiu sequer ganhar as eleições e convencer os portugueses que podia ser uma alternativa. Não ouve sequer uma palavra para essas pessoas. Porque, uma palavra para os reformados, não é apenas cortar ou aumentar pensões. Uma palavra para os funcionários públicos não é apenas aumentar ou cortar salários. Uma palavra para os desempregados, não é apenas aumentar ou diminuir o prazo de duração do subsídio de desemprego. Uma palavra é perceber as dificuldades das pessoas, ir ao terreno e criar medidas e reformas que as ajudem a ultrapassar sua situação. E, este Governo, falhou em diversas coisas, principalmente na área social, onde pouco foi feito, e o PS incrivelmente não conseguiu capitalizar esse descontentamento, o que não deixa de ser surpreendente e mostra muito que a política precisa é de renovação de pessoas.
   E se nesse momento excepcional não o conseguiu, não acredito que vá ser agora, após provocar a queda de um governo, que vá conseguir ser uma melhor alternativa, mas vamos aguardar, com um conselho: responsabilidade, caso contrário, pode ser o fim do PS, e António Costa será seu responsável.