O estudo é realizado por um grupo de investigadores do Porto e tem por base os exames nacionais dos últimos 11 anos. Na praça pública a forma como a discussão está colocada é a seguinte: "no privado é tudo mais fácil (não precisamos de tirar a senha), as suas notas inflacionadas permitem ultrapassar até 450 colegas do público". Será esta a forma de solucionar o problema? Será tudo igual? Quais dados de referência para servir de comparação (escola pública)? Será totalmente verdade tudo o que é dito ou será apenas mais uma forma de divisão entre escolas? Até onde nos levarão estas conclusões?
Mais importante que qualquer estudo, é o testemunho e ir ao encontro do busílis da questão.
Primeiramente, temos logo de começar por distinguir as escolas privadas com contrato de associação, porque estas são diferentes das escolas públicas ou escolas privadas com contrato de associação. Isto torna-se claro, porque o contrato de associação obriga a escola a ter seus alunos em condições idênticas ao dos ensino público, no respeito pelo seu seu projecto educativo. O que significa uma diferença grande e não existe dúvidas que tem haver o cuidado de fazer-se tal distinção, sob pena de inflamarmos e distorcemos a discussão pública, e entrarmos no terreno do sensacionalismo puro.
Em segundo lugar, este é um problema real ou residual? Qual o número de alunos em causa beneficiados? Seria interessante saber o número de estudantes beneficiados, para podermos comparar com as vagas disponíveis e tirarmos conclusões reais do problema, sob pena mais uma vez de cairmos no campo da demagogia barata.
Em terceiro lugar, porquê só medicina? Só aí é que há valores "gritantes" de disparidade? Se houvesse noutros cursos também não seriam referidos? (custa acreditar para o leitor) Não será que as diferenças nos restantes cursos seriam praticamente redutoras no seu valor?
Para mim, estudos como estes desviam o problema e escondem a solução. Ninguém defende, se for provado que haja alunos beneficiados numa escola em detrimento da outra. Ma será só nas privadas? E nas públicas? Aqui posso dar o testemunho como alguém que frequentou os dois ensinos (escola pública e escola privada com contrato de associação). Beneficiados, eles existem no público e no privado, e é completa demagogia achar que no público é onde estão os inteligentes e no privado é onde estão os burros ricos. Este discurso servirá para guardar a discussão numa gaveta. Até posso dizer que os casos mais escandalosos de beneficiar alguém aconteceu no público, ou as entradas em medicina que o estudo revela só existem no caso das privadas ? Seria brincadeira pensar nisso. O problema a ser atacado devia ser num acompanhamento diferente das escolas; ou acha-se justo também uma escola que prejudique sistematicamente seus alunos em notas internas, por vezes em cadeiras específicas? Alguém faz alguma coisa nesses casos? Como controlar e sancionar tais escolas? Porquê entender-se que a melhor forma de atribuição de nota final ao aluno é: nota do exame que vale x + a nota dos semestres? Há um real interesse e vontade em acabar-se com os diferentes graus de exigência entre escolas?
Estudos como estes não ajudam a resolver o problema, porque não o expõem da melhor forma e entram mais uma vez na linha que separa as escolas e isso não é bom nem credível, uma vez que, mesmo que haja beneficiados, eles existem em ambas e isso ninguém pode negar e resolver isso não é ver em qual existe mais mas perceber como reduzir isso e alargar o acesso, não prejudicando ninguém.