Em outrora da história, foi Ésquilo quem inaugurou a tragédia grega. Hoje, com o programa de financiamento a terminar na próxima terça-feira, a pergunta urge: quem o fará desta vez? de quem é a (ir)responsabilidade política? Ultimato Europeu ou iniciativa grega? Há lugar para o diálogo? O país aguenta até dia 05 de Julho, dia do referendo? É uma decisão sensata ou dilatória?
O que define um grande político é a capacidade de predizer aquilo que vai acontecer amanhã, daí a uma semana, no mês e ano seguintes. E ter a capacidade, no fim, de explicar porque não aconteceu nada assim. Era bom que se antecipasse o que aí vem, evitando, o que cada vez se torna mais provável, à medida que as horas avançam: bancarrota grega. Pouco sabemos sobre o que passa ao pormenor em Bruxelas. Soube-se que o Syriza queria aplicar uma taxa de 12% sobre lucros das empresas acima de 1 milhão; reforma do IVA (manter escalões, onde por exemplo, o mais baixo, cobre medicamentos); aumentar o IRC e aumentar a contribuição de solidariedade (só para quem tem rendimentos anuais acima 12 mil euros). O governo grego afirma no documento que apresentou em Bruxelas que a maior fonte de receitas será obtida através da reforma do IVA, e é aqui um dos pontos que gerou controvérsia. Bruxelas não aceitou, pedindo que aumentassem a taxa sobre a energia para 23% e aumentassem a taxa sobre os medicamentos, bem como impostos incidissem mais sobre as pessoas, e não sobre as empresas. Mas isso é como pedir a uma Testemunha de Jeová para fazer uma transfusão de sangue. Estamos a falar de um partido de esquerda radical, que tem uma ideologia, e obviamente não podemos estar à espera que as propostas fossem muito diferentes das apresentadas, bem que algumas até podiam ser mais radicais, e foram defendidas dentro do Syriza. Alguma surpresa? Não parece. Será que a Europa estava e está preparada para implementar novas políticas alternativas à política atual ? Também não parece. Mas chegar aqui, em termos políticos, seria uma inevitabilidade (alternativas políticas), mas não seria inevitável haver um consenso que evitasse mais uns tempos de turbulência na Europa.
O referendo político, mesmo havendo um "sim" ou um "não", poderá não ser a melhor solução, e indicia que algo vai mal no seio do próprio parlamento grego, principalmente na bancada do Syriza, e aí poderá estar a origem desta iniciativa. A sua legitimidade não se questiona, mas lançar mão deste instrumento apenas neste momento (a 3 dias do programa de financiamento terminar) é pouco sensato. E qualquer um dos cenários é no mínimo "embaraçoso", Caso ganhe o "não", a Grécia poderá ter de sair mesmo do Euro, a não ser que tudo o que se passa em Bruxelas seja uma encenação, que não podemos acreditar. Se ganhar o "sim", vamos ter um Governo a negociar com Bruxelas propostas com as quais não concorda, o que é insustentável em termos políticos.