Francisco Marto e Jacinta Marto, vítimas da gripe espanhola |
A casa de sarmento (pertencente à Universidade do Minho) disponibilizou uma publicação online e gratuito sobre a gripe espanhola de 1918. É muito interessante. É fácil perceber a inspiração actual de vários países, inclusive Portugal, em muitas soluções adoptadas no combate à gripe espanhola que matou aproximadamente 50 milhões de pessoas. Uma gripe que teve três vagas em Portugal: duas em 1918 e uma em 1919. Nitidamente existiu um avanço ao nível da medicina e resposta à crise sanitária, mas curioso que as reacções humanas são idênticas, o medo e o pânico são iguais à mais de 100 anos. A falta de prevenção e a tardia resposta do poder político foi uma das causas do descontrolo da epidemia. Em Espanha tornaram alimentos e medicamentos, por exemplo, mais acessíveis à população. A regulação do mercado, sobretudo a especulação é uma das falhas que tem acontecido em Portugal em pleno 2020 no combate ao coronovírus, onde verificamos que não existe uma disciplina e controlo (como deveria existir) na regulação de preços de produtos essenciais nem há um discurso severo para impedir os lucros com a desgraça alheia. Não se compreende como uma garrafa de gás continua a custar 27 euros quando em Espanha custa 14 euros. Não se compreende como é que uma máscara custa 10 euros, quando deveria custar 1 ou 2 euros. Não se compreende os preços dos frascos de álcool serem tão elevados. Não se compreende a subida de bens alimentares de primeira necessidade para o dobro e alguns casos quase para o triplo em determinados estabelecimentos comerciais. Este é um dos focos de crescente e imparável desigualdade social. Portugal, em 1918, tinha o Dr. Ricardo Jorge como Director-Geral de Saúde, que dizia: "quando o mal vier, cama, dieta, tisanas e médico". Todas as medidas já tomadas pelo actual Governo de Portugal foram tomadas em 1918, mas mais tarde. E os tempos são diferentes, sendo que em 1918, já nos finais da primeira guerra mundial, o vírus deparou-se com uma população já debilitada, com carência de essenciais, um país rural e pobre, onde o problema da miséria era mais doloroso que a própria doença. Veja-se que houve distritos onde foi implementada a "sopa económica" para evitar a fome. Mas, num paralelo com a actual crise, esta também no passado, como todos os dados indicam para a actualidade, atingirá os mais frágeis e mais pobres. O papel do Estado agora e após a crise sanitária será fundamental para a sobrevivência social de milhares de famílias. Em Portugal há quem fale em 60 mil mortes e quem fale em 100 mil mortes causadas pela gripe espanhola. Só aprendendo com o passado, podemos pensar e antecipar o futuro.
Link da publicação: http://repositorium.sdum.uminho.pt/handle/1822/64699