"À 1h 30 m da manhã do dia 30 de Março fui acordado por violentas pancadas na porta, que logo identifiquei como sendo a polícia. «É agora» disse para comigo ao abrir a porta para encarar meia dúzia de agentes armados. Viraram a casa de alto a baixo, apreenderam todos os papéis que encontraram, incluindo as transcrições que eu andava a fazer das histórias da família e da tribo contadas pela minha mãe. Nunca mais lhes pus a vista em cima. Fui detido sem mandado e não me deixaram contactar o advogado. Recusaram-se a informar a minha mulher sobre o local para onde me levavam. Limitei-me a acenar-lhe com a cabeça, não era momento para palavras de conforto. Fomos metidos num pátio acanhado onde só tínhamos o céu por tecto e uma lâmpada fraca para nos iluminar , um espaço tão pequeno e tão húmido que ficámos de pé durante toda a noite. Às 7h 15 m fomos levados para uma cela minúscula com um único buraco no chão a servir de sanita e que só podia receber água do exterior. Não nos deram cobertores, comida, esteiras ou papel higiénico. O buraco estava quase sempre entupido e o fedor dentro da cela era insuportável. Apresentámos vários protestos, um deles por causa da falta de comida.".
Nelson Mandela - "Um longo caminho para a liberdade" (página 231)