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segunda-feira, 4 de maio de 2020

Eva Mozes Kor




Há algum tempo, quando comecei a ler de forma exaustiva e intolerante tudo aquilo que foi escrito e dito sobre Auschwitz jamais pensei que pudesse ser tão cruel até para um simples leitor as narrativas que ali foram pensadas, soletradas e deixadas num legado que nunca poderá ser efêmero, sob pena de não sermos nada nem ninguém. Quando acabo de ler algo, sinto que todos devemos falar sobre Auschwitz, onde pudermos, com quem pudermos, porque isso foi sempre o que aqueles que sobreviveram pediram, e é simples e há tantas forma de o fazer. Leio sobre muitas coisas, mas sobre Auschwitz há quase que como um dever moral e ético (deixado em legado) de tornar público porque não podemos esquecer o que ali se passou. Fico admirador de cada sobrevivente que ali esteve e de todos aqueles que tentaram sobreviver mas não conseguiram. Eva Mozes Kor foi uma das muitas que conseguiu sobreviver ao templo das atrocidades que foi o Auschwitz. Foi enviada para lá com 10 anos de idade. Sobreviveu porque o famoso Dr. Mengele (médico, designado "anjo da morte") seleccionava gémeos para as suas experiências e Eva, a par de Miriam (sua irmã gémea) foram seleccionadas pelo Dr. Mengele. Infelizmente, Miriam acabou por falecer em 1993. Antes em 1987, Eva doou-lhe um rim, mas foi insuficiente. Depois de tudo que passou, Eva perdoou o médico que lhe fez tão mal durante o tempo que passou em Auschwitz, porque para ela o perdão é uma semente da paz. O que é fantástico alguém depois do que passou ter esta capacidade ilimitada de perdoar. Foi uma das coisas que estagnou a minha leitura (livro " as gémeas de Auschwitz"), quando percebo que ali está alguém que teve uma experiência terrível mas ao mesmo tempo uma experiência e capacidade extraordinária: de perdoar. E tinha um sonho: que o livro fosse utilizado nas escolas para que ensinassem aos jovens sobre o Holocausto e que os inspire nas suas próprias vidas. E é curioso que isto é uma luta de todos aqueles que sobreviveram, ao mesmo tempo que um medo, porque têm medo que algum dia possa existir o semelhante. E como é tão real e genuína essa preocupação, também é actual, porque não estamos livres do acontecimento, estamos apenas longe, e devemos continuar longe. Para isso este sonho deve ser ouvido e todos devemos ajudar a concretizar. 
Eva fundou em 1984 a Candles (Children of Auschwitz Nazi Deadly Lab Experiments Survivors), tendo em 1995 aberto o Candles Holocaust Museum and Education Center, que tem precisamente a função de educar as pessoas sobre o Holocausto. Faleceu a 4 de Julho de 2019 (*). A fé, sobrevivência, coragem, bondade, altruísmo e o amor de Eva nunca poderão esvanecer no tempo.