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sexta-feira, 22 de maio de 2020

Desigualdade Social





Quando és contactado por uma pessoa querida que andou contigo no ensino básico e secundário e constatas que nem todos tiveram a mesma oportunidade de estudar é algo que revela as fragilidades de qualquer sistema democrático, que ainda está longe de conseguir evitar as injustiças e desigualdades sociais. E ficas com a sensação de que o Estado devia ter outro tipo de papel na Educação, em idade precoce, e não é suficiente a escolaridade obrigatória, quando o problema está em casa. E isto é uma questão muito delicada, mas é o ponto-chave em todo o processo educativo de qualquer criança. Num sistema democrático, nós criamos a ideia de que existem os burros e os inteligentes, mas esquecemos que isso numa idade precoce não existe. E esse desenvolvimento depende em parte do meio social em que estás inserido, a outra parte do papel da escola que frequentas. Como pode uma criança de, por exemplo, 9 anos desenvolver um processo educativo de excelência quando chega a casa e tem uns pais que não valoriza os estudos e promovem o seu desinteresse, aliado ao facto de não possuírem as ferramentas necessárias para instruírem devidamente a criança? A desigualdade social está e estará sempre na Educação. E o trampolim para uma vida melhor a todos os níveis (não apenas financeiro) será sempre a Educação. 

quarta-feira, 20 de maio de 2020

Salva de Palmas




Sinceramente, acho que os portugueses merecem uma salva de palmas. O comportamento e as precauções tomadas pela generalidade das pessoas tem sido um exemplo. Reparo isso com o desconfinamento, onde as pessoas usam máscaras e têm cuidados redobrados no contacto pessoal. Bem como todos aqueles que abriram seus estabelecimentos, onde a cada cliente é feita uma desinfecção e, por exemplo, no caso de restaurantes, alguns só aceitam com reserva antecipada. Estes comportamentos vão ser compensados e se, a nível político, soubermos definir prioridades, acho que podemos sair disto de uma forma diferente de todas aquelas que são expectáveis.



terça-feira, 19 de maio de 2020

Ilogismo ou Populismo






Não sou profissional de saúde, mas se fosse e ouvisse algumas propostas que por aí andam a ser tornadas públicas de incentivos ao nível de pagamentos de prémios monetários para quem esteve na linha da frente a combater o Covid-19, facilmente abdicaria desse dinheiro em prol daqueles que nada têm ou que fazem fila nas ruas do nosso país para conseguir bens alimentares. O projecto de resolução do PSD não define a escolha desses profissionais de saúde, salientando "os que fizeram um esforço adicional fruto da Covid-19 devem ser identificados pelo Governo". Isto é abrir a porta para poder abranger todos aqueles que estiveram presentes, numa arbitrariedade e indeterminação que é o que menos precisamos neste momento. Reconheço que foram extraordinários aqueles que estiveram a combater na linha da frente e foram determinantes para o nosso sucesso, mas não podemos esquecer aqueles que foram proibidos de combater, mesmo que noutras áreas, não salvando vidas, mas que diariamente lutavam e lutam (agora mais) para salvar as suas famílias e os seus negócios. Alguns não recebem há 2 meses e já tiveram de fechar. E tiveram de continuar a pagar as contas. E alguns são profissionais de saúde. A título de exemplo os dentistas, entre outros. Mas muitos não o são, como por exemplo os pequenos empresários, que pouco ou nada receberam e tiveram aguentar com as suas actividades estagnadas, sem facturação. E ainda existem aqueles que ficaram sem trabalho em virtude do Covid-19 e sem resposta para cumprir com as suas obrigações, a todos os níveis.


quarta-feira, 13 de maio de 2020

Peregrino de isolamento




terça-feira, 12 de maio de 2020

Velho Banco




Em 2009, alguém proferiu as seguintes declarações (numa alusão ao admirado BPN, que já custou ao Estado 5000 milhões de euros): "a melhor forma de assaltar um banco é geri-lo". Talvez passado mais de 10 anos, possamos aplicar por analogia ao Novo (mais velho) Banco? Não podemos, parece que devemos. E estender que não é apenas geri-lo, mas investindo nele, como aconteceu com determinadas empresas sombra que quase ninguém ouve falar, como se houvesse um pacto secreto para não divulgar ou falar. Os pactos de silêncio são um "costume" nos corredores de poder quando em causa há distribuição oculta de dinheiro para os todos os intervenientes. Mas, tolerar práticas criminosas a nível de gestão bancária e a um nível total de paralisação de todos os órgãos do Estado, incluindo seus órgãos de soberania (com uma pequena exclusão dos tribunais - mas que o MP ainda deixou muitas dúvidas - exemplo caso BES) é algo que coloca em causa qualquer sistema democrático. A injecção recente no Novo (velho) Banco de 850 milhões de euros que paralisou o Estado, num pacto de silêncio ensurdecedor é a prova de que o sistema financeiro tem uma lei especial, diferente dos demais, onde as promessas e as dádivas não são alvo de qualquer punição e onde o silêncio tem valor, mas apenas entre aqueles que obdecem e assinam secretamente tal pacto. 

terça-feira, 5 de maio de 2020

Covid-19 - Lares





Num momento em que há uma pequena manifestação de preocupação em torno dos lares e do abandono de idosos, é pouco compreensível (e discutível) que não tenha existido alternativas para superar o isolamento. Por exemplo, permitir visitas mas com medidas restritivas, com separadores ou mesmo através de meios digitais. Há muito que os lares são depósitos de pessoas em final de vida. Faz lembrar as pessoas que aguardam no corredor da morte pelo seu dia. Já devíamos estar mais evoluídos e este é um problema gritante de vários países, principalmente no sul da Europa, onde existe um número galopante de idosos, em comparação com o número de jovens. Diogo Vasconcelos, que infelizmente faleceu numa idade precoce, já alertava para a necessidade de mudarmos esta forma de ver a 3.º idade e introduzir inovação e ruptura com este velho modelo. Sem dúvida que com tanta tecnologia, tanta inovação em tanta coisa, olhar para os lares é como que olhar para uma qualquer cidade pobre em África onde ainda não existe saneamento básico. Parece que não evoluímos aqui, parece que estamos ainda em antes de 1974. Não saber o que fazer com pessoas que nos deram tanto em vida é algo preocupante e merece uma das maiores reflexões do nosso tempo. E a tudo isto juntam-se factores estruturais ao nível do trabalho, por exemplo, que têm dificultado a nível familiar a proximidade geracional e facilitado a falta de acompanhamento necessário e fundamental da vida de um idoso.

segunda-feira, 4 de maio de 2020

Eva Mozes Kor




Há algum tempo, quando comecei a ler de forma exaustiva e intolerante tudo aquilo que foi escrito e dito sobre Auschwitz jamais pensei que pudesse ser tão cruel até para um simples leitor as narrativas que ali foram pensadas, soletradas e deixadas num legado que nunca poderá ser efêmero, sob pena de não sermos nada nem ninguém. Quando acabo de ler algo, sinto que todos devemos falar sobre Auschwitz, onde pudermos, com quem pudermos, porque isso foi sempre o que aqueles que sobreviveram pediram, e é simples e há tantas forma de o fazer. Leio sobre muitas coisas, mas sobre Auschwitz há quase que como um dever moral e ético (deixado em legado) de tornar público porque não podemos esquecer o que ali se passou. Fico admirador de cada sobrevivente que ali esteve e de todos aqueles que tentaram sobreviver mas não conseguiram. Eva Mozes Kor foi uma das muitas que conseguiu sobreviver ao templo das atrocidades que foi o Auschwitz. Foi enviada para lá com 10 anos de idade. Sobreviveu porque o famoso Dr. Mengele (médico, designado "anjo da morte") seleccionava gémeos para as suas experiências e Eva, a par de Miriam (sua irmã gémea) foram seleccionadas pelo Dr. Mengele. Infelizmente, Miriam acabou por falecer em 1993. Antes em 1987, Eva doou-lhe um rim, mas foi insuficiente. Depois de tudo que passou, Eva perdoou o médico que lhe fez tão mal durante o tempo que passou em Auschwitz, porque para ela o perdão é uma semente da paz. O que é fantástico alguém depois do que passou ter esta capacidade ilimitada de perdoar. Foi uma das coisas que estagnou a minha leitura (livro " as gémeas de Auschwitz"), quando percebo que ali está alguém que teve uma experiência terrível mas ao mesmo tempo uma experiência e capacidade extraordinária: de perdoar. E tinha um sonho: que o livro fosse utilizado nas escolas para que ensinassem aos jovens sobre o Holocausto e que os inspire nas suas próprias vidas. E é curioso que isto é uma luta de todos aqueles que sobreviveram, ao mesmo tempo que um medo, porque têm medo que algum dia possa existir o semelhante. E como é tão real e genuína essa preocupação, também é actual, porque não estamos livres do acontecimento, estamos apenas longe, e devemos continuar longe. Para isso este sonho deve ser ouvido e todos devemos ajudar a concretizar. 
Eva fundou em 1984 a Candles (Children of Auschwitz Nazi Deadly Lab Experiments Survivors), tendo em 1995 aberto o Candles Holocaust Museum and Education Center, que tem precisamente a função de educar as pessoas sobre o Holocausto. Faleceu a 4 de Julho de 2019 (*). A fé, sobrevivência, coragem, bondade, altruísmo e o amor de Eva nunca poderão esvanecer no tempo.