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sábado, 6 de junho de 2015

Greve dos Enfermeiros

 





   Desta vez, senti a greve, porque bateu-me à porta. Já o disse, mas volto a dizer: se há área em que o Estado não pode prescindir da sua presença e garantir os direitos básicos a todos que precisam deles, essa área é a da saúde.
   Cheguei ao Hospital, dirigi-me à recepção, onde fui informado que teria consulta marcada para as 15 horas, mas seria por outro médico. Aguardei pela minha vez, e, quando chamaram o meu nome, dirigi-me à consulta, onde tinha três médicos a receber-me. Entrei, cumprimentei educadamente os médicos, e após esse cumprimento, ouvi do outro lado o seguinte: "Em primeiro, já deve saber que o médico não está, e só poderá agora vir daqui a duas semanas, porque foi ele que o operou e só ele pode decidir o que fazer quanto ao seu tratamento. Quanto ao curativo, como sabe há greve e não temos enfermeiros para lhe fazerem o curativo ". Respondi o seguinte: "Coloque-se na minha situação e na dos demais doentes que aqui estão, acha que vou esperar mais duas semanas, após ter sido operado, quando já estou há 15 dias imobilizado? ". Não tiveram resposta, e ficaram imobilizados mentalmente, dizendo apenas que nada podiam fazer e teria que voltar noutro dia ao Hospital (comportamento negligente). Saí da consulta, fui à recepção, onde aceitaram devolver o dinheiro se quisesse, porque eu não tive uma consulta e expliquei isso, as quais amavelmente (sem culpa nenhuma, coitadas) compreenderam e informaram também que o médico não viria mais em princípio, ou seja, as pessoas todas que ali estavam e tinham sido operadas por aquele médico e que iriam voltar daqui a duas semanas para a consulta, já não seria com o médico que as operou. Após sair do Hospital, como sabia onde o médico estava (e tinha como lá ir e com quem falar para ir lá), consegui ir ter a outro Hospital onde mesmo estava, e, consegui ser atendido, fazer o curativo e resolver o meu problema, mas a verdade é que os restantes doentes tiveram de ir para casa, e, alguns irão mesmo só daqui a 2 semanas ao Hospital (consequência do comportamento negligente anterior), podendo agravar o seu estado de saúde, porque quando estive com o médico, ele disse-me: "Sim, tínhamos mesmo hoje de fazer o curativo e começar o tratamento".
   Perante isto, o Sindicato dos Enfermeiros Portugueses já admitiu continuar a fazer mais greves enquanto não houver melhores condições de trabalho, principalmente valorização da carreira de enfermagem. Mas, e apesar de serem compreensíveis os argumentos, não haverá outras e melhores formas de conseguir reivindicar seus direitos sem atingir os doentes, que são sempre, directamente, os afectados? Esta "banalização" da greve não poderá ser ela própria perigosa e virar-se contra quem a promove, a longo prazo, se não houver um limite?
    Quanto aos serviços mínimos, que a lei obriga, algo falhou, e não foram cumpridos, porque naquele Hospital, não havia um enfermeiro ao serviço. Aqui, o Sindicato dos Enfermeiros vangloria-se e justifica-se no acordo de 20 anos que existe para prestação desses serviços mínimos. Mas, houve falhas e o Governo devia ter utilizado, com base na lei, a requisição civil, porque o cumprimento dos serviços mínimos é uma obrigação imposta por lei, e que quando não é cumprida, deve o Governo lançar mão da requisição civil.
   A greve, até agora não conseguiu alterações nas condições de trabalho dos enfermeiros (que era a finalidade) mas conseguiu degradar as condições de saúde de muitos doentes.